O plantio da soja continua evoluindo no Brasil, mas não da forma como se esperava inicialmente. Os relatos que partem das mais diferentes regiões produtoras deixam claro que esta será uma safra bastante marcada pela irregularidade, em especial do clima. O excesso de chuvas preocupa muito quem já começou a plantar no Sul, enquanto a falta delas paralisa os trabalhos de campo em áreas do Centro-Norte ou até mesmo já impõe a necessidade de replantio para alguns produtores.
“O padrão climático do El Niño está causando chuvas excessivas no Sul do Brasil e falta delas no Centro-Oeste e Norte, com ambos os cenários representando desafios para os agricultores”, explica o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo Sousa. “Esse tempo chuvoso poderá trazer sérios problemas à colheita do trigo, ao plantio da soja e ao desenvolvimento do milho devido aos dias excessivamente
nublados e úmidos.
E as preocupações e os desafios não deverão ceder tão facilmente. Afinal, tanto o modelo norte-americano, quanto o europeu indicam que os próximos dias ainda serão de precipitações intensas para Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com apenas os volumes variando entre ambos os modelos. Para o restante do Brasil, o tempo deverá seguir predominantemente seco.
Neste cenário, as estimativas iniciais de uma safra superando 160 milhões de toneladas já começam a ficar ameaçadas. O consultor de mercado Vlamir Brandalizze, da Brandalizze Consulting, já afirmou que diante do que tem visto no campo a colheita brasileira dificilmente terá espaço para alcançar um volume como este, além de trazer alertas sobre o atraso que deverá se dar na safrinha de milho em função dos atrasos.
Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja do Brasil, o plantio chegou aos 35,09% da área estimada até a última sexta-feira (13) e mostra certa lentidão em relação à safra anterior por conta da falta de umidade, segundo os últimos dados trazidos pelo Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária). “O ritmo dos trabalhos a campo está atrasado em relação ao ano passado, diferença de 6,25 p.p. no comparativo”, afirma o instituto em seu reporte semanal.
Assim, projetando o restante da semeadura, os especialistas conseguem estimar ainda que o início da colheita no estado se dê na primeira semana de janeiro. “A projeção pode ser menor que o observado no ano passado. É importante ressaltar que a previsão não está considerando os fatores climáticos, que ainda estão em aberto e poderão continuar influenciando no ritmo da semeadura e da colheita para a temporada”, completa o Imea.
O vídeo abaixo mostra as condições das plântulas mortas no campo, em função das chuvas insuficientes, na região de Boa Esperança/MT. “Tem que esperar a chuva, é a vida do produtor”, lamenta o profissional.
Na outra ponta, na região de Nonoai, no Rio Grande do Sul, da tarde de segunda-feira (16) à manhã desta terça (17), as chuvas foram de 160 mm. Outros municípios do estado registraram um quadro semelhante e vêm registrando problemas também da mesma natureza.
Com os problemas se acumulando neste início de safra, o mercado da soja acaba ficando mais morno, com os produtores evitando novos negócios e, desta forma, evitando comprometer volumes maiores de suas safras diante de tantas incertezas climáticas. “O produtor está muito preocupado com essa situação. Muita gente preocupada que a janela do milho safrinha vai estourar e vai complicar. Então, automaticamente, o pessoal tirou o pé do acelerador nas negociações com a soja sem saber como as lavouras vão se desenvolver. E o produtor está apostando em alta”, afirma Brandalizze.
Na Bolsa de Chicago, a terça-feira foi de fechamento positivo e altas de dois dígitos entre os principais vencimentos da oleaginosa. Os contratos março e maio – referências importantes para a nova safra brasileira de soja – encerraram os negócios com US$ 13,29 e US$ 13,41 por bushel. “Então, podemos ver cotações melhores nos próximos dias, mas ninguém quer vender nada”, complementa o consultor.
Afinal, em sua perspectiva, Brandalizze afirma que mais de cinco milhões de toneladas de perda no potencial produtivo da oleaginosa já se perderam diante destas condições. “E a cada dia em que as coisas continuem neste ritmo que está indo, com excesso de chuvas no Sul e faltando no restante do Brasil, perdemos de 200 mil a 300 mil toneladas. Então, continua a diminuição de potencial produtivo”, diz.
Os preços no mercado brasileiro, nesta terça-feira, tiveram parte das altas de Chicago sendo neutralizadas pelo dólar mais pressionado, sem se tornarem muito atrativas aos vendedores. Assim, não se registram muitos negócios nem no mercado de lotes, nem no balcão. “Os níveis nominais, em reais, não mudam muita coisa”, afirma Vlamir Brandalizze.
No porto de Rio Grande, para março de 2024, os indicativos testaram até R$ 136,00 por saca, R$ 137,00 no maio e até R$ 140,50 no junho. No entanto, o ideal para que o produtor comece a negociar, ainda segundo o consultor, seria uma referência acima dos R$ 140,00 já no maio.