Em plena colheita da safra 2023 de café, durante as últimas semanas algumas fotos de florada em áreas de arábica surgiram nas redes, chamando atenção de todo o setor e também levantando incertezas em relação à safra de 2024. De acordo com a Fundação Procafé, pelo menos nas áreas de atuação de pesquisa e acompanhamento, a florada abriu de forma pontual, em algumas lavouras irrigadas e não devem trazer grandes problemas para o ano que vem.
Segundo Alysson Fagundes, pesquisador da Fundação Procafé, apesar de ser uma condição positiva para o processo de pós-colheita, quase não choveu durante o inverno nas áreas do parque cafeeiro, o que já acende certo alerta para ano que vem. É importante ressaltar que até antes do início da colheita as plantas mostravam bom desenvolvimento vegetativo e o mercado, inclusive, já precificou na expectativa de uma produção positiva, derrubando os preços na Bolsa de Nova York (ICE Future US).
O pesquisador explica que as lavouras de carga média são as que trazem mais preocupações para 2024. Reconhece que a safra do ano que vem poderá ser mais positiva que a deste ano, mas a realidade de uma super safra de café ainda está bem distante do produtor. “Esperava-se que essas lavouras fossem dar uma safra média em 2024, mas elas estão sendo podadas ou já foram podadas porque demonstraram que para 24 não viriam com uma carga média”, afirma.
Durante o podcast da Procafé, ele explica que a opção pela poda é tomada por aquele produtor que quer ter uma redução dos custos, considerando a queda de mais de 20% nos preços de café nos últimos três meses. “Aquela lavoura de 20 sacas por hectare, lavoura velha, nesse preço, ela entra para renovação. Não tem nada que tire mais café do mercado do que preço ruim. A safra de 2024 já está baleada”, afirma.
O pesquisador ressalta ainda que o cenário continua sendo de muitos desafios para o produtor, sobretudo pelas condições climáticas que continuam repletas de incertezas e com um El Niño no radar.
“Até chuva muito cedo causa problema. Se ela vier muito cedo vai afetar a florada, vai prejudicar a qualidade. Se vier muito tarde, vai atrasar a floração, vai ter problema de produtividade. Outro problema, veranico em janeiro, fevereiro ou março, que pode reduzir muito a produtividade. E outra coisa, nós estamos vindo de três anos ruins e teremos 2024 que não será esse recorde, infelizmente mais uma vez não resolvemos o problema de safra”, complementa.
O último ano de safra recorde para o Brasil foi em 2020. Com 63,08 milhões de sacas, segundo dados oficiais da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Naquele ano, além do volume, a qualidade da safra brasileira também chamou atenção de todo o mercado. Desde então, o produtor vivenciou preço mais altos, mas pouco café para negociação e mais recentemente uma pressão significativa nas cotações.
“2024 já podemos afirmar que não é 2020? Sim, podemos, sim. Não vai chegar na safra de 2020. O sul de Minas quente, uma região muito significativa que é representativa na cafeicultura nacional, virou. A safra ímpar é maior que a par. Em 2020, com sul de Minas muito quente, a safra veio cheia. Outra região, Triângulo Mineiro, veio safra cheia em 2020 e não será em 2024”, afirma o pesquisador. É importante ressaltar que a região do Triângulo também foi afetada pela geada e duramente impactada pela seca nos últimos anos.