Mato Grosso já colhe soja em meio a desafios climáticos, plantio de algodão avança

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Por Ana Mano e Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – Alguns produtores de Mato Grosso, principal Estado agrícola do Brasil, já começaram a colheita de soja da safra 2023/24, uma temporada marcada pelo clima quente e seco que acelerou o ciclo da cultura ao mesmo tempo em que reduziu as produtividades, segundo relatos colhidos pela Reuters.

Até a última sexta-feira, o sojicultor mato-grossense já havia colhido cerca de 1% da área plantada no Estado, ou algo como 121 mil hectares, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), vinculado aos agricultores.

Isto representa um início da colheita historicamente prematuro, com atípicos registros de índices antes mesmo do Natal. Na mesma época do ano passado, produtores ainda não tinham iniciado os trabalhos, segundo dados do Imea.

“Pela primeira vez iniciamos a colheita da soja em dezembro”, disse José de Macedo Soares, que planta na região de Lucas do Rio Verde.

Devido ao estresse hídrico na atual temporada, ele disse que as produtividades são as mais baixas dos últimos 40 anos na sua região.

Fustigados pelo efeito do El Niño, que trouxe seca no Centro-Oeste e chuvas no Sul, alguns produtores mato-grossenses foram obrigados a colher a soja mais cedo ou simplesmente abandonar as lavouras, enquanto outros farão um plantio um pouco antecipado do algodão segunda safra, possibilitado pela antecipação da colheita da soja.

“Muitas áreas de soja, principalmente de produtores de algodão segunda safra, chegaram a ser abandonadas”, disse Macedo. “Não compensavam os custos de colheita, devido às baixíssimas produtividades esperadas.”

Décio Tocantins, diretor-executivo da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), disse que produtores no Estado estão vivenciando uma situação “paradoxal”.

“O plantio da primeira safra de algodão foi um pouco atrasado, e o da segunda antecipado, porque a soja antecipou o ciclo (pela seca).”

O algodão segunda safra é o mais importante em Mato Grosso, também o maior produtor da pluma do Brasil, uma vez que responde por cerca de 85% da colheita da fibra mato-grossense.

Uma antecipação da segunda safra de algodão pode ser favorável, já que em “um ano maluco como este, com o El Niño vigente, a gente tem bastante receio que haja antecipação no corte das chuvas”, notou Tocantins.

O diretor da Ampa, que trabalha no setor em Mato Grosso há 42 anos, disse que os produtores de lá nunca vivenciaram tanto atraso nas chuvas. “Não existe este histórico no Cerrado, e a lavoura começou nos anos 80…”

“Em setembro, ninguém dizia que teria um atraso nas chuvas como este. A gente não previu um El Niño tão vigoroso como este”, comentou.

Enquanto algumas fazendas já colhem a soja em Mato Grosso, em outras o plantio sequer terminou, gerando dúvidas quanto à produção e produtividade geral no Estado.

Na região de Nova Xavantina, o produtor Endrigo Dalcin ainda está finalizando a semeadura.

“Estávamos plantando quando parou de chover, foi difícil de instalar as lavouras”, disse ele. “Vou levar mais uns três ou quatro dias replantando a soja. Vai ser um ano de prejuízo grande aqui na nossa região.”

Para Dalcin, a situação é mais grave na atual temporada do que no ciclo 2015/16. Ele se recorda de chuvas fracas durante o plantio há oito anos, mas conta que as precipitações melhoraram em dezembro.

Neste ano, contudo, as chuvas seguiram fracas também no último mês do ano.

“Já vi no Mato Grosso relato de 7 a 30 sacas por hectare… As variedades precoces vão sentir bastante. Acredito numa quebra de 10 milhões de toneladas, fácil, fácil.”

De acordo a estimativa de safra mais recente do Imea, divulgada no início do mês, a média de produtividade esperada no Estado é de 57,87 sacas de 60 kg por hectare, com queda de 7% no comparativo anual.

Mas isso foi antes de as lavouras se deteriorarem em muitas áreas, já que chuvas não se confirmaram em várias regiões.

No início do mês, o Imea projetou em sua estimativa mensal a safra de Mato Grosso em 42,1 milhões de toneladas, recuo anual de 7%, considerando uma área plantada praticamente estável.

(Por Ana Mano e Roberto Samora)

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