Usina de Goiás alcança liderança nacional de produtividade a partir da adoção de pacotes tecnológicos do IAC

Há 13 anos a Usina Denusa, no clima árido de Goiás, tinha uma produtividade média de 50 toneladas, por hectare, de cana-de-açúcar. A parceria com o Instituto Agronômico (IAC-APTA), iniciada em 2011, a levou a adotar os pacotes tecnológicos desenvolvidos pelo Programa Cana IAC e este ano a empresa ocupa a liderança nacional de produtividade com modernidade pelo Índice IAC, conforme resultado do levantamento feito pelo Programa Cana IAC em dez regiões canavicultoras brasileiras. A Denusa também lidera a produtividade em Goiás e Tocantins. Todas as campeãs de cada região também levaram o Prêmio IAC de Produtividade com Modernidade, no último dia 14, em Ribeirão Preto, interior paulista.

Responderam ao questionário 219 usinas, destilarias e grandes produtores que respondem por 62% da produção brasileira e 59% da área de cana. Os resultados foram apurados considerando a quantidade de açúcar produzida, por hectare, e a adoção de variedades modernas de cana.

“Ficamos gratos com o prêmio não só pela produtividade, mas também pelo fato de a Denusa ser uma usina que há 13 anos tinha uma produtividade média de 50 toneladas, por hectare, e saltou para a maior produtividade do Brasil em toneladas de açúcar por hectare. É muito gratificante, ainda mais com o apoio do IAC, que a partir de 2011 passou a nos trazer as informações sobre variedades e nós conduzimos essas informações”, comenta Antônio Carlos de Oliveira Junior, gerente de planejamento agrícola da Denusa.

Ele relata que, naquela época, a Denusa tinha 75% de seus campos concentrados em três variedades de cana apenas – uma que ainda é muito plantada no Brasil e duas que não são mais cultivadas. O primeiro passo, lembra o gerente, foi a mudança do plantel varietal. “Tínhamos as variedades IACSP95-5000 e a IAC91-1099, colocamos no viveiro e tivemos evolução de 1 para 50, na época. Em um ano nós fizemos duas colheitas de mudas.”

A unidade seguia recebendo mais informações e outras variedades novas. Fez-se também a introdução do manejo de matriz bidimensional, em que é feita primeiramente a colheita dos piores ambientes no início de safra, depois os médios e por último a colheita nos melhores ambientes. “De 2011 a 2015 nós ganhamos 35 toneladas de cana a mais – saímos de 50 para 85 toneladas de média somente aplicando a matriz bidimensional – sem adição de adubos, sem melhoria na nutrição e sem correção de solo. A matriz bidimensional proporciona um ganho muito grande em TCH e longevidade do canavial”, destaca.

A partir de 2015, com o avanço na produtividade e o reforço no caixa da Denusa, foi dado o passo para melhorar a nutrição do solo e da planta. “Fizemos a classificação de solo e ambientes de produção com base em treinamento feito em Piracicaba, com o pesquisador do IAC, Hélio do Prado. “Trabalhamos noventa dias direto fazendo amostragem de solo, classificando o solo e o ambiente de produção e enviando para análise do pesquisador. O terceiro passo foi a introdução do Sistema do Terceiro Eixo, que considera o estágio de corte na estratégia de produção”, comenta.

Ao elencar as tecnologias que o IAC levou para a empresa, Oliveira Junior também ressalta o Sistema de Mudas Pré-Brotadas (MPB). A Denusa tem um núcleo de produção de MPB com capacidade para produzir até oito milhões de mudas.

“Além da introdução de novas variedades, que trouxe a sustentação no nosso manejo, destaco também o entendimento do encaixe de cada variedade para a matriz tridimensional de colheita e o ambiente de produção. Não se sabia o que era ambiente de produção dentro da Denusa”, comenta Oliveira Junior sobre os pilares de tecnologias IAC que elevaram a usina goiana ao patamar de líder estadual e nacional.

Ele conta que até firmar parceria com o IAC, a usina tinha três variedades antigas, que não geravam produtividade alguma – pelo contrário – tinha decréscimo de produtividade de 25% a 30% por ano! “Hoje a usina tem variedade que apresenta queda de produtividade inferior a 8% de um corte para outro, índice considerado normal pelo Landell (pesquisador e diretor-geral do IAC)”, diz.

Atualmente, no enfrentamento da podridão da casca, a equipe da usina conta com apoio do pesquisador do IAC, Ivan Antonio dos Anjos.

Regiões resistentes a novas tecnologias apresentam piores resultados

Goiás e Minas Gerais iniciaram no cultivo de cana há cerca de dez anos. É a chamada nova fronteira. Estabelecida no bioma Cerrado, essa canavicultura apresenta resultados superiores aos do estado de São Paulo, mais tradicional nesse segmento e também mais resistente às novas tecnologias desenvolvidas e preconizadas pelo Programa Cana IAC.

“Essas regiões tendem a ter maior abertura a tecnologias porque já trabalhavam com soja e milho, que têm alto emprego tecnológico. Com a chegada da cana, eles estavam mais abertos aos novos recursos ofertados pelo IAC”, comenta o estatístico e consultor do programa Cana IAC, Rubens Braga Jr, responsável pelo levantamento.

