• Estimativas recentes indicam redução na expectativa de produção de soja no Brasil, devido a condições climáticas desfavoráveis.
• O aumento do mandato de biodiesel no Brasil pode impulsionar a demanda doméstica por óleo de soja. Contudo, a volta da Argentina pode reduzir as exportações, compensando parte do efeito.
• Projeções indicam aumento moderado na demanda total por óleo, resultando em crescimento de 1-2M ton em esmagamento de soja no Brasil.
• O mercado de Chicago, que vinha sensível às condições climáticas no Brasil, tem ignorado um pouco os desenvolvimentos recentes. Vendas para exportações dos EUA e a produção argentina em 2024 são os principais fatores por traz desse comportamento
Até algumas semanas atrás, a média das estimativas privadas para produção de soja no Brasil girava em torno de 160M ton. Nos últimos dias vimos números cada vez mais baixos sendo publicados, essa média deve estar hoje em torno de ~156M ton.
“Nosso número oficial, revisado na primeira metade do mês é de 160, mas com perspectiva de queda na próxima revisão dadas as condições climáticas observadas”, diz Pedro Schicchi, analista de Grãos & Oleaginosas da hEDGEpoint Global Markets.
Embora muito menores que as estimativas iniciais de safra, esses números ainda são próximos da quantidade colhida em 22/23 – que varia em torno de 155-160 dependendo da fonte.
“É claro que a maior parte dos estados brasileiros continuará passando pelos estágios críticos de desenvolvimento até o final de janeiro. Assim, se houver manutenção das más condições climáticas, pode haver mais perdas”, explica o analista.
Do lado da demanda doméstica, tem-se que cada ponto percentual de aumento da mistura de biodiesel representa um consumo adicional de ~410K ton de óleo, dado os níveis atuais de consumo de diesel no Brasil e proporção histórica do uso de óleo.
Supondo crescimento da demanda por diesel, além do anunciado aumento do B12 vigente para B14, conforme notícias recentes, haveria um acréscimo de aproximadamente 1.1M ton na demanda brasileira por óleo e soja. Isso se traduziria em aproximadamente 5.5M ton a mais de soja esmagada necessárias, tudo o mais constante (consumo doméstico e exportações de óleo).
No entanto, um fator crucial a se considerar será a intensidade da redução nas exportações de óleo. Com uma boa produção na Argentina, maior exportador da commodity, podemos ver uma redução significativa nessa linha do balanço brasileiro.
“Hoje, estimamos esse corte entre 0,8-1,0M ton A/A mas ele pode ser até maior. Levando ambos os fatores em consideração, estaríamos olhando para um aumento mais moderado da demanda total por óleo, algo entre 0,2 a 0,4M ton a mais que em 2023”, estima Pedro.
E segue: “Quando traduzido para soja, isso nos dá o crescimento de 1-2M ton em esmagamento. Já a demanda doméstica por farelo tem crescido a taxas menores que a por óleo e, portanto, o Brasil tem se tornado cada vez mais superavitário. Em 2023 o país foi capaz de exportar volumes significativos, devido à falta de farelo argentino.
No entanto, em 2024 é provável que o Brasil precise continuar aumentando o esmagamento, para suprir a demanda por óleo, mas o “excesso” de farelo produzido pode não encontrar uma demanda tão aquecida, devido à maior competição com a Argentina”.
Mas e Chicago?
“Como já comentamos em relatórios anteriores, Chicago vinha se mostrado mais sensível ao mercado climático brasileiro que o normal devido ao balanço apertado de soja nos EUA. Assim, menor produção no Brasil significaria menores exportações do país e, portanto, uma maior procura por produto já escasso dos EUA”, aponta.
Também mencionado no relatório da semana passada, os futuros na CBOT devolveram parte das altas observadas entre outubro e novembro. Isso, os deixaria mais propensos a um movimento de alta. Contudo, ao longo da semana, viu-se estimativas menores de produção e Chicago ainda em baixa. Por quê? Há dois fatores a serem considerados, e que tem efeitos opostos nos preços.
O primeiro – e mais direto – é que a menor produção brasileira só afeta o balanço americano se as exportações aumentarem no país norte-americano, o que ainda não tem acontecido em maior escala – mas pode começar a acontecer em breve. O segundo é que a Argentina pode adicionar tempero à essa mistura. Com um volume de produção muito melhor em 23/24, o país pode exportar mais soja em grão, contrário ao seu perfil usual de venda de subprodutos.
“Esse fator é fortalecido pelas notícias recentes de equalização das “retenciones” do complexo soja, que aumenta a vantagem competitiva do exportador, versus a indústria. Em resumo, ainda existem elementos para que a redução da safra brasileira tenha efeitos altistas nas cotações em Chicago, mas deve-se observar a Argentina, que desempenhará um papel crucial em 2024”, conclui.