Algodão do BR tem preços mais competitivos, mas desafios logístico e frequência das exportações

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O algodão brasileiro está mais barato e, portanto, mais competitivo no mercado internacional neste momento. Com um volume maior de produção na última temporada e boas perspectivas para esta que está sendo cultivada agora, a oferta mais abundante por aqui em anos em que os Estados Unidos – maior exportador mundial da pluma – tem tido problemas com sua produção em função do clima, se mostra como uma alternativa forte entre as principais origens. 

Segundo explica o consultor de inteligência de mercado da StoneX, Pery Pedro, a tonelada do algodão americano tem estada na casa dos US$ 2000,00 por tonelada, posto na Ásia, com o brasileiro registrando um valor que a ser até US$ 130,00/t menor neste momento. O normal, porém, seria esta diferença ser a metade do que está se praticando. 

A StoneX estima que a nova safra brasileira de algodão seja de 3,33 milhões de toneladas, 5,1% maior do que a anterior. 

Os estoques brasileiros de algodão são, neste momento, recordes e responsáveis, portanto, por parte destes preços menores frente a seus concorrentes. De acordo com números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), os estoques finais da pluma 23/24 do Brasil passam de dois milhões de toneladas, registrando um aumento de 7,3% em relação à temporada anterior. 

Gráficos Algodão (2)
Gráfico: StoneX

Assim, “com o Brasil consolidando estes patamares de produção perto de 3 milhões de toneladas, temos que escoar muito este ano. E temos que nos acostumar com isso, a continuar escoando muito”, afirma Pedro. Em 2023, o Brasil exportou mais de 1,6 milhão de toneladas de algodão, porém, precisa mirar horizontes maiores para garantir um equilíbrio mais consistente do mercado nacional e, consequentemente, preços mais atrativos aos produtores. 

Gráficos Algodão (1)
Gráfico: ComexStat/MDIC

De 2018 a 2020, as vendas externas do Brasil registraram um crescimento intenso e consistente, porém, a pandemia do Covid-19 afetou diretamente no coração deste mercado. A demanda pela pluma registrou anos muito ruins, ainda sente alguns efeitos – em especial por não se tratar de uma commodity alimentar, tendo amargado também duros momentos de preços nas bolsas de valores, refletindo as preocupações com a saúde da economia global, em especial da China – mas tem buscado tomar um fôlego. 

“A demanda ainda não voltou completamente, mas está melhorando”, afirma o consultor da StoneX. E esta melhora, mesmo que ainda a passos lentos, tem contribuído para uma melhora das cotações da fibra na Bolsa de Nova York. “Tivemos um tombo em outubro, novembro. De novembro para dezembro uma estabilidade, vira o ano o mercado rompe os 79 cents de dólar por libra-peso, vai a 80, 81 e testando patamares mais altos”, afirma Pery Pedro. Nesta semana, os futuros da pluma já têm variado de 83 a 86 centavos de dólar por libra-peso. 

Os três maiores compradores do algodão brasileiro são a China, Bangladesh e o Vietnã. Em 2023, do total exportado pelo Brasil, responderam por, respectivamente, 49%; 13% e 12%. E a produção chinesa nesta temporada, segundo o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) deverá ser até 3 milhões de fardos menor do que a anterior, ficando em 27,5 milhões. O comportamento do consumo do gigante asiático, no entanto, é uma das perguntas que o mercado se faz agora. 

Gráficos Algodão (3)
Gráfico: ComexStat/MDIC

Ainda na perspectiva do departamento norte-americano, as importações dos três países deverão ser maiores na temporada 2023/24, com a China apresentando um incremento expressivo de 6,23 para 11,5 milhões de fardos; o Vietnã de 6,47 para 6,7 milhões e Bangladesh de 7 para 7,5 milhões de fardos. 

Desta forma, os dois maiores desafios do setor algodoeiro contiuam em pauta e ainda mais intensos. “Primeiro, é o desafio da exportação. Precisamos escoar bem, tirar todo esse algodão daqui e, neste ponto, a Abrapa tem feito muito bem seu papel. Tem promovido o algodão brasileiro, fazendo um bom trabalho na rastreabilidade, na qualidade. E o segundo, é o logístico. Temos que continuar batendo nisso, gerando oportunidade nos portos, e seguir escoando de forma consistente e com frequência”, afirma o consultor em inteligência de mercado da StoneX. 

Pedro explica ainda que em um mês bom o Brasil consegue exportar cerca de 300 mil toneladas, nos picos da exportação. “Mas conseguimos exportar esse volume, mensalmente, por seis a nove meses? É isso que precisamos avaliar”, diz. Atualmente, o porto de Santos, em São Pualo, responde pela maior parte do algodão exportado pelo Brasil, cerca de 97%. Na sequência, são Paranaguá e Salvador. 

Nos 19 dias úteis de janeiro de 2024, o Brasil exportou 240,398,7 mil toneladas de algodão, contra pouco mais de 123 mil toneladas de todo janeiro de 2023. 

