Quanto de soja o Brasil não vai entregar ao mercado nesta safra? A resposta ainda está longe de ser acertada, mas os palpites são inúmeros neste momento. Há a perspectiva dos produtores rurais, dos analistas e consultores de mercado, dos órgãos governamentais e, apesar de muito divergentes, o ponto de convergência entre todos eles é de que seus números ainda mudarão muito até que se inicie, pelo menos, a colheita da temporada 2023/24 efetivamente. As estimativas de produção entre as consultorias privadas, atualmente, ainda variam de 150,7 a 155,3 milhões de toneladas. Entre os sojicultores, todavia, a produção brasileira não alcança os 150 milhões.
“A quebra está se expandindo em uma velocidade de se tornar mais agressiva do que qualquer levantamento já trazido a público”, afirma o diretor da Pátria Agronegócios, Matheus Pereira. “Com essa quebra em expansão no Brasil, nos tornamos incapazes de bater um recorde de exportações ou de consumo de soja em 2024. Porque já não temos estoques de controle suficientes do ano passado e a oferta total não vai criar superávit, será uma safra deficitária. Então, virtualmente, teremos que consumir estoque de safras passadas para, pelo menos, equilibrar o mesmo volume de soja consumida em 2024 no planeta”.
A seguir, fotos de lavouras de soja em União do Sul, em Mato Grosso, com uma expectativa média de 30 sacas por hectare de produtividade.
Assim, esta é a segunda pergunta que o mercado se faz. Vai faltar soja em 2024 no comércio global? Qualquer resposta, ao menos por enquanto, seria insuficiente e pouco assertiva neste momento. Há uma parcela considerável de analistas e consultores que acreditam que a “normalização” da produção na Argentina, que sofreu quebras históricas nos últimos três anos, poderia compensar as perdas que se acumulam nos campos brasileiros. Assim, a indefinição é uma marca forte e profunda deste momento, tal qual suscetível a mudanças ainda bastante significativas.
Na perspectiva de Luiz Fernando Gutierrez, analista da Safras & Mercado, considerando uma safra brasileira – no pior dos cenários até o momento – de 150 milhões de toneladas e uma safra “regular” da Argentina de 48 a 50 milhões de toneladas – são cerca de 200 milhões de toneladas, entre os dois países e “isso é mais do que produzimos em 2023, porque a Argentina teve uma safra de 21 milhões só. Então, jogando isso no quadro mundial – contabilizando ainda uma safra de perto de 10 milhões de toneladas no Paraguai e também uma recuperação do Uruguai – ainda aponta para uma produção maior do que a do ano passado, e estoques maiores, mesmo com um aumento de consumo sendo esperado. Porque o aumento de consumo é estimado entre três e quatro milhões para 2024 é menor do que o aumento de produção mesmo com as perdas que já são contabilizadas”.
Para que se fale, em termos práticos de falta de soja seria apenas possível, ainda na análise de Gutierrez, diante de uma produção brasileira inferior a 150 milhões de toneladas.
“Mas está muito incerto ainda. Neste ano está muito difícil quantificar as perdas, acho que ainda podemos ter surpresas tanto negativas, quanto positivas em alguns estados, como o Rio Grande do Sul, parte dos Sudeste, do Centro-Oeste. A dúvida ainda é o Matopiba. Mas, acho que ainda é cedo para falarmos em ‘falta de soja’, depende ainda muito da Argentina agora e da confirmação da safra aqui no Brasil”, diz.
Os relatos trazidos pelos produtores brasileiros de soja neste momento são os mais diversos. Nos vídeos abaixo, o primeiro mostra um capo de soja em excelentes condições e que deverá resultar em um satisfatório potencial produtivo em Toledo, no Paraná. Já no segundo, a seca matou um outro campo em Nova Mutum, no Mato Grosso.
E as previsões seguem indicando um cenário de condições climáticas ainda muito irregulares para esta última semana de 2023 no Brasil, com uma virada do tempo esperada para acontecer junto com a virada do ano. Nesta semana, até sexta-feira (29), de acordo com as informações do Inmet (Instituro Nacional de Meteorologia) as chuvas ainda se mostrarão escassas em boa parte do Centro-Norte do país, em especial nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, além de seguirem acima do normal para este período no Sul do país, com foco ainda sobre o Rio Grande do Sul. E pelas temperaturas ainda muito elevadas, algumas regiões poderiam voltar a sofrer com queda de granizo no estado gaúcho.
Já no final de semana, os mapas mostram que as chuvas podem vir mais volumosas para boa parte do Matopiba, partes de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e de São Paulo, além de mais volumes chegando ao Rio Grande do Sul.
Os mapas abaixo mostram as chuvas esperadas, na esquerda, para 26 de dezembro a 3 de janeiro e, na direita, de 3 de janeiro a 11 de janeiro. Veja:
Reveja a entrevista completa de Andrea Ramos, meteorologista do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) ao Notícias Agrícolas nesta terça-feira (26):
No Rio Grande do Sul, o plantio segue atrasado por conta dos solos ainda muito encharcados e muitas áreas em que os trabalhos de campo puderam evoluir acabaram por se perder em função das precipitações excessivas.
O excesso de chuvas que castiga os produtores gaúchos preocupa também produtores em partes da Argentina. Outras tempestades chegaram a regiões produtoras de grãos ao sudeste de Buenos Aires. Além das chuvas intensas, fortes rajadas de vento e queda agressiva de granizo também foram registradas, causando alguns estragos consideráveis em propriedades rurais, de acordo com informações do portal local Infocampo.
Segundo os primeiros números levantados pela FAA (Federação Agrária Argentina), algumas localidades falam em perdas de 70% a 100% em seus cultivos de verão e algo como 60% no que ainda restava das safras de inverno.