Embora na Bolsa de Chicago os futuros da soja tenham encerrado os negócios desta terça-feira (12) com baixas intensas, perdendo mais de 20 pontos diante de alguns dados do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), o relatório mensal de oferta e demanda de setembro traz sinais importantes para o mercado brasileiro da oleaginosa. Afinal, os números mostram também que a demanda chinesa pela commodity está crescendo e o Brasil segue se fortalecendo como seu principal fornecedor.
“Vemos o Brasil dominando cada vez a mais a soja e a China comprando mais, e o nós vendendo mais para a China”, afirmou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting.
Para o ano comercial 2023/24, o USDA elevou sua estimativa para as importações de soja da China de 99 para 100 milhões de toneladas, enquanto para a 2022/23 de 100 para 102 milhões. “Neste mês, o USDA aumentou as importações de soja da China – entre outubro e setembro, no ano comercial 22/23 – em dois milhões de toneladas para um recorde, em um ano de embarques fortes no final da temporada, primariamente do Brasil”, informaram os especialistas do departamento.
O relatório apontou ainda para um aumento no processamento chinês da oleaginosa para 93 milhões de toneladas, “refletindo a melhora das margens domésticas de processamento, demanda maior por ração e óleos vegetais e uma recuperação nas exportações no último trimestre do ano comercial”. Ademais, os dados mostram também que as exportações de farelo de soja foram elevadas, neste boletim de setembro, em 200 mil toneladas, para alcançarem 1 milhões diante de estoques maiores e da demanda dos países vizinhos.
Como esta demanda maior da China por soja vai impactar nos preços? Mais como um limitador de baixas do que combustível para novas altas, explica Brandalizze. Segundo o consultor, os suportes e resistências que os contratos novembro e maio – referência para a nova safra do Brasil – têm agora são melhores por conta dessas projeções de uma também melhor por parte da nação asiática. A fragilidade da segunda maior economia do mundo vinha preocupando o mercado. Ao mesmo tempo, porém, especialistas vinham sinalizando que a demanda chinesa por alimentos ou por matéria-prima para produzi-los não deveria ser afetada.
Somente em agosto, as compras de soja da China foram de 9,4 milhões de toneladas, 30,5% mais do que no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos primeiros oito meses do ano, as importações somaram 71,65 milhões de toneladas, 17,9% maiores do que no mesmo intervalo de 2022, de acordo com dados da Administração Geral das Alfândegas do gigante asiático.
Em entrevista à Reuters Internacional, a analista de mercado da consultoria chinesa JCI, Rosa Wang, explicou que parte deste aumento nos números se deu, com as importações de soja ficando acima do esperado, depois que alguns navios que estavam atrasados nos portos “finalmente entraram no país”.
Assim, frente aos bons prognósticos da demanda chinesa por soja, e apesar de baixas da ordem de mais de 1,5% entre os futuros mais negociados em Chicago, o contrato novembro encontra suporte nos US$ 13,00 por bushel e “resistência leve”, ainda como explica Vlamir Brandalizze, nos US$ 13,50. Já o maio tem suporte nos US$ 13,50 e resistência nos US$ 14,00. “Se nós não tivessemos esse aumento de demanda esperado, poderíamos estar chegando na safra com preços mais baixos, perto de US$ 12,00 ou menos em Chicago, e uma soja e de US$ 12,00 não é uma soja de US$ 27,00 a US$ 28,00 pra nós, por exemplo, mas de US$ 25,00. Então, não podemos dizer que isso ajuda a melhorar, mas deixa o mercado menos negativo”, diz o consultor.
Neste contexto, acredita Brandalizze, haverá, novamente, o grupo de produtores que buscará garantir estas oportunidades melhores que o mercado tem oferecido, sem correr grandes riscos, atuando com estratégias e garantindo suas margens que, sim, serão bem menores do que as dos últimos anos. Mas “vamos ter também aquele grupo de produtores que são mais ‘radicais’, que evitam a todo custo as vendas antecipadas e que podem cometer erros de novo”, alerta.
A pressão sobre os preços no mercado, afinal, podem se intensificar com o início e avanço do plantio na América do Sul, em especial no Brasil, onde, de acordo com estimativas da Brandalizze Consulting, deverão ser colhidas mais de 160 milhões de toneladas de soja, cultivadas em mais de 46 milhões de toneladas. Com estas projeções, os prêmios para a soja 2023/24 já estão negativos – de 110 a 115 cents de dólar por bushel abaixo dos preços de Chicago – e podem ser ainda mais pressionados.
Toda esta oferta deverá ser responsável também pela garantia de maior competitividade da oleaginosa brasileira frente às suas principais concorrentes. Recentemente, ainda reportaram os especialistas do USDA, o diferencial entre as referências do Brasil, Estados Unidos e Argentina diminuíram e o importante será observar como o comportamento de toda esta demanda vai se cruzar com conclusão da safra 2022/23 dos EUA, com a oferta brasileira restante e a nova safra começando na América do Sul.
O Brasil tende a colher uma nova safra recorde de soja na temporada 2023/24 e, ao mesmo tempo, enfrentar uma infraestrutura que não cresce no mesmo ritmo, nem mesmo próximo do que se vê na capacidade produtiva do país. Com portos, rodovias, armazenagem e mais estruturas insuficientes, os preços deverão sentir, especialmente via prêmios. E é por isso que, mesmo com um funil estreito, escoar o máximo de soja que o Brasil puder será essencial para assegurar que as margens serão menos estreitas do que já se espera.