Por Roberto Samora e Leticia Augusto
SÃO PAULO (Reuters) -A safra de café do Brasil em 2024 deve atingir 58,81 milhões de sacas de 60 quilos, um aumento de mais de 700 mil sacas em relação ao projetado em janeiro, o que indica a terceira maior colheita da história do país, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentados nesta quinta-feira.
Se a previsão for confirmada ao final da safra, o maior produtor e exportador global de café teria ainda o terceiro aumento consecutivo na colheita, algo raro em mais de 140 anos de história da cafeicultura do Brasil, conforme levantamento da Reuters publicado neste ano.
A previsão da Conab indica alta de 6,8% em relação a 2023, um ano de safra de bianualidade negativa, mas quando parte das lavouras estava com o ciclo invertido, após eventos climáticos como seca e geadas. Em geral, o ano de 2024 é considerado um período de alta para as áreas do arábica do Brasil.
O volume previsto para 2024 só fica atrás, pelos números da Conab, do recorde registrado em 2020 (63,08 milhões de sacas) e de 2018 (61,66 milhões de sacas). A estatal comumente apresenta números mais conservadores do que as estimativas do mercado, que são maiores.
Com a recuperação da safra de café do Brasil nos últimos anos, o Brasil deverá fechar o ano comercial 2023/24 (julho/junho) com exportações recordes, na avaliação de exportadores ouvidos pela Reuters na quarta-feira.
A colheita de café árabica, que deve responder por mais de 70% do volume estimado pela Conab para a produção total, começou há pouco no país, com algumas regiões produtoras registrando colheita em pouco menos de 10% do total previsto.
A produção de café arábica deve alcançar 42,1 milhões de sacas, acima das 40,75 milhões de sacas da projeção passada e com alta de 8,2% sobre a safra anterior.
Já a safra das variedades canéforas (conilon/robusta) é esperada em 16,7 milhões de sacas, com queda frente à projeção anterior de 17,33 milhões de sacas, mas crescimento de 3,3% contra a produção de 2023.
Segundo a Conab, o conilon deverá apresentar sua segunda maior safra da série histórica, fruto de “bom aporte tecnológico nas lavouras e condições climáticas melhores que as proporcionadas na safra passada”.
A Conab manteve sua previsão de área total no país em 2,25 milhões de hectares, enquanto elevou a estimativa para produtividade média nacional para 30,9 sacas por hectare, ante 30,3 sacas/hectare na estimativa do início do ano.
REDUÇÃO DA PENEIRA
Apesar de elevar a estimativa de produção do Brasil, a Conab citou em relatório que uma restrição de chuvas e o calor excessivo durante o desenvolvimento da safra resultaram em “peneiras” menores — ou grãos mais miúdos — do que a média, o que pode impactar o volume final da safra.
Essa questão vem sendo motivo de preocupação, conforme afirmaram produtores durante o Seminário Internacional do Café, realizado em Santos, esta semana.
Segundo o superintendente comercial da Cooxupé, Luiz Fernando dos Reis, a cooperativa já verificou em alguns lotes recebidos da safra nova que os grãos “realmente estão apresentando problema de peneira”.
“Estão mais miúdos em relação ao ano passado, quando tivemos um ano bom de peneira”, afirmou, notando que é prudente aguardar antes de se fazer qualquer estimativa, já que a colheita está apenas no início.
“Acho que temos de esperar um poquinho, avançar um pouco mais… Aparentemente vamos ter sim um percentual de peneira menor do que a média dos últimos anos… Para poder projetar alguns números melhores, e se isso vai ter algum impacto na produção final, temos de aguardar.”
Ele comentou que, se isso se confirmar, o mercado poderia passar a pagar prêmios melhores pelos grãos mais graúdos.
Para Guilherme Rezende, diretor comercial da Minasul, cooperativa também situada no sul de Minas Gerais, havia inicialmente expectativa de aumento de até 15% nos recebimentos de café em 2024. “Mas agora tem que ver o rendimento se vai afetar ou não”, disse.
“As peneiras estão muito baixas, isso pode afetar no rendimento, vai ter que aguardar para a gente saber qual o tamanho da quebra da safra, para saber se vai ser tendência”, afirmou, concordando que a situação ficará mais clara com o desenvolvimento da colheita.
(Por Letícia Fucuchima e Roberto SamoraEdição de Alberto Alerigi Jr. e Pedro Fonseca)