Apesar de toda a intensidade e toda volatilidade, a semana se encerra com um saldo positivo para os preços da soja na Bolsa de Chicago. O contrato janeiro/24 saiu de US$ 13,04 para US$ 13,14, subindo 0,77%, enquanto o mai foi de US$ 13,37 a US$ 13,45, acumulando um ganho de 0,60%. Apesar de tímidas, as altas sinalizam que o clima adverso na América do Sul ainda é o maior protagonista do complexo soja neste momento, apesar das novas notícias que foram ganhando espaço no cenário nesta semana.
As condições climáticas seguem muito adversas em, praticamente, todas as principais regiões produtoras do país, gerando cada vez mais incerteza e insegurança sobre o tamanho da safra 2023/24. As lavouras seguem perdendo potencial produtivo e as consultorias fazendo novos cortes em suas estimativas, como foi o caso da Agrinvest Commodities, que trouxe seu número de 155 para 152,9 milhões de toneladas. Afinal, um dos estados que mais sofre é Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil.
Por outro lado, algumas regiões, como partes do Paraná, por exemplo, que registram campos em bom estado, condições ao menos regulares de seus campos de soja, que deverão trazer uma oferta normal da oleaginosa. No vídeo abaixo, o produtor rural João Eduardo Pasquini, que cultiva no noroeste paranaense, relata as dificuldades iniciais e depois, com a chegada das chuvas a partir de 15 de novembro, a recuperação das lavouras.
De outro lado, do Goiás fala João Afonso, relatando muita irregularidade na safra na região de Rio Verde, com áreas que, inclusive, ainda não foram plantadas no estado. “Aqui na região tem muita soja morrendo. Tem muita soja boa, mas tem muita soja ruim também”, diz. Na sequência, o vídeo traz lavouras plantadas em 28 de setembro. “O produtor está desanimado porque os preços das commodities ainda estão descasados dos custos e, com preço baixo, custo alto e produção ruim, o preço não fecha”.
Assim, as perspectivas sobre a safra 2023/24 do Brasil são bastante divergentes e ainda não chegam à sua totalidade no caminhar dos preços da soja, tanto na Bolsa de Chicago, quanto no mercado brasileiro. No entanto, analistas e consultores afirmam que ao passo em que a safra se mostre mais desenvolvida e mais clara, os preços possam reagir também com mais clareza. O movimento que começa a trazer com mais força estas preocupações sobre o tamanho da oferta brasileira, porém, veio dos prêmios nos últimos dias.
“Os prêmios foram um precursos das altas nas últimas semanas, assim como o dólar – que também deu uma boa recuperada (fechando a semana em R$ 4,94) -, com dezembro e janeiro se mantendo próximos dos 100 pontos, dezembro com 75 pontos positivos na soja disponível Paranaguá, janeiro com 85 positivo, fevereiro na iminência de zerar, estando em menos 20 pontos – já tendo estado em menos 110 pontos, e temos batido na tecla de que é insustentável os prêmios negativos como estão. E isso deixou o mercado mais consistente no Brasil apesar das baixas em Chicago (que se apresentaram ao longo da semana)”, explicou o analista de mercado e diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira.
Ainda assim, poucos negócios novos foram efetivados nesta última semana no Brasil, em especial da safra nova. “O produtor que está vendo todas estas preocupações no campo está pouco estimulado a avançar com a comercialização da safra nova. E o produtor não consegue se planejar sobre a oferta que terá em mãos.
A análise de Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting, é semelhante. “Em função de todas essas dúvidas que ainda se tem sobre a realidade da safra brasileira, o mercado ainda não sabe que rumo vai tomar. Ele está com um suporte importante, nos US$ 13,00 no janeiro, e poderia ter perdido isso pelas liquidações de posições, e ainda tem dúvidas em relação à Argentina”, diz.
Brandalizze explica ainda que “na próxima semana será véspera de Natal e, normalmente, o mercado se acomoda, grande parte do setor entra em manutenção de equipamento, limpeza de silo e srmazéns para a receber a safra e, assim pouca movimentação. É período em que não se consegue caminhão para transportar os grãos e, desta forma, o apelo é de calmaria e
isso começa aparecer neste momento. A dúvida continua sendo a safra que tem recorde de área, mas muitas informações desencontradas do que pode ser a produção”.
Do mesmo modo, o alerta de Matheus Pereira é de algumas oportunidades pontuais que o mercado pode oferecer nesta reta final de ano, apesar desta apatia entre novos negócios. “Essa apatia vira ação na retomada do mercado em janeiro, e a ação vai ser digerir toda esta realidade que temos no campo. O mercado ainda não entende a proporção da quebra no país e voltando em janeiro, com essa realidade mais escancarada, os movimentos devem ser mais agressivos”.
Reveja a última entrevista de Pereira ao Notícias Agrícolas: