Temperaturas extremas no café já comprometem safra 24 e reflexos podem se estender até a produção de 2025

As chuvas até foram benéficas para o desenvolvimento das plantas de café para 2024, mas sob efeito do El Niño, outras intempéries climáticas preocupam o setor no Brasil. Após a abertura da florada, as altas temperaturas trazem bastante incerteza para o ano que vem, mantendo as principais áreas de produção em alerta. 

Com a onda de calor atingindo o parque cafeeiro, nos últimos dias as temperaturas máximas ultrapassaram os 30ºC em praticamente todas as áreas. De acordo com dados do Sismet – Sistema de monitoramento da Cooxupé, valores extremos estão sendo observados desde domingo nas áreas de arábica. Nas regiões de Alfenas, Guaxupé, Coromandel, Guaranesia, entre outras, as temperaturas máximas ficaram entre 36ºC e 38º nos últimos dias. 

Alysson Fagundes, pesquisador da Fundação Procafé, alerta para um cenário de extrema preocupação para a produção do ano que vem. Ele explica que a planta de arábica suporta, sem maiores problemas, temperaturas de até 30ºC. 

“É muito preocupante, está pegando em uma época muito ruim, de desenvolvimento inicial da frutificação, é muito preocupante. É possível que possamos ter redução nos tamanhos dos frutos e a escaldura das folhas reduz a área fotossintética e também vai reduzir esse crescimento do fruto e até o crescimento da planta, prejudicando não só a safra de 2024, mas também prejudicando o crescimento inicial da safra de 2025”, afirma. 

As condições são consideradas típicas do El Niño. “Passou de 30ºC já começa a preocupar muito. Pode chover muito em dez dias, mas se ficar dez dias apenas de sol, não adianta nada”, complementa. O especialista afirma que as áreas com irrigação podem sofrer menos, mas ainda também sentem os impactos das altas temperaturas. 

Professor José Donizeti Alves também confirma preocupação com excesso de calor 

O professor José Donizeti Alves – da UFLA, publicou recentemente um artigo abordando as altas temperaturas em áreas de café. Ele começa a publicação falando sobre as chuvas entre novembro de 2022 e abril de 2023, que geraram um excedente hídrico de água no solo, apesar das altas temperaturas, as plantas apresentavam bom vigor, estavam enfolhadas e com média de 10-12 nós por ramo, indicando uma boa safra para o ano que vem. 

“A partir daí o volume de chuvas foi raleando e com as baixas precipitações, praticamente toda as regiões cafeeiras estavam com déficit hídrico, de modo que após a colheita, as plantas, sobretudo as de sequeiro, estavam bastante desfolhadas. Nas áreas em que caíram algumas chuvas as plantas emitiram folhagem nova e floresceram, mas o vingamento foi baixo. Atribuí a causa desse abortamento das flores às baixas reservas de carboidratos nos ramos, que foi agravada pelas folhas jovens, que em plena expansão, competiram com a formação das flores”, afirma. 

Entre setembro e os primeiros dias de novembro, continuou chovendo nas principais áreas e os produtores, inclusive, realizaram a primeira adubação de solo e foliares. “Em resposta a melhoria hídrica e ao manejo, as lavouras recuperaram bem e a maioria está vigorosa. Nesse meio tempo, vieram, a depender da região, duas floradas e por conta da retomada do status energético das plantas, o vingamento foi muito bom. Novamente, a esperança de uma boa safra para 2024”, afirma. 

O cenário estava positivo para o ano que vem e o mercado, inclusive, chegou a precificar com base neste desenvolvimento. Mas as altas temperaturas, segundo Donizeti, podem trazer uma nova realidade. “Tudo indica que após essa calmaria, vem aí um novo “mar revolto”, que atingirá a cafeicultura em uma das etapas da frutificação mais sensível ao calor, seca e alta insolação”, explica. 

O professor explica que as condições climáticas podem trazer desequilíbrio hormonal nas plantas, com o aumento da síntese de Ácido Abscísico (ABA). 

Segundo a publicação, o  fechamento estomático será a primeira linha de defesa a ser acionada, que consequentemente levará à redução da transpiração. Paralelamente, as plantas acionarão rotas do metabolismo secundário, e passarão a produzir compostos orgânicos que não participarão diretamente do crescimento e desenvolvimento, mas que terão um importante papel adaptativo, entre elas, as substâncias osmoticamente ativas nas raízes, que promoverão a redução do seu potencial osmótico, fundamental ao processo de absorção de água, especialmente em solos com baixos potenciais hídricos. Esses dois mecanismos de defesas serão eficazes: (i) desde que o calor e a seca não prolonguem por muitos dias em níveis elevados e (ii) até que tenha água no solo, acima da capacidade de campo.   

O professor ressalta, no entnato, que diante das previsões atuais, o sistema de defesa não deverá alterar de forma significativa o resultado final, já que as raízes não conseguirão abordar mais água do solo. 

“Isso será um tiro no pé do cafeeiro. Nesse cenário, as plantas entrarão em uma segunda fase, de produção abundante de Espécies Reativas de Oxigênio (EROs) que causarão profundos danos celulares. Em resposta a essas EROs, o cafeeiro passará a produzir descontroladamente etileno, um hormônio gasoso que causará queda de chumbinhos, folhas e morte apical dos ramos e raízes. Nessa situação, é comum haver queda de frutos que passará do nível aceitável de 10 a 20% para até 75%. Nas situações em que isso acontecer, o mar de águas tranquilas de hoje se tornará o mar revolto nas próximas semanas, acabando assim a lua de mel entre o cafeicultor e o clima e com isso, lá se vão as esperanças de uma boa grande safra para 2024”, afirma. 

Confira o artigo completo aqui

CNC fala em queda de chumbinhos 

Monitorando as condições nas principais áreas de produção do país, Silas Brasileiro – presidente do Conselho Nacional do Café divulgou nesta terça-feira (14) um comunicado oficial sobre as condições atuais do parque cafeeiro. 

Segundo ele, a primeira onda de calor – há alguns meses, prejudicou o pegamento da florada e agora já contribuí para queda de chumbinhos. “O reflexo é realmente acentuado e fácil de ser contastados. Essas notícias (de uma supersafra) nos preocupam muito quando não há base técnica, científica e uma formação que reflete a realidade do que está acontecendo na cafeicultura de forma geral. Nós sabemos que a próxima safra já está comprometida, sem dúvidas nenhuma e as temperaturas elevadas poderão comprometer ainda mais”, afirma. 
 

 

 

 

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