Desde o início de 2023, as cotações da soja registraram baixa, tendência que também foi observada no terceiro trimestre do ano, entre os meses de julho e setembro, após a colheita de uma safra recorde no Brasil, aliada a preocupações pelo lado da demanda, diante de um desempenho econômico mais fraco ao redor do mundo. O contrato contínuo da soja encerrou setembro em 1275 cents por bushel, recuo de 18,1% no terceiro trimestre.
Destaca-se que mesmo com essa tendência de queda, houve muita volatilidade no mercado, devido principalmente às condições climáticas nos EUA, uma vez que a safra 2023/24 estava em desenvolvimento, ocorrendo períodos de clima quente e seco que afetaram negativamente as lavouras. O USDA cortou a produtividade e a produção do país em meio às adversidades climáticas e novas reduções podem ocorrer. Como o balanço norte-americano de oferta e demanda está bastante restrito, há possibilidade de haver racionamento pelo lado do consumo, o que tende a impactar de forma mais intensa as exportações, cujas estimativas já apontam para queda do volume embarcado no comparativo anual.
As vendas de exportação dos EUA estão mais fracas que em anos anteriores e o mercado acompanha como serão os embarques de soja no quarto trimestre do ano, que sazonalmente é o melhor período de exportações do país. As exportações brasileiras ainda se mantêm aquecidas e há preocupações com possíveis impactos negativos sobre os embarques dos EUA, além de a baixa no Rio Mississipi e a seca no Canal do Panamá complicarem o escoamento.
Por outro lado, as perspectivas para o consumo doméstico nos EUA continuam positivas, com a demanda de óleo de soja para diesel renovável puxando o esmagamento. Há consideráveis investimentos em ampliação da capacidade de processamento da oleaginosa previstos, com o objetivo de aumentar a oferta de óleo.
América do Sul
De qualquer forma, nos próximos meses, as atenções devem estar muito centradas na safra da América do Sul. A estimativa da StoneX indica um crescimento de 2,7% na área plantada de soja no ciclo 2023/24, cujo plantio está em andamento, percentual bem mais moderado que nos anos anteriores, com uma maior cautela no campo em um cenário de preços mais pressionados.
Por enquanto, espera-se que o Brasil poderá renovar o recorde de produção deste ano, com o clima estando sob influência do El Niño. O fenômeno climático tende a aumentar os volumes de chuvas no Sul da América do Sul, situação inversa à observada no Rio Grande do Sul na safra passada. Há alguma preocupação com um padrão mais seco em estados do Norte e do Nordeste, que poderia afetar regiões produtoras do Matopiba, mas, no geral, anos de El Niño tendem a ser positivos para a produtividade brasileira. Contudo, a ocorrência de um fenômeno de forte intensidade pode resultar em chuvas excessivas no Sul e seca mais pronunciada em áreas do Nordeste.
Para a Argentina, o cenário de precipitações também deve ser positivo, após o país ter perdido mais da metade da sua safra neste ano, sob influência do La Niña. Com isso, espera-se uma recuperação, com a Bolsa de Buenos Aires estimando a área plantada em 17,1 milhões de hectares, aumento anual de 5,6%, com a produção podendo alcançar 50 milhões de toneladas, recuperando também o processamento da oleaginosa.
Com isso, por mais que a safra norte-americana tenha perdido um pouco de potencial produtivo, as estimativas iniciais apontam para um balanço mundial mais folgado no ciclo 2023/24, com a produção superando o consumo em mais de 15 milhões de toneladas, o que resultaria em aumento dos estoques globais. A principal variável que poderia alterar esse cenário seria alguma questão pelo lado da oferta no Brasil ou na Argentina.
Oferta x demanda
Ademais, além de se esperar um crescimento importante da oferta, permanecem dúvidas pelo lado da demanda, com perspectivas de avanços da população e da renda mundial mais moderados. A China, maior consumidora de soja no mundo, poderá registrar queda das importações na safra 2023/24. O USDA estima que o país importará 100 milhões de toneladas, contra 102 milhões no ciclo 2022/23. As importações recentes do país estiveram aquecidas, favorecendo a recomposição de seus estoques e há preocupações com o ritmo de consumo de farelo, mesmo com margens de esmagamento favoráveis, lembrando que o governo chinês tem incentivado a redução da participação do farelo de soja nas rações.
De qualquer maneira, a despeito de um cenário mais desafiador pelo lado do consumo nos próximos anos, quanto à safra 2023/24 muita coisa ainda pode mudar, com os próximos meses sendo determinantes para definir o tamanho da oferta neste ciclo.