Após estar muito presente na safra de verão da soja 2023/24, a mosca branca também está afetando a vida dos produtores de feijão em diversos estados, com impactos tanto na segunda safra, que está em final de desenvolvimento e com colheita avançando, quanto na terceira safra que está sendo semeada neste momento.
Presidente do Ibrafe (Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses), Marcelo Luders, aponta que a pressão da praga está muito maior do que o registrado nos últimos 3 anos, inclusive chegando em regiões que não costumavam enfrentar essa dificuldade nas safras passadas.
“O Sul e o Sudeste do Paraná registraram casos, o que não é normal, além do Norte do estado que é mais quente. Em São Paulo a região de Guaíra tem perdas, Minas Gerais também tem registros”, relata.
No Paraná, o Deral (Departamento de Economia Rural), indica que com 86% da safra de feijão já colhida, muitas áreas sofreram com condições climáticas adversas e com alta pressão da mosca branca, situação que deve resultar em perdas do potencial produtivo neste ciclo.
“Os municípios mais quentes foram bem mais problemáticos, mas essas regiões são produtores menores, o feijão fica mais no Sul do estado, justamente onde é mais frio e não há segunda safra de milho. Isso vai ter impacto na produção, mas ainda não é possível saber exatamente quanto, já que a colheita está em andamento e essa é uma cultura mais difícil de se captar informações”, diz Carlos Hugo Godinho, Engenheiro Agrônomo do Deral.
Essa dificuldade de mensurar impactos também é ressaltada por Luders. “Não conseguimos mensurar quanto é o impacto dentre o total colhido, algumas lavouras foram erradicadas e replantadas outras não foram ressemeadas. Mas com certeza haverá impacto”.
Outro estado afetado pela praga é Goiás, que está em processo de plantio da terceira safra do grão. Além de estarem presentes nas lavouras já semeadas, a mosca branca está retardando o trabalho de plantio em muitas áreas.
“A terceira safra é a nossa maior produção de feijão e o plantio ocorre entre maio e junho. Muito produtores estão esperando as temperaturas baixarem um pouco para plantar com menos incidência, mas ainda há tempo hábil para semeadura dos 60 mil hectares previstos”, pontua Leonardo Machado, Assessor Técnico da Faeg (Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás).
Machado explica que a opção por esperar as temperaturas baixarem é devido ao aumento da pressão das moscas brancas em cenários de temperaturas mais elevadas e menos chuvas.
Esse quadro climático também foi o que contribui para o aumento da praga no Paraná, de acordo com o Deral. “O que se imagina é que o calor e a falta de chuvas nessas regiões ajudaram a manter a pressão da praga”, diz Godinho.
“A alta temperatura e o tempo seco ajudam nessa pressão. É o que tem acontecido nessas regiões. Sem a ocorrência de noites mais frias a intensidade também aumenta”, ressalta Luders.
Outro fator que pode ter contribuído para esse aumento da presença de moscas brancas na safra de feijão em 2024 foi o alongamento do ciclo da soja na safra 2023/24 em muitas regiões, como exemplo do estado de Goiás.
“Com o atraso da colheita da soja, que acabou a pouco tempo em algumas regiões do estado, se formou uma ponte verde que manteve a praga presentes nas lavouras. Essas regiões que tiveram atraso na soja são justamente as que registram maior incidência da mosca branca no feijão. O vazio sanitário foi alterado para ser mais efetivo, mas elas migram de uma cultura para a outra”, aponta Machado.
Outro impacto da situação tem sido o aumento dos custos de produção, uma vez que os produtores precisam aumentar o número de aplicações de defensivos.
“O controle químico é a opção neste momento e o custo fica maior. Os defensivos são o segundo maior item na relação de custos, atrás apenas dos fertilizantes”, indica o Assessor Técnico da Faeg.
“A cultura exige bom controle de defensivos. Os preços estão bons para o feijão e por isso houve um aumento de 40% no plantio paranaense. A produção ainda deve ser volumosa, mas a perda de qualidade nos grãos implica em descontos na entrega e compromete a rentabilidade”, relata o Engenheiro Agrônomo do Deral.
A liderança do Ibrafe elenca alguns pontos de atenção que ficam para as próximas safras diante desse impacto vivido em 2024.
“Algumas variedades têm se mostrado mais tolerantes ao ataque da mosca branca. O uso de aplicações defensivas também é importante e, inclusive, algumas empresas têm disponibilizado novas moléculas que, em testes, se deram muito bem neste controle. É muito importante também realizar um manejo adequado e eliminar o vetor, já que a praga migra de uma lavoura para a outra”, diz Luders.