Mesmo sem choques exógenos positivos na demanda externa, com uma China lenta e embargando a proteína bovina brasileira por um mês no 1º trimestre do ano, além dos primeiros registros de gripe aviária da história em território nacional, volumes de embarques das carnes bovina (2,01 milhões de toneladas), suína (1,09 milhão de toneladas) e de aves (4,80 milhões de toneladas) in natura foram recorde em 2023.
Limitações de precificação em especial dos cortes bovinos brasileiros destinados à exportação impediram que o recorde também fosse atingido em faturamento para o complexo de carnes, mas ainda assim é válido destacar que a receita das exportações de proteínas de aves e de suínos foi a maior da história. Em um ano de grandes dificuldades para diversos dos principais mercados globais de carnes, o Brasil se sobressaiu mais uma vez. Ainda que os preços de comercialização baixos tenham limitado ganhos aos exportadores brasileiros, a capacidade de ajuste das cotações reforça a elevada competitividade dos agentes no mercado internacional.
É possível que um resultado similar seja registrado novamente em 2024, na medida em que há expectativas de restrição do excedente exportável de grandes exportadores como UE, Argentina e os Estados Unidos, além dos reforços exógenos como o recente anúncio de isenção tributária das importações de carnes do México, a volta dos surtos de gripe aviária nos plantéis norte-americanos e europeus e até mesmo o possível aumento temporário das retenciones argentinas.
Entretanto, é importante destacar que também existem incertezas significativas sendo avaliadas e monitoradas pelo mercado, que podem limitar o potencial de incremento dos embarques brasileiros de carnes. O próprio mercado chinês ainda relativamente lento e com algum excesso de oferta doméstica de suínos é um dos principais riscos a serem acompanhados pelos agentes, apesar de existirem expectativas um pouco mais construtivas para a segunda maior economia do mundo em 2024. Ademais, a conjuntura macroeconômica e geopolítica global delicada também deve seguir como um pano de fundo basilar para o direcionamento e consolidação dos fluxos de comércio das proteínas brasileiras, ainda que o posicionamento estratégico do Brasil no mercado internacional seja um fator preponderante em cenários sistematicamente críticos.