Os números são fortes, mas o consultor afirma ainda que as vendas estão atrasadas por parte dos produtores, e as compras também estão. “Na cadeia toda os negócios estão bem esvaziados”, diz. E isso se dá mesmo com patamares atuais de preços que estão próximos da remuneração adequada. “No entanto, é preciso lembrar que o algodão tem um risco desproporcional em relação às outras commodities”. 

BRASIL PLANTOU MAIS ALGODÃO EM 23/24, MAS DEVE COLHER MENOS

Com semeadura passando da metade, área será maior, mas projeção é de menos produtividade

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima a safra 2023/24 de algodão do Brasil em 3,099 milhões de toneladas. Apesar de um aumento de área estimado em 6,2%, a entidade projeta produtividade 8% menor em 1.754 kg/ha, contra a média de 1.905 quilos por hectare que resultou na produção total de 3,169 milhões de toneladas de algodão em pluma no ciclo 2022/23. 

“Tivemos forte calor e estiagem que prejudicaram algumas lavouras de soja, com isso houve uma troca de posição com alguns produtores sacrificando a soja para fazer apenas uma safra de algodão. Então temos esse crescimento de área, mas apesar te termos tido uma mega produtividade na safra passada, não quer dizer que vai se repetir para o próximo ano”, comenta o Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel.

Com 77% da área brasileira já semeada, conforme aponta o último levantamento da Conab, e as lavouras se dividindo entre 41% na emergência, 55,1% em desenvolvimento vegetativo e apenas 3,8% na fase de floração, as condições de clima daqui para frente ainda vão ser fundamentais para definir a produtividade e produção.

No Mato Grosso, estado com a maior produção nacional, o plantio já passou dos 77,05% e apresenta adiantamento de 29,24 pontos percentuais com relação ao mesmo período da safra passada, conforme mostra o último relatório divulgado pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

O Instituto ainda projeta uma produtividade 8,61% menor do que a da safra passada, em 284,35 @ por hectare e uma produção final de 5,78 milhões de toneladas de algodão em caroço, o que cresce 2,91% do registrado em 2022/24 em função de uma elevação de plantio na casa dos 12,6%.

“Até o momento não houve relatos de dificuldades para o algodão por conta do clima. A produtividade deverá, porque a última safra foi recorde de 311 @/ha. Mesmo assim esperamos que a produção cresça por conta da área maior. Uma rentabilidade menor do milho e o clima ruim para a soja acabaram trazendo áreas para o algodão”, relata a Gestora do Imea, Vanessa Gasch.

Segundo maior produtor brasileiro, a Bahia é outro estado onde a área de plantio cresceu, mas a produtividade deverá cair. A Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), aponta que houve aumento de plantio no estado e que esperava uma produtividade média de 310 @ por hectare, mas muitas áreas não devem chegar neste patamar pelas dificuldades de clima.

“O clima esse ano com o El Niño trouxe chuvas abaixo da nossa necessidade. Nós antecipamos o plantio prevendo o El Niño do dia 21 de novembro para 11 de novembro, porque como as chuvas cortam mais cedo no El Niño tentamos plantar mais cedo. Porém as chuvas não vieram para que isso acontecesse e o plantio começou em 20 de novembro naquelas propriedades que tiveram chuvas razoáveis. Algumas fizeram o plantio e esse plantio que deu certo está muito bom. Depois esperaram as próximas chuvas que vieram em dezembro, alguns arriscaram no pó, e esse teve replantio e alguma coisa virou para janeiro. Então temos 3 épocas de plantio e agora o que vai determinar isso é a chuva em janeiro, fevereiro, março e até abril”, diz Luiz Carlos Bergamaschi, Presidente da Abapa.

Na safra passada, o posto de maior produtividade média do Brasil ficou com Minas Gerais, que colheu 2.045 quilos de algodão em pluma por hectare. Nesta atual temporada, o estado também espera colher menos do que o registrado nas últimas atividades, apesar de ainda projetar bons resultados, acima das médias históricas.

“O início foi difícil, tivemos problemas com falta de chuvas e com excesso de chuvas, mas o plantio ficou dentro da janela ideal e o produtor está conduzindo bem suas lavouras. Nós iniciamos a nossa expectativa colocando uma média histórica em torno de 289 e 290 @ de algodão em caroço por hectare e agora subimos um pouco essa régua para 300 @ de média. É menor do que a safra passada, mas porque a safra passada foi excepcional”, explica o Diretor Executivo da Amipa, Lício Pena.

Já em Goiás, a perspectiva da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa) difere dos outros estados, já que as projeções apontam para um aumento na produção estadual de algodão em pluma, além de um crescimento na área semeada nesta safra 2023/24.

“O algodão deve ter um crescimento de 17,5% em área, mas quando falamos em produção esse aumento de ser entre 12 e 13%. Isso porque estamos sendo um pouco conservadores na estimativa de produtividade uma vez que a safra 22/23 foi muito positivo. Então devemos produzir 62 mil toneladas algodão em pluma, o que coloca Goiás com o terceiro maior produtor do Brasil”, pontua o Presidente da Agopa, Haroldo Cunha.
 

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