Depois de três anos com La Niña frustrando a safra de grãos no Sul do Brasil, o setor produtivo do país agora está com as atenções voltadas para a região Centro-Oeste que pode sentir de forma negativa os efeitos do El Niño. Segundo Felippe Reis, analista de safra da EarthDaily Agro, o momento atual é de muita atenção com o fenômeno climático que está ativo desde junho e que continua ganhando força. Os principais institutos mundiais de meteorologia indicam que o pico do El Niño de acontecer no último trimestre deste ano, persistindo pelo menos até fevereiro de 2024.
“Pode ser um El Niño significativamente forte e quando falamos disso para o Brasil, estamos falando de temperaturas acima da média. Se tivermos essa confirmação, a temperatura acima da média aumenta evapotranspiração e se nós não tivermos boas chuvas, isso vai resultar em baixa umidade do solo”, afirma o especialista que acompanha diariamente os principais modelos meteorológicos nacionais e internacionais.
Felippe explica ainda que essa condição de altas temperaturas e baixa umidade do solo pode impactar diretamente o índice de vegetação (NDVI) das lavouras de soja, que tem alta relação com a produtividade da safra. “Se você tiver uma baixa umidade do solo, você terá uma baixa NDVI e consequentemente uma baixa produtividade”, afirma.
O grande desafio, segundo o analista, será para o produtor do Centro-Oeste, com destaque para Mato Grosso e Goiás. Os modelos meteorológicos já indicam que nos próximos três meses os dois estados podem ter chuvas abaixo da média, além das temperaturas acima da média.
“Isso pode fazer com que os produtores do Centro-Oeste tenham um plantio tardio. A estação das águas pode começar um pouquinho mais tarde que o normal e chuva abaixo da média. Isso se acontecer pode atrapalhar a janela do milho safrinha também. Para a soja, o risco é de baixa umidade do solo e isso também já pode comprometer o desenvolvimento das lavouras”, explica o especialista. Ressalta ainda que as previsões estão sendo atualizadas diariamente, mas que o produtor precisa estar atento às essas condições para não plantar “no pó” e ter prejuízos ainda mais expressivos.
O modelo americano prevê chuvas entre 40mm e 50mm abaixo da média em áreas do Mato Grosso e de Goiás nos próximos três meses. No caso das temperaturas, o modelo mostra máximas até 50% acima da média do esperado para os próximos três meses.
Já para o Sul do Brasil, Felippe destaca que depois de anos de produção frustrada, o produtor poderá ter uma recuperação, mas o excesso de chuvas que deve chegar junto ncom o El Niño. Os modelos mostram até 50% de chance de chuva acima da média esperada, com destaque para o Rio Grande do Sul que deve receber os volumes mais significativos de chuva.
“Depois de quatro ciclos do milho e três ciclos da soja, o Sul não deve ter problema com falta de água. Por outro lado, o produtor precisa ficar atento que o excesso de umidade pode facilitar a entrada de doenças”, finaliza.
Veja os mapas abaixo: