A expectativa de safra excelente de milho no Brasil derrubou o preço do grão. Conforme o analista de Milho da StoneX, João Lopes, nas últimas semanas de maio e início de junho, o mercado do milho tem enfrentado uma tendência de queda nos preços tanto no Brasil quanto no exterior. De acordo com ele, a principal razão para essa queda é a expectativa positiva em relação à oferta e disponibilidade do cereal.
No Brasil, os preços da B3 (Bolsa de Valores) apresentaram uma significativa redução, passando de R$ 74 por saca em meados de abril para R$ 54 no final de maio. Esse declínio é resultado da expectativa de uma safra recorde, especialmente na produção da segunda safra. “Apesar de alguns atrasos no plantio em regiões como Mato Grosso do Sul e Paraná, o clima favorável tem contribuído para o desenvolvimento das lavouras, reforçando a perspectiva de alta produção”, informa.
Com relação aos preços pagos aos produtores, João reforça que ele varia muito de região para região. “O preço médio em Mato Grosso, principal produtor brasileiro, está em R$ 40 a saca, em maio, sendo que em março era R$ 65. No Paraná, o preço é de aproximadamente R$ 60, sendo que em março a gente via preço R$ 90. Ambos trazem quedas significativas de preços e a perspectiva é que os preços não devam subir muito daqui para frente, mas é claro que este cenário sempre pode mudar”, aponta.
Por outro lado, o consultor lembra que essa produção recorde também traz desafios logísticos, já que os armazéns estão sobrecarregados devido à elevada disponibilidade de milho e também à produção de soja, que exigiu muito da estocagem. Além disso, os produtores seguraram as vendas, resultando em uma porcentagem menor do que o usualmente negociado para esta época do ano, o que gera outra preocupação em relação à armazenagem e ao escoamento da safra. “Outro fator que tem impactado o mercado é a valorização do real e a queda do dólar no Brasil, porque isso torna o produto brasileiro menos competitivo no exterior e também exerce pressão sobre os preços internos”, lembra Lopes.
Produção
Quanto às perspectivas para a produção de milho na temporada de 2023, a expectativa é muito positiva, salienta o profissional, que enaltece as ótimas condições das lavouras, mesmo que a safra ainda não esteja encerrada. “O período de colheita deve ter seu auge em junho e julho. No entanto, é necessário ficar atento a possíveis problemas climáticos, como secas acentuadas ou geadas, que podem afetar os rendimentos”, pontua.
Com relação às previsões meteorológicas, o analista afirma que diversos modelos climáticos indicam um clima favorável nos Estados Unidos e também no Brasil, com alta probabilidade de ocorrência do fenômeno El Niño, o que tende a beneficiar a produtividade do milho. “Portanto, espera-se uma safra muito boa nos Estados Unidos e no Brasil, o que limitará o aumento dos preços”, supõe.
De acordo com João, a expectativa é que a produtividade média no Brasil seja de 5,8 toneladas por hectare, em comparação com as 5,40 toneladas por hectare registradas no ano anterior. “Apesar de parecer uma diferença pequena, é preciso considerar que em volume total, este acréscimo representa um percentual relevante de renda para os produtores”, menciona.
O consultor indicou também as regiões brasileiras que mais estão crescendo em produtividade e em área plantada de milho. “Nos últimos anos, as regiões que mais apresentaram crescimento são Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Eu acredito que estas regiões vão continuar a ser o motor do crescimento da nossa produção, porque estes estados ainda possuem áreas que podem ser utilizadas para expandir mais a cultura de milho”, opina Lopes.
O analista detalha que as praças de comercialização estão bastante atípicas neste ano. “Estamos impressionados com a questão da comercialização, porque o produtor segurou bastante para vender. Só para ilustrar, normalmente, nesta época do ano, 50% da safra já estava negociada, não é o que estamos vendo neste ano, em que os relatórios mostram que apenas 30% foi negociado. Ou seja, ainda temos bastante milho para ser comercializado”, afirma.
Exportadores
O profissional ressaltou os países que são os principais importadores da cultura de milho do Brasil, destacando Irã, Japão, Espanha e Egito. “A China também é vista como um grande potencial para as nossas exportações, especialmente após o acordo firmado no final do ano passado, isso porque ela tem expandido sua produção de suínos e outros rebanhos, o que aumenta o potencial de consumo de cereais”, explica.
O consultor expõe que foram comercializados, somente nos quatro últimos meses de 2022, o montante de um milhão de toneladas para China e que nestes primeiros quatro meses de 2023 também já foram negociadas 1 milhão de toneladas. “Esses números comprovam que a China é mais um grande potencial para o escoamento da nossa safra de milho e que o Brasil está sabendo aproveitar o cenário favorável e as oportunidades que visam consolidar a China e o Brasil como grandes parceiros também na comercialização da cultura do milho”, comenta.
Recomendações
Lopes apresenta também algumas indicações que o produtor deve ficar atento. A primeira delas é com relação ao clima, porque esse é sempre um dos principais riscos e uma das principais questões que acabam afetando a produção e o resultado do agricultor. “É claro que não é possível controlar o clima, mas podemos monitorá-lo e assim, trabalhar melhor a nossa lavoura. Outra questão é optar por qualidade genética que melhor se desenvolve no clima da sua região”, recomenda.
Se o clima não é possível controlar, a questão dos preços é uma grande possibilidade de ofertar ganhos reais ao produtor. “O agricultor precisa ficar atento às questões de preços, oferta e demanda, porque isso pode ser controlado e pode trazer mais segurança em termos financeiros, porque as flutuações de mercado são constantes e por isso é preciso planejar o momento ideal de comprar os insumos e vender o produto final”, reforça.
Tendências
João reflete que no Brasil o milho é utilizado para alimentação humana, produção de óleo e ração, sendo que a principal utilização é a ração que é utilizada na pecuária. De outra forma, existe a possibilidade muito forte de o milho também ser cultivado para a produção de etanol, seguindo os padrões norte-americanos, têm produzem 99% do seu etanol a partir da cultura do milho. “A proporção de etanol de milho no Brasil vem avançando muito nos últimos anos, sendo responsável por cerca de 15% da demanda doméstica”, declara.
Indicadores
O analista discorreu também sobre a importância de analisar os indicadores específicos da área de grãos, que são o dólar, fertilizantes e defensivos agrícolas. “O dólar é fator importante, porque a tendência é que o preço no Brasil também fique mais alto, quando o dólar sobe, tornando nosso produto mais competitivo. A gente consegue exportar mais, consegue garantir preços maiores aqui no Brasil. Os custos com fertilizantes e defensivos são bastante expressivos e acabam afetando muito a margem”, opina.
Outro indicador recomendado por ele é com relação ao preço do petróleo, que acaba sendo um bom termômetro de como a economia global está e reflete a expectativa de crescimento. Bem como a importância de acompanhar a taxa de juros, porque uma maior taxa de juros acaba favorecendo na desaceleração da economia, o que sempre reduz o consumo e acaba influenciado direta ou indiretamente a demanda pelo milho.
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