O mercado brasileiro de trigo manteve, nesta semana, o ritmo observado recentemente: agentes pouco flexíveis e lentidão nos negócios. Segundo o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Bento, isso acontece pois quem tem trigo de boa qualidade para vender, eleva suas pedidas. A postura é respaldada pela quebra – de produtividade e de qualidade – na safra nacional. A indústria, por sua vez, não tem interesse de compra, o que se justifica pela expectativa de que a entrada da oferta argentina permita uma queda nos preços.
As duas pontas tem argumentos fortes para a inflexibilidade. O interesse de venda dos produtores é voltado ao grãos de pior qualidade, que normalmente são destinados à exportação. Já os compradores acreditam que o novo governo argentino possa reduzir ou isentar as retenciones – impostos sobre exportação – o que permitiria cotações mais atrativas, baseadas na paridade de importação. Há, no entanto, alguma desconfiança quanto à qualidade do cereal argentino, que também foi castigado pelo clima adverso.
Disparada internacional
Enquanto as bolsas norte-americanas acumulam altas de mais de 14% em oito sessões, no Brasil as cotações seguem lateralizadas. A Bolsa de Chicago reage à retomada da demanda e à recente alta das cotações na Rússia. Os embarques do Mar Negro reduziram em novembro devido a condições climáticas adversas.
Conforme o analista de SAFRAS & Mercado, Elcio Bento, para que essa recuperação chegue ao Brasil, ela tem que ser sentida na Argentina. Até o momento, contudo, o cereal argentino segue entre os mais acessíveis do mundo. De qualquer forma é preciso ficar atento a essa escalda de alta nas Bolsas norte-americanas. “Se ela for consistente, os compradores internacionais tendem a ver na Argentina uma alternativa interessante”, explicou.
Bento salienta que essa percepção ganha força no cenário atual de quebra de safra na Austrália, principal fornecedor de trigo ao sudeste asiático. “É para esse destino que o cereal argentino e o brasileiro, quando há excedentes, conseguem ser competitivos. Se os preços subirem na Argentina, pela paridade de importação, há espaço para alta no Brasil”, disse.
Safra brasileira
A produção brasileira de trigo em 2024 deverá ficar em 8,143 milhões de toneladas, segundo o 3o levantamento para a safra brasileira de grãos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No mês anterior, a previsão era de 9,633 milhões. O número repete a safra anterior.
A Conab indica uma área plantada de 3,466 milhões de hectares, sem alterações sobre a temporada anterior. A produtividade indicada pela Conab é de 2.349 quilos por hectare, contra 2.760 do mês anterior.
Nas culturas de inverno, foi identificada queda na produtividade em quase todos os produtos quando comparada à última safra. Para o trigo, principal produto, as chuvas volumosas, ventanias, granizo, enchentes, muita nebulosidade e poucos dias com sol dificultam a conclusão da colheita no Rio Grande do Sul.
Conforme a Emater/RS, os trabalhos atinge 99% da área gaúcha. O clima, no entanto, não deve mais ter impacto positivo ou negativo sobre os números da safra. Reajustes na produção ainda podem acontecer, possivelmente para baixo, mas estes levariam em conta os impactos anteriores das condições meteorológicas.