O plantio de algodão já avança, na maioria dos estados produtores da fibra no Brasil, na safra 2023/2024, e a expectativa da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) é de aumento de área e produção, em relação à – então recorde em volume e produtividade – safra 2022/2023. Os números do último levantamento do ciclo em curso e a expectativa para o próximo foram discutidos, nesta quarta-feira (06/12), durante a 73ª Reunião da Câmara Setorial do Algodão e derivados, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), na sede do órgão federal, em Brasília.
De acordo com a Abrapa, o país deve plantar 1,87 milhão de hectares com a cultura, e colher em torno de 3,37 milhões de toneladas do produto beneficiado (pluma), caso se confirme a produtividade média, esperada em 1.805 quilos de pluma por hectare, um número 7,5% menor que o obtido no período anterior, que foi de 1.954 quilos por hectare. O clima, sobretudo, pode responder pela redução, por conta do atraso das chuvas em algumas regiões. Os dados apresentados hoje ainda podem mudar, com a perspectiva de incremento de área em alguns estados.
A Câmara Setorial do Algodão congrega representantes de diversos elos da cadeia produtiva, e tem sido, há vários anos, presidida pela Abrapa, cuja cadeira, atualmente, é ocupada pelo presidente Alexandre Schenkel. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) também têm lugar de destaque no foro, que é um dos 38 do gênero, nos diversos setores da agricultura, definidos pelo Mapa.
De acordo com Schenkel, o Brasil confirmou, na safra 2022/2023, 1,67 milhão de hectares plantados com algodão, que resultaram num volume de 3,26 milhões de toneladas, com uma produtividade média, considerada excepcional, de 1.954 quilos de algodão colhidos a cada hectare.
Escalada histórica
“Esse desempenho, e as questões conjunturais, permitiram ao nosso país subir mais um degrau no ranking mundial dos países produtores, superando os Estados Unidos. Um feito inédito até então”, afirma o presidente da Abrapa. Os dois maiores produtores mundiais foram, respectivamente, China, com 5,87 milhões de toneladas, e Índia, com 5,44 milhões de toneladas.
Outro feito histórico, apontado pelo presidente da associação dos produtores, foi o fato de que, ainda que por questões contingenciais e não definitivas, o Brasil também superou o gigante americano no volume de exportações e subiu, pela primeira vez, ao topo do ranking mundial dos maiores supridores globais.
“Nossa meta sempre foi conservadora, no que diz respeito ao prazo que imaginávamos alcançar a liderança global em exportações, que era em 2030. Mas isso deve acontecer muito antes, pois estamos incrementando a nossa produção ano a ano, ao passo em que os Estados Unidos, por uma série de motivos, devem diminuir”, ponderou Schenkel. “Mas é essencial destacar a importância desses dois países na promoção do algodão, como uma matéria-prima em linha com os anseios dos tempos que vivemos: natural, reciclável e, no caso do Brasil, feita em moldes altamente sustentáveis”, enfatizou.
Logística desafiadora
As exportações da safra 2022/2023 estão em cerca de 35%. De julho a novembro deste ano, o Brasil enviou ao mercado externo cerca de 850 mil dos 2,4 milhões de toneladas que devem ser embarcadas até junho de 2024, em uma média de 250 mil toneladas por mês no período. Com a “safra grande”, os problemas logísticos foram mais recorrentes em 2023, em relação ao ciclo de recordes anterior, em 2019/2020. De acordo com o presidente da Anea, Miguel Faus, em novembro de 2023, o país embarcou 253 mil toneladas, contra 333 mil em novembro de 2020.
“Não foi um número ruim, mas precisamos pensar que a próxima safra será um pouco maior, e esse aumento na produção, ao que tudo indica, será constante, nos anos seguintes e precisamos estar preparados”, afirma Faus, destacando, como pontos de melhorias a serem implementados, em curto prazo, a disponibilização, pelo Mapa, de mais fiscais agropecuários, o aumento de terminais com a habilitação de Recinto Especial para Despacho Aduaneiro de Exportação (Redex), além do desenvolvimento de alternativas ao Porto de Santos, que hoje responde por mais de 98% dos embarques da safra de algodão.
Durante a reunião da Câmara, o economista, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e agora consultor, Luiz Antônio Pagot, fez uma breve apresentação da situação logística para o algodão, e as alternativas de solução dos gargalos, exequíveis em médio prazo para a inclusão de mais modais logísticos, entre rodovias, portos e ferrovias. Uma das possibilidades é a realização de operações de alfandegagem fora de Santos, como o exemplo, também apresentado na reunião, do Porto Seco Centro Oeste, de Anápolis.
Indústria Têxtil
Do lado da indústria, foram mais de cinco mil empregos formais gerados no setor no período, com “expectativa não necessariamente negativas”, para 2024, mas, ainda, com muitas incertezas, segundo a Abit. A previsão de crescimento é de cerca de 1%, portanto, abaixo do incremento do PIB, esperado em 1,9%. “Vamos fazer o nosso melhor para termos números mais favoráveis, em 2024”, diz Fernando Pimentel, diretor superintendente e presidente emérito da Abit.
Para Pimentel, 2023 foi muito difícil para a indústria. “O ano encerra com muita luta. O setor têxtil fecha no zero a zero. A confecção operou no negativo, o que é muito ruim e foi fruto de um consumo que ainda patina, e da concorrência desleal com os sites estrangeiros, que não pagam impostos nas pequenas encomendas até 50 dólares. Esse quadro afetou o resultado das companhias. Por outro lado, ainda conseguimos, até agora, gerar postos formais de trabalho”, considera.
Para mudar o quadro, Pimentel afirma que “Precisamos reduzir o custo Brasil, avançar na agenda da competitividade e da produtividade, e em uma série de questões que sabemos ser necessárias, mas temos dificuldade de realizar na velocidade certa”, finalizou.