Diferente dos últimos anos, em especial 2021, a demanda da China por soja deverá continuar caminhando em um ritmo mais lento daqui em diante. As compras do maior importador global da oleaginosa não deverão ser, como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, Eduardo Vanin, tão pujantes como em temporadas anteriores. “Vamos ver um vai-e-vem, um elástico nas compras. Não vai ser como em 2021, quando os preços não importavam tanto”, disse. Em setembro, as importações de soja pela nação asiática foram de 7,15 milhões de toneladas, abaixo da média para o mês e ligeiramente aquém das expectativas do mercado.
Parte disso, segundo Vanin e mais analistas internacionais, está bastante relacionado ao comportamento da suinocultura no país, que impacta diretamente no complexo soja e, consequentemente, no esmagamento. “Margens ruins de processamento, margens ajustadas entre os suinocultores e as perspectivas de preços pressionados de soja contribuíram para o volume mais baixo”, afirmou a especialista em commodities agrícolas, Karen Braun.
Em relação ao mesmo mês de 2022, as importações de soja da China apresentaram uma queda de 7,3%.
“É um número relativamente baixo para setembro, e isso pode criar um aperto nos suprimentos no quarto trimestre”, disse Darin Friedrichs, cofundador da Sitonia Consulting, sediada em Xangai, à agência internacional Reuters.
Ao mesmo tempo, o Departamento Nacional de Estatísticas, nesta quarta-feira (18), trouxe dados que mostram que a produção de carne suína para o terceiro trimeste registraram um expressivo aumento de 4,8% na comparação anual, alcançando 12,69 milhões de toneladas. Trata-se do maior volume em uma década para um trimestre. Os suinocultores têm ampliado sua produção nos últimos anos, recuperando-se também – e de forma expressiva – da derrocada na produção ao ser atingida severamente pela peste suína africana, com o pico do surto da doença em 2018.
No acumulado do ano, a produção chinesa de carne suína soma 43,01 milhões de toneladas, 3,6% maior do que no mesmo período de 2022. “E vai continuar crescendo, mas com margens negativas e em um cenário que pode se agravar”, explica Eduardo Vanin. E este é o ponto de atenção na relação entre suínos e complexo soja. Afinal, enquanto a produção de carne suína aumenta, o consumo não acompanha.
Com o consumo mais contido, a dinâmica vai se redesenhando em todos os elos da cadeia. Um dos sinais deste momento são as vendas de farelo de soja menores neste momento. “A grande questão é esta agora, como ficará a demanda por farelo. O feriado do Golden Week foi fraco (em termos de consumo em relação a anos anteriores) e precisamos saber como será o final do ano”, complementa o analista da Agrinvest.
E apesar das vendas mais lentas, os estoques do derivado na China são apertados, em média podendo atingir cerca de oito dias ao consumidor final, quando o normal para este período seria de um mês. “E não há nada muito diferente no horizonte para acontecer que posa promover um pico no consumo de carnes na China”, explica o analista. Assim, o monitoramento deverá ser constante.
Neste novo ambiente, o mercado da soja tende a manter a volatilidade ainda muito latente, já que os agentes deste mesmo mercado vão seguir buscando acertar o direcional dos negócios de forma cada vez mais otimizadas, principalmente com este cenário de margens mais ajustadas, apesar de preços pressionados não só na soja, mas entre a a maior parte das commodities agrícolas.
O Brasil deverá seguir no centro das atenções dada a sua competitividade. Embora para o final deste ano e janeiro de 2024, os EUA deverão ser mais competitivos com a chegada da nova oferta, na sequência a soja brasileira já passa a ser mais barata e a atrair os olhares dos compradores, em especial da China.
No acumulado deste ano, as compras de soja do país asiático já somam 77,8 milhões de toneladas, sendo 14,4% maiores do que no mesmo período de 2022, e com chegadas maiores de produto brasileiro.