As commodities intensificam suas altas de forma generalizada nesta segunda-feira (17), com os futuros do arábica se destacando na Bolsa de Nova York – com ganhos superiores a 3% – e os derivados de soja na Bolsa de Chicago, que subiam mais de 1%, ajudando a puxar os preços do grão. Milho e trigo também sobem nesta manhã de hoje, com ganhos superiores 1%. O mercado, diante de informações que já conhecem, mas que podem mudar a qualquer momento, seguem voláteis e e tentando se reposicionar entre fundamentos e o cenário macroeconômico.
No complexo soja, as altas do farelo ainda refletem as condições da Argentina e testam sua máximas em 12 sessões. “Os prêmios do farelo na Argentina também estão mais firmes, mostrando que a oferta do farelo continua muito restrita”, explica a Agrivest Commodities. “O apetite de venda do produtor argetino está muito menor, o que continua colocando as processadoras na Argentina em uma situção de alta capacidade ociosa e margens ruins”, complementa a consultoria.
Nem mesmo a terceira rodada do ‘dólar soja’, garantindo 300 pesos para 1 dólar para o produtor argentino da oleaginosa tem promovido uma mudança de ritmo nos negócios do país sul-americano. Os primeiros dias desta nova fase do câmbio diferenciado para os sojicultores resultaram em vendas de, aproximadamente, 441 mil toneladas, contra 1,6 milhões na segunda rodada e 3,1 milhões na primeira. Os dados partem da Bolsa de Comércio de Rosário.
O lançamento desta terceira etapa do mecanismo do governo argentino chega em um momento em que o atual cenário econômico é muito delicado – com índices inflacionários de três dígitos – e que em nada estimula os novos negócios com a soja ou qualquer outro produto. Além disso, as perdas ocasionadas pela seca e demais problemas acumulados pela safra argentina deixam os produtores ainda mais distantes das vendas.
“Este terceiro passo chega em um momento muito diferente se comparado aos dois anos anteriores. A produtividade é a pior em 25 anos. A perda de área de plantio foi recorde”, explica o economista chefe da Bolsa de Comércio de Rosário, Emilce Terre. Assim, este “novo” dólar soja chega para comercializar um volume de ‘apenas’ 23 milhões de toneladas de soja, contra uma safra 2021/22 de mais de 42 milhões.
No Clarín, um dos mais tradicionais jornais argentinos, a editoria de agronegócios traz em destaque a pressão que a safra recorde de soja do Brasil vem exercendo sobre os preços, inclusive no mercado argentino. O suporte ainda vem da menor oferta local – não só do grão, mas de farelo e óleo – e de estoques ajustados nos EUA. Soma-se a isso as retenciones que, apesar das perdas no campo, em nada foram reduzidas e ainda tiram 33% da margem do produtor argentino.
E enquanto os preços e a condição dos campos não ajudam, as entidades de classe continuam sinalizando que a ferramenta não será a salvação da lavoura na Argentina. “A aceleração inflacionária que temos hoje se dá, em partes, pela emissão de moedas para o dólar soja 1 e 2, deixando na mesa essa imensa montanha de pesos que contribui para a inflação. Sejam bem-vindos ao dólar soja 3”, alertou o jornalista especializado em economia, Julián Yosovitch.
Já na análise de David Miazzo, economista chefe da FADA (Fundação Agropecuária para o Desenvolvimento da Argentina), além dos preços mais baixos sendo registrados no mercado global da soja neste momento, a duração maior do programa desta vez – estando vigente até 31 de maio – também contribuiu para que os primeiros dias de vendas fosse mais lento.
“O produtor deve vir a aproveitar e vender seus grão, e é provável que a meta de 10 milhões de toneladas comercializadas seja alcançada, apesar deste início lento. E embora isso possa ser bastante positivo para o governo, para a sojicultura local nem tanto, uma vez que o ruído pode promover um aumento do custo do arrendamento da terra e dos custos de produção”, explica Miazzo.
Neste cenário, os futuros da soja encerraram o pregão desta segunda-feira (17) com altas de 11,50 a 17,50 pontos nos contratos mais negociados, levando o maio a US$ 15,16 e o agosto a US$ 14,30 por bushel. Entre as cotações do farelo, as duas mais negociadas agora subiram mais de 1% nesta primeira sessão da semana, levando o maio a US$ 465,70 e o julho a US$ 462,70 por tonelada curta. O agosto registrou alta de 0,96% para US$ 450,80.
No óleo, os ganhos também foram de mais de 1%, com o maio encerrando o dia com alta de 1,50% para 54,46 cents de dólar por libra-peso; de 1,56% no julho para 54,61 cents e de 1,33% no agosto para 54,29 cents/lp. Para os óleos vegetais, não só o de soja, o suporte também vem das preocupações com a manutenção ou não do acordo que garante o corredor de exportações de produtos agrícolas pelos portos do Mar Negro. A Rússia sinalizou, nos últimos dias, que o ambiente não é dos mais favoráveis para a renovação, a não ser que algumas das sanções impostas ao país sejam levantadas e que ela volte ao SWIFT, o sistema internacional de pagamentos.