O destaque da semana no mercado brasileiro de trigo foi a divulgação dos editais para as licitações para escoamento do produto. As modalidades PEP (Prêmio por Escoamento de Produto) e Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor) fazem parte das Políticas de Garantia de Preço Mínimo (PGPM) do governo federal.
Os leilões devem acontecer em 31 de outubro, cada um para escoar 154,8 mil toneladas de trigo em grão. Porém, os prêmios serão divulgados somente dois dias úteis antes da operação.
Conforme o analista e consultor de SAFRAS & Mercado, Élcio Bento, o ponto de atenção é sobre o prêmio que precisa ser pago para tornar a operação atrativa. “Atualmente, os preços indicados no mercado são cerca de R$ 350/tonelada abaixo do preço mínimo”, lembra. “Para compensar a burocracia da operação, o prêmio ofertado terá que ser superior a esse spread”, destaca. “Considerando um prêmio hipotético de R$ 370/tonelada, com R$ 400 milhões se escoaria 1,081 milhão de toneladas”, pondera o analista.
Em relação ao feed, se o preço de referência for o “trigo pão tipo 03”, é de R$ 927/tonelada. O spread em relação às indicações de mercado fica entre R$ 50 e R$ 100 a tonelada. “Nesse caso, com um prêmio menor, por exemplo de R$ 150/tonelada, os recursos disponibilizados poderiam retirar quase 2,7 milhões de toneladas do mercado”, comenta o consultor.
“Sendo assim, parece mais lógico que o Governo estabeleça parâmetros que tenham nos grãos de baixo padrão o foco das operações”, frisa Bento. “A retirada desses grandes volumes de feed das regiões de produção garante inclusive um alívio na armazenagem, num ano em que se espera uma safra cheia no verão”. A expectativa por estes leilões fez com que os agentes saíssem do mercado.
CNA
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) avaliou que os leilões de incentivo ao escoamento do trigo da safra 2023/2024 atendem ao pleito do setor produtivo, que se encontra em um cenário de queda de preços pagos ao produtor rural pelo cereal. Na avaliação da entidade, a medida é uma forma de garantir a renda ao produtor em um momento em que os preços pagos pelo cereal estão baixos, enquanto os custos de produção tiveram pequena redução, depreciando a margem de lucro.
Congresso da Abitrigo
Nesta semana, a Agência SAFRAS realiza a cobertura in loco do 30º Congresso Internacional da Indústria do Trigo, em Atibaia (SP). Em entrevista, o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) disse que a entidade pediu ao governo que não envolvesse a indústria de moagem nos leilões. “Os moinhos não querem nem saber de PEP. Queremos que toda essa verba vá para os produtores, então seria o Pepro. O PEP distorce todo o mercado, a parte comercial, a competitividade relativa. Fora o processo é muito burocrático e retarda muito o recebimento do valor do governo. Por experiências passadas, rejeitamos essa possiblidade”, disse.
Entre os temas mais debatidos no congresso, estão os impactos do clima adverso sobre a produtividade e a qualidade do trigo brasileiro. Os agentes esperam por uma definição quanto ao volume de cada categoria a ser comercializado. A expectativa é de que haja a necessidade de um aumento das importações por parte da indústria, o que encareceria o preço médio do grão e de seus derivados.
Outro ponto de interesse foram os gargalos logísticos e de infraestrutura no Brasil. Problema antigo, o tema ganhou força à medida que cresce a necessidade de um rápido escoamento da safra de trigo para a abertura de espaço nos armazéns para receber os grãos de verão. Da mesma maneira, os integrantes da cadeia defendem maiores investimentos na armazenagem para dar tranquilidade ao produtor, que poderia escolher os melhores momentos para negociar.