Embarques BR x Recebimentos da China: Entenda a verdade da demanda por soja do maior comprador do mundo

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O lineup de maio nos portos brasileiros para a soja é de 15,854,76 milhões de toneladas até esta quinta-feira (25), de acordo com um levantamento da Royal Rural. Como explica Ronaldo Fernandes, analista de mercado da consultoria, “o comprador não está recuando, mas as compras estão acontecendo pontualmente, sem agressão, sem muita briga pelos preços. Agora estamos vendo certo balanço entre a oferta e a demanda”. 

Este balanço, ainda como explicam os analistas e consultores de mercado, se dão não só pela contínua demanda pela soja brasileira – que tem sido bastante intensa desde o início deste ano frente à elevada competitividade do produto nacional que contabilizou uma safra de 154 milhões de toneladas na safra 2022/23 – mas também pelo melhor fluxo de escoamento da oleaginosa. 

O pico da chegada da nova oferta passou, as condições nas regiões portuárias melhoraram e também deram espaço ao ritmo mais acelerado dos embarques. Assim, na última estimativa da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), maio deverá ser finalizado com exportações de 15,9 milhões de toneladas de soja. Ao se confirmar, este volume seria expressivamente maior do que o de maio de 2022, quando as vendas externas do Brasil foram de 10,3 milhões de toneladas. 

Nas três primeiras semanas de maio, as exportações de soja somam 9,7 milhões de toneladas, de acordo com os dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) reportados na última segunda-feira (22). “Ainda temos mais oito dias úteis para fechar o mês, assim, podemos superar esta expectativa dos 15 milhões e bater recorde histórico para o mês porque o acumulado já carrega um recorde histórico”, afirma o consultor de mercado Vlamir Brandalizze. 

Em todo 2023, o acumulado de soja exportada chega a 43,4 milhões de toneladas, contra 40,5 milhões do mesmo período do ano passado. Contabilizando todo o complexo soja – grão, farelo e óleo – as vendas já somam 52 milhões de toneladas, também maiores na comparação anual. Há um ano, este montante era de 49,3 milhões. 

E neste cenário, a China continua sendo o maior comprador da soja do Brasil. Ainda de acordo com o levantamento da Royal Rural, dos mais de 15,8 milhões de toneladas do lineup, quase 10 milhões têm como destino a nação asiática. 

“Hoje, mesmo com a recuperação dos prêmios no Brasil, a China registra a segunda melhor margem de esmagamento de soja para conveter para farelo e óleo desde 2019, desde os patamares pré-pandemia, e a quinta melhor margem da história. É uma margem ‘teórica’, mas que representa o apetite que os chineses podem ter pelo nosso produto para ser esmagado em território asiático. Então, a demanda está solidificada, a soja brasileira está extremamente competitiva, com um desconto da nossa soja que chega a quase 15% em relação às outras ofertas norte-americanas”, explica o direotr da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. 

Reveja sua última entrevista, na íntegra, ao Notícias Agrícolas nesta quinta-feira:

O executivo afirma ainda que além de ser a soja mais barata do mundo agora, a qualidade também é a mais elevada do mercado. “A demanda pelo nosso produto está aquecida e até os norte-americanos estão consumindo a nossa oleaginosa. Já são quase 800 mil toneladas vendidas de soja brasileira em direção ao Golfo. Assim, olhando para a depreciação (dos preços da soja), já passamos pelo pior cenário possível”, complementa Pereira.

Além da demanda presente, o mercado também tem registrado um fluxo melhor de negócios neste momento. “O mercado da soja está vendo as negociações fluindo, produtores vendendo para fazer caixa e quitar dívidas, agora com cerca de 57% da safra negociada, frente aos 67% do ano passado e dos 65% da media histórica”, afirma Brandalizze. Ou seja, há ainda muita soja brasileira 2022/23 a ser comercializada, porém, com uma procura pela produto ainda bastante presente. 

Considerando, ainda segundo o consultor, as estimativas que apontam a atual safra do Brasil em 156 milhões de toneladas, haveria no país cerca de 67,1 milhões de toneladas de soja a serem vendidas, contra 41,6 milhões do mesmo período do ano passado e 40 milhões de média. 

“O fato é que ainda tem muita soja para ser negociada no Brasil. Esse volume, se carregado até o segundo semestre, será um peso grande. Mas, o que vimos nestas últimas duas semanas foram vendas crescentes dos produtores, liquidando posições para fazer caixa e quitar dívidas, o que poderia ajudar o mercado evoluir mais a frente. Afinal, diminuindo a pressão de oferta e estoques, o movimento começará a dar mais fôlego às cotações e prêmios, que vem melhorando semana a semana, sinalizando que pode estar chegando ao final a fase de baixa para tentar fazer base e começar a ganhar um pouco”, traz a análise de Vlamir Brandalizze.

