Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – O produtor de café arábica do Brasil espera que, com o andamento da colheita brasileira, as vendas possam fluir melhor, assim como as exportações, possivelmente gerando um ajuste no mercado futuro de Nova York que hoje paga mais pelo produto no contrato spot.
“No segundo semestre, após todo esse fluxo reduzido, acho que vai melhorar, vai ficar melhor se tiver o mercado pagando carrego (de estoque)”, disse o superintendente de Torrefação e Novos Negócios da cooperativa Cooxupé, Mário Panhotta da Silva.
“Com a safra brasileira chegando, o mercado pode se ajustar”, acrescentou ele à Reuters, durante evento do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), em referência ao mercado invertido atual em Nova York.
Baixos estoques no maior produtor e exportador global, após safras inferiores ao potencial em 2021 e 2022, ajudaram a deixar o primeiro contrato em Nova York mais valorizado do que os mais distantes.
Francisco Sérgio de Assis, integrante do Conselho Nacional do Café (CNC), entidade que representa o setor produtivo no Brasil, disse que essa inversão no mercado futuro, que paga mais pelo produto no “spot”, deve-se aos baixos estoques, após a geada de 2021 gerar uma colheita ruim no ano passado.
“Com essa inversão de mercado, com ‘spreads’ negativos numa magnitude que nunca vi, o exportador não pode carregar estoques e não tem fluxos”, disse Assis.
As exportações de café do Brasil acumulam queda de 20% de janeiro a abril ante o mesmo período do ano passado, para cerca de 11 milhões de sacas de 60 kg.
Enquanto o primeiro contrato era cotado em torno de 25 centavos de dólar por libra-peso na bolsa ICE, o segundo contrato era negociado um pouco abaixo disso, nesta manhã de sexta-feira.
Com maiores volumes da safra nova brasileira começando a chegar ao mercado, à medida que a colheita avance, a expectativa é de que os fluxos melhorem no segundo semestre, permitindo que as exportações do país possam subir, após acumularem queda.
A safra deverá crescer, salientou Assis, estimando a produção do Cerrado mineiro entre 6 milhões e 6,5 milhões de sacas, ainda abaixo do recorde de cerca de 7 milhões de sacas no passado.
“O Cerrado está voltando ao normal”, disse ele, lembrando que os estoques da região estão nos níveis mais baixos da história.
Com baixos estoques, o produtor do Cerrado fixou menos vendas antecipadas, que estão atualmente em 25%, enquanto o normal para esta época gira em torno de 30% a 40%.
Ele disse que as lentas vendas dos produtores também estão associadas a muitas entregas da safra passada que só poderão ser cumpridas em 2023. Com a quebra de colheita em 2022, muitos produtores tiveram de renegociar as entregas.
“Como ele fez essa rolagem, ele vai ter de honrar compromissos do passado”, disse Assis.
Ele comentou também que o produtor que viu preço do arábica a cerca de 1.500 reais a saca de 60 kg agora, com cerca de 1.000 reais, segura vendas. “Isso dificulta”, comentou.
COLHEITA NA COOXUPÉ
Panhotta, da Cooxupé, maior cooperativa de café do Brasil, que trabalha apenas com arábica, avaliou que a colheita está apenas começando, em 6,5% do total, “um pouco acima” do ano passado.
Ele avalia que em mais 20 dias a colheita ganhará ritmo e começará a entrar mais café na cooperativa, que atua no sul de Minas Gerais, Cerrado e uma parte de São Paulo.
Sobre o tamanho da safra, ele confirmou que a expectativa é de uma safra maior, após a decepção que foi o ano passado.
“A última colheita deixou o produtor mais retraído”, disse ele.
Ele concordou que, após um primeiro semestre de exportações mais “escassas”, as exportações devem ganhar ritmo.
(Por Roberto Samora)