Por Nayara Figueiredo
SÃO PAULO (Reuters) – As exportações de algodão do Brasil caminham para encerrar o ano comercial de 2022/23, em junho, com queda em torno de 10% ante o ciclo anterior, com recuos inesperados nas compras de alguns dos principais países importadores frustrando a expectativa de produtores de superar os Estados Unidos e alcançar a liderança mundial de vendas externas em 2023.
Em entrevista à Reuters, o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Miguel Faus, disse que uma combinação de fatores derrubou as exportações brasileiras em mais de 50% no primeiro trimestre, mas acredita que se trata de uma situação passageira.
“Uma redução dessa magnitude não estava nos planos”, disse Faus. “Não era esperado.”
No acumulado de janeiro a março, o Brasil exportou 243 mil toneladas de algodão, recuo de 56% ante igual período do ano passado. Somente em março, as vendas externas chegaram a baixar 59,2%, para 76 mil toneladas, segundo dados do Ministério da Agricultura divulgados na segunda-feira.
Com isso, o presidente da Anea projeta exportações de 1,55 milhão de toneladas para o ano comercial de 2022/23 (de julho a junho), número que “não vai ser muito fácil de conseguir”.
Se confirmado, o resultado ainda ficará abaixo do total de 1,725 milhão de toneladas do ciclo anterior, de acordo com a associação.
Segundo Faus, a conjuntura que levou a este desempenho passa pelos impactos de uma crise financeira em países como Paquistão e Bangladesh, cujos importadores estão com dificuldades para conseguir cartas de crédito necessárias para manter as negociações com as tradings.
“Quem suspende embarque é a trading, porque se o comprador não tiver com a carta de crédito, você simplesmente não embarca… Alguns contratos foram cancelados também, aconteceu um pouco de tudo”, explicou.
Houve ainda um terremoto na Turquia em fevereiro que contribuiu para que os embarques ao país diminuíssem e, além disso, um movimento de diminuição nas compras de um importante importador, a China.
“Os chineses estão reduzindo embarques, comprando de outras origens… Aumentaram um pouco as compras do algodão americano e reduziram as nossas”, disse ele.
“Também surpreendeu para nós que a China reduzisse as compras do algodão brasileiro”, admitiu o executivo, que atualmente está no país asiático em missão para promover a pluma do Brasil.
A missão que passa pela China e Coreia do Sul já estava marcada, independente do desempenho das exportações, mas também servirá para que os exportadores entendam qual é a atual situação do mercado chinês, disse ele, que é destino de 33% do algodão brasileiro.
Em paralelo a estas particularidades no comportamento dos compradores, o presidente da Anea também cita o cenário de alta de juros e inflação como outros agravantes para o consumo.
“O derivado de algodão é um produto que pode ser adiado pelo comprador. Isso fez com que a demanda caísse um pouco nesse início de ano”, comentou.
Em dezembro de 2022, reportagem da Reuters mostrou que produtores brasileiros da pluma estavam esperançosos sobre o ano que viria, diante de um aumento projetado para a área plantada na safra 2022/23, versus uma redução de semeadura esperada para seu principal concorrente, os Estados Unidos. Esta combinação poderia dar ao Brasil a primeira posição enquanto exportador da commodity, uma perspectiva que não se confirmou.
Apesar destes gargalos, Faus é otimista e projeta uma recuperação no mercado para a próxima temporada, de 2023/24.
“A gente espera que seja uma questão temporária e que as vendas voltem ao pico”, afirmou, sem detalhar se ainda há possibilidade de alcançar uma liderança global no curto prazo.
REAÇÃO
Considerando a questão dos atrasos em alguns embarques para importadores que tiveram problemas com tradings, o executivo acredita que uma reação pode acontecer entre abril e junho, ajudando o país a encerrar o ciclo com a expectativa de 1,55 milhão de toneladas embarcadas.
Para ele, esta recuperação nas vendas ainda pode se estender por agosto e setembro, sinalizando uma entrada positiva na temporada de 2023/24, apoiada também por uma colheita cheia nas lavouras que agora estão em desenvolvimento.
“Temos uma previsão de safra grande… e como o clima tem ajudado, a gente acredita que o número de produção de pluma vai estar mais perto de 3 milhões de toneladas”, estimou, citando dados da associação brasileira de produtores Abrapa.
A expectativa é mais favorável que a da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que projeta a produção de pluma em 2,73 milhões de toneladas neste ano, 7% acima do ciclo anterior.
Desta forma, a perspectiva da Anea para as exportações do ano comercial de 2023/24 é de 2,3 milhões de toneladas, superando com folga os embarques do ciclo atual e se aproximando do recorde de 2,414 milhões obtido em 2020/21.
“O Brasil naquele ano colheu uma safra recorde e tinha demanda… Isso a gente consegue repetir. A gente espera que no próximo ciclo de 23/24 a gente se aproxime desse recorde.”
(Reportagem de Nayara Figueiredo)