Enquanto os lineups seguem muito intensos no Brasil, nos Estados Unidos a comercialização segue bastante lenta. Os números trazidos pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) nesta quinta-feira, as vendas semanais para exportação da safra 2022/23 de soja foram de 115 mil toneladas, dentro das expectativas do mercado, as quais variavam entre o cancelamento de 50 mil e vendas de 300 mil toneladas. 

“A China comprou apenas 25 mil toneladas para a safra 2022/23”, diz a consultoria. O total já comprometido pelos EUA para a safra atual está em 47,8 milhões de toneladas, de um total projetado de 54,84 milhões. 

Já da safra nova, as vendas foram bem mais tímidas, de apenas 1,1 mil toneladas, enquanto o intervalo esperado pelo mercado era de 100 a 675 mil toneladas. “Para a safra nova, o total vendido está em 2,55 milhões de toneladas, contra 11,8 milhões do mesmo período do ano passado. Muito baixista”, complementou a Agrinvest. 

O cenário mostra, portanto, que a competitividade da soja brasileira permanece forte e deverá seguir dessa forma até que a nova safra americana se consolide e o mercado entenda o real tamanho da oferta americana e ela comece a se tornar mais atrativa para os compradores, em especial a China. 

Dados da Administração Geral das Alfândegas da China mostraram, na última semana, informaram que as importações brasileiras de soja em abril foram 16% menores em relação ao mesmo mês do ano passado, somando 5,3 milhões de toneladas. Os números são referentes ao volume de produto que já entrou na nação asiática e, portanto, sempre serão diferentes dos divulgados pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) sobre o volume de produto que sai do Brasil. E ambos são também diferentes dos números dos lineups, que são os registros do total já programação de navios nos portos. Lembrando que um navio graneleiro que deixa o Brasil leva, em média, 40 dias para chegar ao gigante asiático. 

Essa diferença mostra que, portanto, o vídeo de uma consultoria que circula na internet, datado de 24 de maio de 2023, por redes sociais e grupos de Whatsapp, comparando dados diferentes serviu apenas para confundir o sojicultor brasileiro. 

Assim, segundo traders internacionais, como este movimento refere-se ao recebimento do produto nos portos chineses, o atraso – e portanto o volume menor – se deu depois do atraso na colheita brasileira, bem como nos embarques ainda no Brasil, como vem sendo informado pelo Notícias Agrícolas desde o início dos trabalhos de colheita da safra 2022/23. 

Tais números, todavia, não refletem uma procura menor pela soja brasileira, como os dados registrados até aqui apontam, ainda como explicam analistas e consultores de mercado ouvidos pelo Notícias Agrícolas. Mais do que isso, não foi este o motivo de pressão sobre as cotações da soja no mercado brasileiro, ainda segundo os especialistas. 

“Estamos vendo um pequeno movimento de pessoas que tentam denegrir a parte da informação, dizendo que a informação está causando as quedas no mercado da soja. A informação não é a causa da baixa do preço, ela é apenas a consequência. O que causou a depreciação dos preços da soja foi o excesso de oferta não escoada. Se tivessemos tido condições melhores de clima nas regiões portuárias, teríamos conseguido garantir um canal mais acelerado de escoamento da soja”, afirma Matheus Pereira.

Mais do que isso, a mesma Administração Geral das Alfândegas da China informou que, no primeiro quadrimestre deste ano, as compras de soja da nação asiática somam 30,28 milhões de toneladas, 7% a mais do que no mesmo período do ano passado, mesmo com as compras em abril tendo sido 10% menores em relação ao mesmo mês de 2022, como o Notícias Agrícolas noticiou em 18 de maio

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+ Soja: Portos do Brasil registram menores patamares do ano, enquanto China cancela compras 22/23 nos EUA

Tabela de importações agro da China
Agroimportações da China de janeiro a abril – Dados: Alfândega da China 

“Nos primeiros quatro meses de 2023, a China importou mais trigo, soja, carne de porco e cevada do que no mesmo período do ano passado. O volume importado de soja é um recorde para o período. O destaque negativo está no milho, onde as compras são 8% menores”, explica a especialisya internacional em commodities, Karen Braun. 

Assim, mesmo com números ainda muito pujantes, o crescimento do consumo é insuficiente para criar um colchão mais grosso para os preços da soja – e mais commodities agrícolas como milho, trigo e óleos vegetais – depois da queda promovida pela oferta. O movimento da demanda forte pela oleaginosa brasileira tem sido reportado pelo Notícias Agrícolas desde seu início, como também mostra esta outra notícia de 15 de maio:

BOLSA DE CHICAGO

Nesta quinta-feira, os futuros da soja negociados na Bolsa de Chicago registraram uma sessão de bastante volatilidade e terminaram o dia com perdas de 0,50 a 12,75 pontos entre os contratos mais negociados. Assim, o julho fechou os negócios cotado a US$ 13,24, enquanto o novembro foi a US$ 11,72 por bushel. Além dos fundamentos já conhecidos, há também ainda muita pressão e interferência do mercado financeiro. 

Levantamento realizado pelos editores do site Notícias Agrícolas 

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