Ondas de calor, temperaturas extremas, chuvas de mais ou de menos. Ao ouvir relatos de produtores de soja pelo Brasil, em praticamente 100% das áreas dedicadas à oleaginosa, há algum tipo de problema sendo registrado. Os vídeos e fotos continuam mostrando uma realidade preocupante e o potencial produtivo vai se perdendo a cada dia em que o atual padrão climático permanece.
Algumas consultorias privadas já estimam a safra 2023/24 de soja do país em menos de 160 milhões de toneladas, como a Pátria Agronegócios – com 155,8 milhões – e a Agrinvest Commodities – com o número de 155,4 milhões de toneladas. E para ambas, suas estimativas podem e devem ser revisadas para baixo, uma vez que as previsões climáticas continuam a apontar condições bastante adversas.
Para Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, não só a produção deverá ser menor, mas também a área semeada deverá ser reduzida, passando de 46 para 45,5 milhões de toneladas. “O potencial da safra que era de 165 a 170 milhões de toneladas pode ficar entre 150 e 160 milhões, podendo a safra ser menor do que as 156 milhões deste ano”, diz.
Os números ainda são bastante incertos e deverão mudar bastante nos próximos meses e as incertezas são grandes. O vídeo abaixo é um exemplo dos efeitos da seca, com as plantas sentindo os efeitos não só da falta de chuvas, mas também do calor intenso. As temperaturas muito elevadas castigam as lavouras já que se registram também nos solos. O relato parte de Boa Esperança do Norte, em Mato Grosso, vindo de Guilherme Guarnieri.
“Se pegarmos o eixo BR-163, no MT, a soja está praticamente toda plantada, mas as lavouras estão irregulares depois de chuvas bastante esparsas. No geral, um investimento menor foi realizado”, relata Charles Anderson Wolmann. Abaixo, fotos das lavouras sofrendo com a seca em Sorriso/MT.
Cenários semelhantes são observados em mais estados Centro-Oeste, bem como do Sudeste. A foto abaixo é de Rio Preto, em São Paulo, onde a temperatura do solo estava em 54ºC.
Em Minas Gerais, por exemplo, os campos de soja mostram falhas e as plantas sofrendo com o calor extremo. A foto abaixo chega direto de Paracatu.
Do meio do Paraná para baixo, o quadro é completamente o inverso. O excesso de umidade prejudica muito o desenvolvimento das plantas, mantém os solos encharcados e criam um ambiente bastante favorável para pragas e doenças. Sente não só a soja, mas também o milho verão, em especial no Rio Grande do Sul. Na região de Carazinho, segundo o vice-presidente do Sindicato Rural local, Paulo Vargas, as chuvas estão muito acima da média já desde setembro.
“Setembro com 496 mm, outubro 484 mm e até a manhã desta terça-feira (14), já choveu 242 mm no mês. A colheita trigo está parada e semeadura das soja também, com apenas 25% da área como média para Carazinho. Perspectiva de lida só para semana que vem. Quanto ao possível potencial produtivo, já devemos ter redução devido a elevação média da velocidade de semeadura afetando stand, baixa insolação, e já saindo grande parte do plantio para épocas mais marginais à janela ideal, que seria até 12 de novembro, conforme dados de pesquisa”, diz Vargas,
“Além do mais, com toda essa chuva vai afetar o stand das áreas já plantadas com soja podendo necessitar replante em algumas áreas”.
O replantio tem sido também algo bastante comum em diversos pontos do Brasil, seja pelas chuvas acima ou abaixo da média.
Enquanto essas imagens inspiram mais perguntas do que respostas e o tamanho da safra 2023/24 está longe de ser definido, os sojicultores brasileiros também tentam evitar dilemas na hora da comercialização. O que tem sido praticamente impossível, ainda segundo analistas e consultores de mercado. Dessa forma, não só estão atrasados os trabalhos de campo, como também os de comercialização.
O último boletim semanal do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária) mostra que, na última semana, as vendas antecipadas da safra atual avançaram apenas 2,76 pontos percentuais no comparativo mensal, alcançando 31,69% da produção estimada. “As incertezas quanto à produção da temporada têm limitado o avanço das
negociações no estado e o produtor aguarda uma melhor definição das lavouras para voltar a fazer maiores negociações”.
“Os produtores seguem plantando a todo vapor onde é possível, para buscar recuperar o atraso que está mostrando neste ano, mantendo
expectativa de crescer a área, mas já não tanto como era esperado inicialmente. A safra também já está com parte comprometida pelo clima e, desta forma, as chances de termos uma produção menor que neste último ano, já são grandes”, explica Vlamir Brandalizze.
Assim, tais projeções e os caminhos que percorre a safra 2023/24 já se combinam para garantir, ao menos, preços mais altos para a soja brasileira. Somente no Mato Grosso, ainda segundo dados do Imea, “a média de out/23 aumentou 1,74% em relação ao mês passado, fechando em R$ 110,11/sc”. Complementando, o instituro afirma também que “os preços da soja em Mato Grosso apresentaram incremento de
0,32% quando comparados com os da semana anterior e ficaram na média de R$ 120,05/sc”.
Na Bolsa de Chicago, os vencimentos referentes à safra brasileira, como o maio/24, já operam na casa dos US$ 14,00 por bushel e, de acordo com os especialistas, terão de buscar patamares ainda mais elevados para precificar realmente os problemas sofridos e acumulados nas principais regiões produtoras de soja do país.
Somente nos primeiros 14 dias de novembro, os preços da oleaginosa já subiram mais de 5%, com o janeiro passando de US$ 13,15 para US$ 13,89 por bushel – alta de 5,63% – e o maio saltando de US$ 13,42 para US$ 14,12 – um avanço de 5,22%. E a tendência de alta permanece bastante presente no mercado, com força para manter sua sequência.
Enquanto isso, o produtor tem de revisar seu plano comercial e avançar nos negócios, capturando as boas oportunidades de preços que o mercado sinaliza no momento. As travas em Chicago, como explicou o analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, poderiam ser uma boa opção, com a compara de puts, para o produtor que atua nesta estratégia, em especial fazendo seu hedge em dólares agora. Afinal, o dólar tende a seguir muito volátil para concluir 2023 e os prêmios – tanto no interior, quanto no interior do Brasil, seguem depreciados e também podem sinalizar melhoras.
Reveja sua entrevista ao Notícias Agrícolas dando exemplos de operações como esta nesta terça-feira (14):