Especialistas nacionais e internacionais de mercado afirmam que, mais uma vez nesta semana, o mercado de grão deverá tomar boa parte das atenções dos investidores, em especial quando se trata do trigo. Somente nesta segunda-feira (15). os futuros do grão subiram de 3,6% a 4,06% entre as posições mais negociadas na Bolsa de Chicago, além dos ganhos que se seguiram nas demais bolsas internacionais onde o trigo é negociado. Assim, com mais de 25 pontons de alta, o julho encerrou o dia com US$ 6,60 e o dezembro com US$ 6,88 por bushel.
O mercado do trigo não se valeu só dos últimos números reportados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) na última sexta-feira (12) – indicando a safra 2023/24 do país abaixo das expectativas do mercado, além de trazer uma manutenção para a produção 2022/23 – mas está atento também ao quadro geopolítico e a não renovação do acordo que garante o corredor de grãos na região do Mar Negro, uma vez que a Rússia já afirmou que não deve dar sequência ao pacto.
Na semana passada, conversas realizadas em Istambul, na Turquia – país que está mediando as negociações entre os dois países e a ONU (Organização das Nações Unidas) -, terminaram sem um meio-termo e o acordo, bem como as operações nos portos locais, estão interrompidas. Assim, não só os futuros do trigo, como também do milho e dos óleos vegetais deverão sentir, dada a importância da região para o abastecimento global de tais produtos.
“As exportações ucranianas já diminuíram significativamente desde que as embarcações pararam de ser inspecionadas no corredor nos últimos dias. Partes da Europa Oriental também estabeleceram novas restrições às importações ucranianas, argumentando que o influxo estava prejudicando os agricultores locais”, informou a agência de notícias Bloomberg.
Desde que o acordo garantiu o corredor, mais de 30 milhões de toneladas de produtos agrícolas foram embarcadas e escoadas pelos terminais da região, sendo 50% milho e 28% milho, como mostra o gráfico abaixo, com dados compilados da Iniciativa do Corredor de Grãos do Mar Negro (BSGI).
Além da guerra, o cenário geopolítico que impacta o corredor conta também agora com as eleições na Turquia. O atual presidente, Recep Tayyip Erdogan, irá concorrer pela reeleição no segundo turno, marcado apenas para o dia 28, enquanto o acordo para o corredor vence no dia 18 próximo. Uma corrida contra o tempo, praticamenete perdida até aqui. “A Rússia está de olho nas eleições presidenciais turcas, porque Erdogan apresenta um papel importante nas negociações do corredor de grãos”, afirma a equipe da Agrinvest Commodities.
O time da consultoria completa dizendo ainda que “uma autoridade ucraniana afirmou que não há mais negociações do do corredor de grãos programada antes da data de vencimento da iniciativa”.
E como explicou o diretor da De Baco Corretora, Marcelo De Baco, a não renovação do acordo não é bom para a Rússia. “É bem pior para a Rússia porque em julho eles já têm colheita de safra nova de inverno, estão avançando com o plantio da safra de primavera, então os canais precisam estar abertos para haver exportação. Enquanto isso, os fudos aproveitam para recompor suas posições historicamente vendidas”, afirma.
O principal destino das embarcações que deixam a região é a China, como mostra este outro gráfico da BSGI. Todavia, juntos, Espanha, Turquia, Itália e Holanda respondem por também um volume considerável.