Por Karl Plume
CHICAGO (Reuters) – O domínio das exportações de milho dos Estados Unidos está diminuindo em um mercado global cada vez mais competitivo, já que o Brasil, auxiliado por um novo acordo de fornecimento com a China, deve superar os norte-americanos apenas pela segunda vez na história nesta temporada.
Enquanto isso, o México, outro grande mercado dos EUA, está se preparando para limitar as importações de milho geneticamente modificado, que compreende mais de 90% de toda colheita norte-americana.
A erosão da participação no mercado de exportação significa problemas para a indústria de milho dos EUA, que movimenta 90 bilhões de dólares, já que a demanda doméstica para alimentar criações e produzir etanol também esfriou. As lavouras da safra mais cultivada nos EUA provavelmente diminuirão nos próximos anos e, como resultado, a renda agrícola poderá sofrer, disseram analistas.
“Quando olhamos para a demanda de milho dos EUA a longo prazo, nos perguntamos de onde vem a nova demanda”, disse Stephen Nicholson, estrategista global do setor de grãos e oleaginosas do Rabobank, um credor agrícola.
“O Brasil provavelmente está assumindo uma fatia maior do mercado global, o etanol provavelmente atingiu o pico e a proteína animal provavelmente não crescerá rápido o suficiente”, disse ele.
O fazendeiro de Illinois, Richard Guebert, está preocupado.”Precisamos de um bom mercado de exportação para o nosso milho. A tecnologia de sementes no Brasil está melhorando a cada ano. Elas não vão desaparecer”, disse ele.
A redução das exportações de milho ecoa os desafios enfrentados pela soja dos EUA há uma década, quando o Brasil aumentou a produção para atender à crescente demanda chinesa, conquistando a coroa de maior fornecedor em 2013.
O Brasil agora domina o mercado global de exportação de soja por oito meses do ano ou mais, limitando os embarques dos EUA. O Brasil também é o maior exportador mundial de carne de frango, bovina, café, açúcar e suco de laranja.
Espera-se que as exportações brasileiras de milho inundem o mercado global a partir de julho e na colheita de outono dos EUA. O Brasil pode colher duas safras de milho de seus solos tropicais a cada ano, ao contrário dos EUA.
Apesar da demanda limitada, os agricultores americanos expandiram a semeadura de milho este ano para a maior área em uma década, incentivados pelos custos mais baixos de sementes e fertilizantes e pelo bom clima de plantio, disse o governo na semana passada.
Com uma safra recorde brasileira inundando o mercado, os produtores de milho dos EUA podem ver os preços caírem.
Ainda assim, o Rabobank prevê que as plantações de milho encolherão para 88 milhões de acres nos próximos três anos, de mais de 94 milhões atualmente, disse Nicholson.
A China expandiu sua lista de instalações brasileiras de exportação de milho aprovadas no final do ano passado, iniciando os embarques do Brasil.
Antes disso, a maior parte das importações de milho da China vinha dos Estados Unidos e da Ucrânia.
“O Brasil tem a capacidade de aumentar essa área de plantio para atender à demanda chinesa de uma forma que os Estados Unidos não têm”, disse Matthew Roberts, analista sênior de grãos da consultoria Terrain.
BRASIL VENCENDO O JOGO
Até meados de junho, as vendas de exportação de milho dos EUA para a China para embarque antes da próxima safra caíram 48% em relação ao ano anterior, mostraram dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
As importações totais de milho pela China caíram cerca de 10% este ano, segundo dados da alfândega, já que os compradores aguardam ampla oferta de milho brasileiro barato nos próximos meses.
“O Brasil está ganhando o jogo agora. Não somos competitivos em preço”, disse um trader de exportação dos EUA, citando as ofertas brasileiras do cereal que estão 30 dólares por tonelada abaixo dos preços nos portos da Costa do Golfo dos EUA.
As vendas totais de exportação de milho dos EUA em abril e maio foram as mais baixas em pelo menos 22 anos, de acordo com dados semanais de vendas de exportação do USDA. O período incluiu três semanas em que mais compras foram canceladas do que encomendadas, e as duas piores semanas de exportação de milho dos EUA já registradas.
O México tem sido um ponto brilhante para as exportações de milho dos EUA nesta temporada, com as vendas da safra de 2022 até meados de junho caindo apenas 11% em relação ao ano passado, em comparação com uma queda de 36% nas vendas ano a ano para todos os destinos, de acordo com o USDA.
Uma disputa em andamento sobre o decreto do México de proibir algumas importações de milho transgênico, no entanto, arrisca uma interrupção futura nos embarques dos EUA, disseram analistas. O país está aumentando a produção de milho em cerca de 2 milhões de toneladas, disse o Ministério da Agricultura.
As exportações de milho dos EUA no ano-safra 2022/23 que termina em 31 de agosto estão atualmente projetadas em 43,817 milhões de toneladas métricas, uma mínima em uma década, representando uma participação de 24,8% no comércio global, segundo dados do USDA.
As exportações projetadas do Brasil foram vistas em um recorde de 55 milhões de toneladas métricas.
É a segunda menor participação dos EUA no mercado global de milho já registrada, atrás apenas da temporada 2012/13, quando uma forte seca reduziu a produção e elevou os preços a níveis recordes.
Alguns analistas esperam que o USDA reduza suas perspectivas de exportação em seu próximo relatório mensal em 12 de julho.
O USDA está prevendo as exportações de milho dos EUA em 2023/24 em 53,342 milhões de toneladas, ficando atrás da previsão de 55 milhões de toneladas do Brasil.