A Associação de Café do Japão publicou, na última semana, os dados relativos aos estoques nos três primeiros meses de 2024. A Hedgepoint Global Markets aborda, em relatório, os resultados apresentados.
Depois de atingir mínimas históricas em 2023, a tendência para 2024 é de recuperação (figura 1). Por outro lado, é bom notar que essa recuperação tem sido lenta: em março, os estoques atingiram 2,46M sc de sacas, 1,1% a mais que em fevereiro e 1,3% em relação ao ano anterior. Durante esse período, o Brasil e, em menor escala, o Vietnã foram os principais fornecedores, enquanto a participação dos grãos da América Central diminuiu (figura 2).
“Um aumento das importações na safra 23/24 é o principal suporte dessa ligeira recuperação dos estoques japoneses de café, ainda que os números, de forma geral, sejam inferiores aos de anos anteriores e possam vir acima da expectativa nos próximos meses”, diz Laleska Moda, analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.
Na temporada 22/23, as importações de café verde alcançaram 2,16M sc entre de outubro e fevereiro, enquanto no mesmo período de 23/24 o volume foi de 2,5M sc, um aumento de 15,9% e acima de nossas estimativas anteriores.
Segundo Laleska, com base no cenário mais otimista dos dois últimos indicadores, “também esperamos uma recuperação da demanda aparente em relação às estimativas anteriores. A demanda acumulada nos cinco primeiros meses da temporada 23/24 alcançou 2,58M sc, 3,5% acima da estimativa anterior e 1,8% acima do mesmo período da temporada 22/23 (figura 3). Embora possa haver mudanças na tendência, com base neste cenário ainda podemos ver uma correção positiva na demanda aparente do Japão na temporada 23/24, que atualmente está estimada em 6,18M sc”.
“Por último, em relação ao tipo de café procurado, a tendência de 23/24 continua a ser para uma diminuição da mistura de arábica. Por outro lado, como já foi referido nesta análise, continuamos a presenciar uma mudança na origem deste café, com um aumento dos grãos brasileiros”, observa.
Nesse sentido, as exportações acumuladas do Brasil para o Japão nos últimos 6 meses aumentaram 6,4% em relação ao período anterior, de acordo com o Cecafe. Enquanto as exportações de arábica para o país asiático aumentaram 5% nesse período, as de conilon cresceram 102,2%.
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O aumento do café brasileiro está em linha com os últimos números de exportação publicados pelo Cecafe: os embarques de café verde atingiram 3,90M sc em abril, elevação de 61% frente ao mesmo período do ano passado.
“Os dados confirmam a tendência dos meses anteriores, indicando que 2024 pode terminar com maiores exportações brasileiras”, acredita.
Os embarques de arábica totalizaram 3,22M sc, 2,4% a mais que em março e 40,1% acima do ano passado. Para o conilon, apesar de uma queda de 20,9% em relação a março (recorde para o trimestre), as exportações ainda são cinco vezes maiores do que no mesmo período de 2023, atingindo 676,7 mil sacas, uma vez que os grãos brasileiros estão preenchendo a lacuna deixada pelo Vietnã e pela Indonésia.
“À medida que a safra 24/25 no Brasil ganha ritmo, as exportações tendem a aumentar nos próximos meses, elevando as expectativas”, pondera.
Por último, no que se refere à produção da safra 24/25, relatórios recentes destacaram preocupações quanto ao rendimento no processamento dos grãos. Embora seja muito cedo para fazer estimativas concretas, precipitações inferiores ao esperado em 2024 podem ter impactado o enchimento dos grãos. Neste sentido, o mercado acompanhará de perto a evolução dos rendimentos, uma vez que a colheita está prestes a atingir seu pico nas próximas semanas.
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Em resumo, os dados da Associação de Café do Japão apontam para uma recuperação dos estoques, apoiada sobretudo por importações superiores às previstas em 23/24. Embora esses indicadores ainda sejam inferiores aos de anos anteriores, o desempenho foi melhor que o esperado e pode apoiar uma recuperação da demanda aparente.
O Brasil também desempenha um papel importante nas cifras de importação de café do Japão, uma vez que tem aumentado sua participação como fornecedor. Os grãos brasileiros estão atualmente muito demandados no mercado e continuarão assim, especialmente para a variedade conilon, dado o declínio das exportações do Vietnã e da Indonésia.