A saída da Rússia de um acordo de exportação de grãos no Mar Negro, anunciada em 17 de julho, teve um impacto inicial nos preços do trigo em Chicago, mas essa pressão vem se amenizando nos últimos dias, apesar da decisão russa permanecer em vigor até o momento. Agora, a questão que surge é se essa situação pode potencialmente levar a um novo aumento nos preços dos alimentos em nível global, embora possivelmente menor do que o ocorrido no ano passado.
Em primeiro lugar, a possibilidade de futuros ataques russos à infraestrutura de escoamento da produção ucraniana – como rodovias, ferrovias e modais de exportação alternativos ao Mar Negro – pode reduzir ainda mais a capacidade da Ucrânia de ser um fornecedor global, algo que ainda não foi completamente considerado. A Ucrânia é essencial para muitos países, especialmente os próximos ao Mar Negro, devido à dependência de importações de grãos e à vantagem logística de proximidade.
No entanto, há diferenças em relação ao ano passado e fatores que mitigam possíveis choques de preços nos grãos, especialmente trigo e milho:
1º – A Ucrânia reduziu sua produção, mas manteve suas exportações por meio de estoques e redução do consumo interno.
2º – A oferta global de trigo aumentou em 2022/23, compensando as reduções em outros lugares.
3º – Previsões indicam uma boa produção global de trigo e milho em 2023/24, apesar do risco de perdas devido ao El Niño em países asiáticos.
4º – Rotas alternativas de escoamento, embora mais caras e menos eficientes, estão funcionando e podem continuar sendo usadas.
5º – As implicações econômicas diferem entre os importadores de grãos e os países produtores, como o Brasil. Apesar da redução da produção ucraniana, os estoques elevados e o uso de rotas alternativas abasteceram os importadores, e a possibilidade de menores exportações ucranianas pode ser compensada por safras melhores em outras regiões.
Embora a situação exija monitoramento, os riscos inflacionários para o Brasil são limitados, graças à oferta de trigo nacional e argentino, além da disponibilidade de milho. No entanto, caso o fluxo pelo Mar Negro permaneça bloqueado, outros países, como EUA e Brasil, poderiam ser fornecedores alternativos. Além disso, a normalidade no fluxo de fertilizantes indica que não há riscos imediatos de escassez.
A incerteza permanece em relação ao desenrolar dessa situação, mas os mercados estão atentos às implicações potenciais na produção e nos preços globais de grãos.