Apesar de altas de mais de 2% nos futuros do milho negociados na Bolsa de Chicago, os preços do cereal fecharam o pregão desta quarta-feira (23) em baixa na B3, perdendo até 0,6% entre as posições mais negociadas. O setembro concluiu os negócios com R$ 53,53 por saca, enquanto o novembro foi a R$ 57,25.
O mercado operou durante todo o dia em campo negativo, sentindo a pressão dos fundamentos no Brasil, bem como a baixa intensa do dólar frente ao real – hoje de 1,7%, levando a moeda brasileira de volta aos R$ 4,86.
O analista de mercado da Germinar Corretora, Roberto Carlos Rafael, explica que, apesar do país viver o pico da colheita de sua segunda safra, o mercado do cereal está lateralizado.
“O mercado segue de lado em plena safrinha de milho – com cerca de 80% já colhido – em um período em que se esperava uma oferta muito grande, mas o produtor está conseguindo fazer suas estratégias, seus direcionamentos (…) Então, percebemos que mesmo em um momento de pico de colheita, os mercado seguiram, de uma certa forma, sem grandes volumes de oferta. O mercado interno tem buscado produto, está conseguindo comprar suas demanda pontuais, mas sem nada a mais que pudesse ajudar os preços”, explica Rafael.
Mais do que isso, ele lembra ainda que “temos muito milho, mas o disponível comercial, com intenção de venda, por enquanto, tem sido só suficiente para o mercado se abastecer”.
Este comportamento mais reticente por parte dos vendedores, também como explica o analista, se dá com a necessidade que os produtores brasileiros têm de conhecer efetivamente as reais produtividades que começarão a sair das lavouras norte-americanas e em como estes números deverão interferir não só nas cotações do grão em Chicago, mas também na competitividade do milho do Brasil.
“Daqui a pouco a gente começa a receber o rush da safra americana – que começa na segunda semana de setembro e se estende até começo de novembro, com o pico no final de setembro e começo de outubro – e nesta reticência em vender o produtor brasileiro pode estar perdendo a oportunidade de esvaziar seus estoques, o que é necessário para o Brasil, ao meu ver, porque isso pode trazer grandes preocupações para o início da próxima safra (…) Tirando esta questão climática nos EUA – que começa a perder força – o produtor (do BR) fica no câmbio e isso é difícil prever”, afirma o analista e diretor da Germinar.
O que poderia dar algum gás mais forte para uma recuperação das cotações no mercado seria alguma novidade na demanda, em especial do setor energético, ainda de acordo com o especialista.
Reveja a entrevista de Roberto Carlos Rafael ao Bom Dia Agronegócio, do Notícias Agrícolas, na manhã desta quarta-feira:
BOLSA DE CHICAGO
Em Chicago, as altas foram de mais de 2% entre os futuros do cereal. “Os traders, finalmente, voltaram seu foco ao clima muito quente e seco que tem prevalecido em quase todo o Corn Belt, em especial no centro do cinturão nesta semana”, afirmam os analistas do portal norte-americano Farm Futures.
Assim, o contrato setembro fechou o dia com US$ 4,75 e o dezembro com US$ 4,90 por bushel. Soja, derivados e trigo também subiram forte nesta quarta.
As previsões são de que o Corn Belt continue bastante seco entre quinta-feira e domingo, com chuvas acontecendo apenas de forma pontual e com volumes bastante limitados. O mapa abaixo mostra a previsão para os próximos sete dias com as informações do NOAA – o serviço oficial de clima dos EUA.
Também no radar dos traders estão os dados que vem chegando do Pro Farmer Crop Tour, que está sendo realizado nesta semana. As estimativas nacionais chegam na sexta-feira (25), mas os dados estado a estado vão sendo reportados diariamente.
Na noite desta terça-feira (22), foram reportados dados dos estados do Nebraska e de Indiana, os quais ficaram acima dos registrados na safra anterior, porém, considerados mais ‘realistas’ do que os do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o que garante bastante volatilidade aos mercados. No dia anterior, foram números trazidos para os estados de Ohio e Dakota do Sul.