Mais uma semana termina com problemas acumulados e preocupações se agravando sobre a safra de soja em andamento no Brasil. Já é consenso entre boa parte dos analistas e consultores de mercado que a produção 2023/24 não deverá alcançar as estimativas iniciais ou mesmo chegar aos 160 milhões de toneladas. Os produtores concordam e trazem relatos bastante preocupantes, reflexos ainda das adversidades climáticas. As chuvas continuam chegando ao país de forma bastante irregular, mas não sendo benéficas para nenhuma das principais regiões produtoras.
Os dias continuam sendo de chuvas muito intensas no sul do Brasil e um dos locais onde os alertas são mais graves agora é o Paraná. Desde o início de outubro, o estado vem recebendo elevados volumes de precipitações, impedindo que o plantio caminhe em um ritmo ainda mais acelerado. Ainda assim, o estado, segundo maior produtor brasileiro de soja, é o mais adiantado na semadura, com 46% concluída de uma área estimada em 5,8 milhões de hectares, de acordo com dados do Deral (Departamento de Economia Rural) da Secretaria de Agricultura do estado.
“E as condições das lavouras plantadas estão boas, na maioria”, informa o reporte da instituição. As imagens abaixo são da região de Itambé, do produtor rural Nivaldo Forastieri, que relata que, embora as chuvas estejam irregulares, têm sido suficientes para atender às necessidades mínimas das plantas.
“Nossa região não está com essa chuva torrencial. Aqui, as chuvas estão manchadas, mas está chovendo. Estamos em uma região de transição da região de muita chuva para a região de chuvas ruins. Mas, está chovendo e as lavouras, na sua grande maioria, estão boas ou excelentes”, relata Forastieri. “Só tenho um lote que vem pegando pouca chuva, mas ainda aguenta firme. A cidade tem regiões que produtores estão replantando por causa de chuva pesada, mas nada de exagero”.
No oeste e no norte do Paraná, todavia, o temor é outro e a sinalização é de que, inclusive, muitas áreas terão de ser replantadas dada a falta de chuvas que castiga a região.
Já em Terra Nova do Norte, em Mato Grosso, as imagens são menos otimistas. As fotos são de Gilberto Leal, com lavouras de soja plantadas há quase 30 dias, na região da BR-163, em Terra Nova do Norte, e mostram o sofrimento das plantas por conta da seca e das elevadas temperaturas.
Na região do Xingu, o relato do produtor rural Sadi Fronza é semelhante. “A emergência é boa, mas estamos apreensivos, precisando de chuvas”, diz. As imagens abaixo mostram as plantas recém germinadas na região.
O estado, que é o maior produtor de soja do Brasil, é o que carrega maior índice de necessidade de replantio e as preocupações se elevam e se agravam. Observando os custos de produção da safra 2023/24, apesar de alguns insumos terem baixado em relação à temporada anterior, as sementes subiram e deixaram as relações bastante fragilizadas. Números trazidos nesta sexta-feira (20) pela Pátria Agronegócios, apontam que a semeadura mato-grossense alcançou 58,60% da área, ainda apresentando atraso em relação a 2022, quando o índice era de 66,84%. A média para o estado, dos últimos cinco anos, é de 50,64%.
Apesar das preocupações, há muitos produtores plantando com o tempo mais seco, aguardando pela confirmação de que chuvas melhores deverão chegar ao Centro-Norte do Brasil neste final de outubro, já começando na próxima semana. Na semana passada, o levantamento da Pátria apontava para apenas 27,1%.
“Apesar do bom ritmo de trabalhos de campo observado no Mato Grosso, os demais seguiram em ritmo lento diante da falta de chuvas generalizadas e temperaturas elevadas”, afirmou a Pátria em seu reporte semanal. “O destaque fica para o avanço nacional deste ano, que pela primeira vez neste ciclo safra, caiu abaixo da média de 5 anos”. O plantio da soja brasileira, até esta sexta, atingiu 29,84% da área, contra 37,60% de 2022 e 30,06% da média dos últimos cinco anos.
No Paraná, a área plantada chegou a 51; no Goiás, 23,1%; no Mato Grosso do Sul 21,5%; em São Paulo 22,7; em Minas Gerais, 8,5% e em Rondônia, 40,2%.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas nesta sexta-feira, Francisco de Assis Diniz, meteorologista e consultor em clima, informou que a nova semana ainda deverá ser marcada por temperaturas bastantes altas no Centro-Norte do Brasil, mas também pelo estabelecimento do período chuvoso no Centro-Oeste. No Matopiba – onde as preocupações com a escassez de precipitações também têm sido recorrentes – as chuvas podem começar a voltar, porém, as “plantadeiras” somente mais a frente.
Reveja:
REAÇÕES DO MERCADO
Apesar dos problemas e das preocupações que se acumulam neste início de safra no Brasil, as reações no mercado de Chicago ainda são limitadas para os preços da soja. Nesta sexta, os futuros da oleaginosa encerraram o dia com baixas de 7,50 a 13,25 pontos, levando o novembro a US$ 13,02, o março a US$ 13,31 e o maio a US$ 13,44 por bushel.
“A alta do petróleo e do óleo de soja, associada a preocupações com o atraso do plantio da soja no Brasil, já que algumas áreas do país não estavam recebendo níveis adequados de chuvas para dar início ao plantio, deram suporte para que a soja em Chicago subisse bem na parte da manhã. Contudo, nesta tarde, os futuros recuaram forte na CBOT, já que os modelos climáticos rodados hoje apontam para uma melhora no clima do Brasil, com bons níveis de chuvsa previstos para os próximos 15 dias, tanto no modelo americano, quanto no europeu”, informou a Agrinvest Commodities.