A Pátria Agronegócios divulgou sua primeira estimativa para a safra 2023/24 de soja do Brasil nesta terça-feira (18) em 155,81 milhões de toneladas. O número reflete um tímido aumento estimado para a área de plantio de 0,48% – para 44,48 milhões de hectares – na comparação com a safra anterior. Trata-se do menor incremento de área no país desde a safra 2006/07. “A desaceleração na expansão vem pela dificuldade na projeção de rentabilidade para o próximo ciclo e pelo sentimento generalizado da contenção de riscos”, explica a consultoria.
O número fica bem distante da estimativa do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) de 163 milhões de toneladas, porém, muito mais palpável e próximo da realidade dos sojicultores brasileiros. Em sua última entrevista ao Notícias Agrícolas, Matheus Pereira, diretor da Pátria, já havia informado que os números da empresa estavam sendo finalizados e que, fato, o aumento da área dedicada à soja seria pouco expressivo.
“No nosso próximo levantamento, que sai em setembro – que é quando temos o início do plantio em alguns locais – espero que esse 0,5% de aumento de área possa se tornar uma estagnação ou até mesmo uma contração. Vemos, principalmente, os gaúchos tentando desenvolver planos para, ao invés de colocar a soja no campo, colocar o milho verão, que é uma cultura que tem uma projeção de ganho de lucro até um pouco melhor do que a da soja. E a última contração de área que tivemos (para o Brasil) foi há 17 anos”, diz.
Pereira explica que essa perspectiva é resultado das relações estabelecidas com os produtores rurais e dos levantamentos estatísticos feitos por estado feitos pela consultoria. Neste primeiro reporte, a Pátria já sinaliza um aumento de 9,2% de área na região Norte, por exemplo, enquanto estima também uma retração de 0,5% no Nordeste; 2,9 no Nordeste e de 1,6% no Sul.
A produtividade também deverá ser maior e, neste caso, de 1,1% em relação à safra 2022/23, podendo alcançar a média de 58,4 sacas por hectare (3,503 kg/ha). Ao mesmo tempo em que a média da região Nordeste deverá apresentar um crescimento de 5% – para 63,9 sacas por hectare, se estima uma diminuição de 4,9% para o Sul, com 45,9 scs/ha.
“A produtividade foi projetada baseada no crescimento médio estatístico dos últimos 10 anos para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul; e nos últimos 5 anos para o Norte e Nordeste”, informa o reporte da Pátria.
Pereira lembra ainda que as estimativas – e não só as a da Pátria – esbarram no cenário climático em que a nova temporada vai se desenvolver, especialmente com um forte El Niño no horizonte, o que deve garantir um ano bastante desafiador ao produtor brasileiro. “A chegada antecipada das chuvas no Centro do país já em meados de setembro abrirá uma boa janela de plantio, entretanto, trazendo riscos de chuvas abaixo da média em novembro, dezembro e janeiro para todo o Centro-Oeste do Brasil, assim como no Nordeste e Norte”, explica.
A dificuldade das projeções de margem está no centro das preocupações do produtor brasileiro quando o assunto é a safra 2023/24, o que tem, inclusive, garantido ao país o ritmo de negócios antecipados mais lento em 10 anos, como noticiou o Notícias Agrícolas.
E a reticência do sojicultor continua, principalmente, diante de alguns insumos em que as relações de troca já tiveram seus melhores momentos – como é o caso dos fertilizantes – ou frente a alguns que subiram expressivamente em relação à temporada anterior, como é o caso das sementes. Em se tratando de fertilizantes, “temos ainda cerca de 20% ainda do mercado de soja para rodar, ou seja, para o produtor comprar o fertilizante”, explica o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza, em entrevista ao NA nesta terça-feira (18).
Ainda assim, o especialista orienta o produtor a aproveitar os momentos – já escassos – de relações de troca ainda favoráveis. “A relação ainda está favorável. Isso significa que ele pode tomar a decisão mais tranquilo para a soja”, complementa.