Ele conta que algumas empresas paulistas adotaram também os resultados de pesquisas do IAC, mas – na média – as unidades paulistas são mais resistentes frente à adoção de novas recomendações. “Goiás e Minas estão suplantando o estado de São Paulo em termos médios de produtividade”, afirma.

As regiões paulistas de Assis, São José do Rio Preto e Ribeirão Preto têm bons resultados em produtividade. Já Araçatuba, Jaú e Piracicaba apresentaram produtividade muito baixa na safra 2022/2023. “Essas três regiões de São Paulo, mais tradicionalistas e com resultados inferiores, são onde o Programa Cana IAC tem mais dificuldade de entrar com suas tecnologias”, diz.

Como foi o levantamento

O Programa Cana IAC pesquisou, a partir de um questionário, e obteve informações de 219 usinas, destilarias e grandes produtores, cenário que representa mais da metade das unidades produtoras de cana-de-açúcar no território nacional.

As localidades levantadas e as campeãs foram: no estado de São Paulo, as regiões de Araçatuba (Diana Bioenergia), Assis (Tarumã, do Grupo Nova América), Jaú (Ferrari, do Grupo Ferrari), Piracicaba (Santa Maria, do Grupo J. Pilon), Ribeirão Preto (Santa Elisa, do Grupo Raízen) e São José do Rio Preto (Irmãos Paro); Estados do Norte e Nordeste exceto Alagoas, que foi considerada uma região específica no levantamento (Maity Bioenergia, do Maranhão); Estados de Goiás/Tocantins (Denusa); Matos Grosso/Mato Grosso do Sul (Rio Brilhante, do Grupo Raízen); Minas Gerais/Espírito Santo (Uberaba, do Grupo Balbo) e Estado do Paraná (Jacarezinho, do grupo Maringá. Alguns estados foram agrupados em função do pequeno número de respostas.

Em sua primeira edição, o Prêmio buscou identificar os produtores de cana que se destacam no setor sucroenergético pela produtividade e também pela adoção de novas variedades de cana-de-açúcar.

O Índice IAC de Produtividade com Modernidade (IIPM) é elaborado a partir de dois fatores: toneladas de açúcar por hectare dos cinco primeiros cortes (TAH5) e a idade média das variedades plantadas (número de anos após a liberação varietal – ILV). Para isso, as usinas que participaram da pesquisa enviaram suas planilhas de produção e produtividade da safra 2022/23 e do Censo Varietal desta mesma safra. As participantes devem ter produção superior a 350 milhões de toneladas de cana.

“A adoção do manejo e de variedades modernas seguramente geram retorno do investimento econômico e ambiental, garantindo a sustentabilidade para as empresas”, diz Braga Jr.

Confira o resultado por usina:

Líder nacional – Goiás/Tocantins: Denusa Destilaria Nova União do estado de Goiás

TAH5: 14,33 ILV: 12,11 IIPM: 11,91

Estado de São Paulo:

Região de Araçatuba – Diana Bioenergia do estado de São Paulo

TAH5: 11,50 ILV: 13,25 IIPM: 8,85

Região de Assis – Tarumã do Grupo Nova América do estado de São Paulo

TAH5: 13,65 ILV: 11,21 IIPM: 11,40

Região de Jaú – Ferrari do Grupo Ferrari do estado de São Paulo

TAH5: 11,31 ILV: 11,88 IIPM: 8,94

Região de Piracicaba –Santa Maria do Grupo J. Pilon do estado de São Paulo

TAH5: 12,25 ILV: 11,42 IIPM: 9,96

Região de Ribeirão Preto – Santa Elisa do Grupo Raízen do estado de São Paulo

TAH5: 13,56 ILV: 12,77 IIPM: 11,01

Região de São José do Rio Preto – Irmãos Paro do estado de São Paulo

TAH5: 12,70 ILV: 14,74 IIPM: 9,75

Outros estados:

Minas Gerais/Espírito Santo – Uberaba do Grupo Balbo do estado de Minas Gerais

TAH5: 13,56 ILV: 12,05 IIPM: 11,14

Mato Grosso/Mato Grosso do Sul – Rio Brilhante do Grupo Raízen do estado do Mato Grosso do Sul

TAH5: 13,36 ILV: 16,33 IIPM: 10,09

Paraná – Jacarezinho do Grupo Maringá do estado do Paraná

TAH5: 11,37 ILV: 16,12 IIPM: 8,15

Alagoas: Marituba do Grupo Carlos Lyra do estado de Alagoas

TAH5: 11,02 ILV 17,97 IIPM: 7,43

Norte e Nordeste – Maity Bioenergia do estado do Maranhão

TAH5: 11,28 ILV: 23,99 IIPM: 6,48

 

*TAH5 – Toneladas de ATR por hectare na média dos 5 primeiros cortes

ILV – Índice de Liberação Varietal

IIPM – Índice IAC de Produtividade com Modernidade

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