Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) – A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) publicou nesta quarta-feira edital de compra de cerca de 104 mil toneladas de arroz importado por terceiros, em programa que visa evitar alta no preço do produto básico por conta de perdas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, o principal Estado produtor do país.
O Rio Grande do Sul normalmente produz cerca de 70% da safra de arroz do país. Ainda que a colheita já estivesse em estágio avançado antes das inundações, com mais de 80% da área colhida, há preocupações com especulações, mesmo que os produtores gaúchos tenham afirmado que a oferta será suficiente para atender a demanda nacional.
“O governo federal não pensa em hipótese alguma concorrer com os produtores de arroz que passam por dificuldades. Nosso objetivo é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país”, disse o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em nota nesta quarta-feira.
Segundo ele, as operações vão focar o arroz pronto para consumo, “já descascado, para não afetar a relação de produtores, cerealistas e atacadistas”.
Fávaro havia dito inicialmente a jornalistas que a Conab buscaria “arroz no mercado internacional”.
O governo prevê que operação possa envolver até 1 milhão de toneladas de arroz, beneficiado ou em casca, reiterou uma nota do Ministério da Agricultura nesta quarta-feira.
A compra de 104 mil toneladas, em leilão previsto para o próximo dia 21, integrará a primeira fase do programa.
A Conab vai comprar, em leilão público, o arroz importado por terceiros, conforme estabelecido no edital divulgado nesta quarta-feira.
Para o programa, o ministério terá 416 milhões de reais para aquisição do arroz e 100 milhões de reais para as despesas relativas a equalização de preços para a venda do produto.
De acordo com o consultor Carlos Cogo, é preciso cautela sobre os efeitos do programa, se ele será operacionalizado dentro do previsto, já que o simples fato de o país ter anunciado as compras de arroz já elevou os preços no Paraguai, uma origem vista como possível pelo governo.
“O anúncio do governo elevou o valor FOB Paraguai para 800 dólares/tonelada do arroz beneficiado. Eles não vão conseguir importar e vão inflar ainda mais os preços no varejo”, alertou, citando que antes as cotações no país vizinho estavam em torno de 700 dólares/tonelada.
O volume de 104 mil toneladas previsto no primeiro edital de compra será destinado à venda para pequenos varejistas e equipamentos públicos de segurança alimentar e nutricional das regiões metropolitanas dos Estados de São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará, Ceará, segundo nota do ministério.
No acumulado do mês, o preço do arroz em casca posto na indústria gaúcha subiu 4%, pra 111,48 reais a saca de 50 kg, segundo dados do Cepea/Irga, em meio a especulações sobre o impacto das chuvas, em um mercado com “baixa liquidez”, reforçada pelos problemas logísticos que afetam o Estado atingido pelas enchentes.
MÁXIMO DE R$4/KG
O arroz que será comprado pela Conab chegará ao consumidor brasileiro por no máximo 4 reais o quilo, disse o presidente da estatal, Edegar Pretto, acrescentando que o arroz terá uma embalagem especial do governo federal, indicando o preço que deve ser vendido ao consumidor.
A Conab afirmou ainda em nota que o produto deverá ser descarregado nos portos de Santos (SP), Salvador (BA), Recife (PE) e Itaqui (MA).
O cereal deverá ser empacotado em embalagem de 2 kg padronizada, com a logomarca do governo federal.
(Por Roberto Samora)