El Niño causa disparidades no plantio da soja do MT, ameaça milho safrinha

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Por Ana Mano e Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A intensidade do fenômeno climático El Niño, que afetou o regime de chuvas nas principais regiões produtoras de soja do Brasil, tem causado disparidades na velocidade do plantio e pode impactar a semeadura do milho safrinha, que é cultivado depois da safra da oleaginosa, de acordo com sojicultores e especialistas.

O risco para a segunda safra de milho, a maior do Brasil, cresce em áreas em que pode haver replantio de soja, especialmente nas lavouras onde o calor excessivo e a irregularidade das chuvas prejudicou a germinação da oleaginosa.

Além de custos adicionais para os produtores que fizerem replantio, o El Niño traria outro risco para produtores.

“Já estamos apertando o calendário neste sentido, e o El Niño pode diminuir a chuva da forma antecipada”, disse a meteorologista Desirée Brandt, da Nottus, lembrando que na região Centro-Oeste as precipitações diminuem quanto maior for a proximidade do inverno.

Cayron Giacomelli, produtor da região Médio-norte de Mato Grosso, disse à Reuters nesta sexta-feira já ter semeado toda a sua área de soja, mesmo diante da possibilidade de ter de refazer o trabalho por causa da falta de umidade este ano.

“Está bem seco na nossa região. Conheço produtores que plantaram muito pouco, e o replantio está presente em grande parte das áreas por aqui”, disse ele.

Giacomelli não precisou replantar em sua área, mas há talhões na propriedade em que muitas plantas pereceram, afirmou.

Segundo a meteorologista da Nottus, mesmo que os mapas estejam mostrando um acumulado expressivo de chuva nos últimos dias, é preciso atentar-se à “qualidade desta chuva”.

“Os bons volumes estão muito pontuais e tem feito calor, corre-se o risco do replantio”, disse ela, ressaltando que na próxima semana se espera “uma condição melhor de chuva” em Estados como Goiás e Mato Grosso, dois grandes produtores do Centro-Oeste que vêm sofrendo com a disparidade das precipitações.

Ela calcula que, na média, a semeadura de soja possa estar com 15 dias de atraso em relação ao ciclo passado. “Ano passado, nesta época, a gente já estava com a chuva bem mais espalhada. Ano passado a gente tinha um La Niña e este ano temos um El Niño.”

O plantio de soja em Mato Grosso, que já estava atrás do ritmo de 2022, passou a ficar também atrasado ante a média histórica para o período, apontaram nesta sexta-feira dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Produtores semearam 70% da área prevista, versus 83,45% no mesmo período do ano passado.

“BEM COMPLICADO”

As anomalias, diz Brandt, não se restringem ao Mato Grosso e Goiás, mas também a algumas áreas do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde em 2022 as regiões produtoras já haviam recebido muito mais umidade.

Marcos da Rosa, produtor da região de Canarana, no leste mato-grossense, disse que muitos ali plantaram “sem a perspectiva de chuva”.

Ele mesmo teve de parar a semeadura por cerca de oito dias e retomou os trabalhos nesta semana.

“De ontem para hoje choveu bem, pensei que fosse uma chuva que pegou toda a região, mas a 130 km daqui não choveu… As coisas ainda continuam desparelhas.”

Rosa comentou que, até a última terça-feira, em Canarana, havia produtores que nada tinham plantado e outros com 100% da área semeada.

Em Nova Xavantina, também no leste do principal Estado agrícola do Brasil, o produtor Endrigo Dalcin descreveu o começo de safra como “bem complicado”.

“Agosto deu umas chuvas, setembro deu umas chuvas também. A gente conseguiu iniciar um pouco mais cedo. Só que cortou a chuva, está muito irregular. Tem lugar que está chovendo e tem lugar que não está chovendo, na mesma fazenda.”

Ele também precisou parar o plantio por dez dias.

“Agora está chovendo um pouco mais, um volume maior, uma área maior, mas não regularizou ainda. O pessoal está bastante preocupado.”

Em função do atraso no plantio da soja, Dalcin prevê que o plantio do milho safrinha vá ser prejudicado. Com isto, muitos produtores devem optar por plantar o gergelim, que tem um risco bem menor, disse Dalcin.

(Por Ana Mano e Roberto Samora)

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