Nos últimos meses, o mercado interno do milho viu uma importante valorização, influenciado por fatores externos como a elevação das cotações na Bolsa de Chicago e a desvalorização do real. Esse cenário trouxe desafios e oportunidades para o setor agrícola brasileiro, especialmente para produtores e comerciantes do cereal.
A valorização do milho no Brasil está relacionada a uma série de questões que impactaram diretamente a oferta e a demanda do grão. O aumento das cotações internacionais em Chicago foi um dos principais impulsionadores. Nos Estados Unidos, a exportação de milho superou expectativas, especialmente com grandes volumes sendo adquiridos pelo México, o que fez do milho americano o mais competitivo no mercado global.
O volume comprometido para exportação nos EUA alcançou 23,5 milhões de toneladas para a safra 2024/25, significativamente acima dos 17,5 milhões do ano anterior. Essa alta demanda global gerou reflexos no mercado brasileiro, impulsionando a valorização do milho internamente.
Além disso, as condições no Brasil também pesaram sobre os preços. O receio de uma menor área de plantio para a primeira safra de milho e o atraso no plantio da soja — que afeta a janela para a segunda safra de milho (safrinha) — contribuíram para o aumento dos preços. No entanto, as chuvas em volume satisfatório e previsões otimistas para as próximas semanas podem acelerar o plantio e ajudar a mitigar esses temores, mantendo a safra de milho dentro de uma janela considerada ideal.
Comercialização do milho
Mesmo com a alta dos preços, a comercialização do milho está abaixo da média dos últimos anos para as safras 2023/24 e 2024/25. Esse atraso nas vendas reflete um cenário de incertezas, mas que também abre possibilidades para estratégias de comercialização mais vantajosas.
Com a aproximação da colheita da soja, os produtores precisarão liberar espaço nos silos para armazenar a nova safra, o
que pode gerar uma pressão de oferta de milho no mercado, reduzindo o preço quando esse movimento ocorrer.
Diante desse contexto complexo, a mesa de clientes Agro formulou uma estratégia de comercialização para otimizar os resultados dos produtores e minimizar o impacto da volatilidade.
A recomendação envolve acompanhar de perto as previsões climáticas e a demanda global, além de considerar contratos futuros como forma de garantir uma margem de preço favorável.
Perspectivas para o mercado
Embora a pressão sobre os preços possa se intensificar com a necessidade de liberação dos silos, o quadro ainda é positivo para os produtores. A continuidade das chuvas deve contribuir para uma boa colheita, e, a médio prazo, a tendência é que a demanda por milho se mantenha aquecida, tanto no mercado interno quanto no externo.
As próximas semanas serão cruciais para a definição das estratégias de venda. Um bom monitoramento de mercado, aliado a medidas de comercialização seguras, poderá auxiliar os produtores a navegar em um cenário de preços elevados e incertezas climáticas.
Além disso, o mercado segue acompanhando a evolução do plantio de soja no Brasil, que está atrasado e acaba trazendo alguma desconfiança sobre o potencial da área de milho segunda safra. Entretanto, o que temos visto é que as chuvas estão acontecendo em melhores volumes na região Central do país e, na última semana, o IMEA trouxe grande avanço no plantio da soja no Mato Grosso, quase que equalizando a semeadura da safra atual com a média das últimas cinco safras, o que vai, aos poucos, dissipando o receio em relação à janela de plantio da segunda safra no Mato Grosso.
Sobre a safra de verão, a Conab trouxe, em sua primeira estimativa, queda de 5% para a área com milho 1ª safra, o que traz para o mercado algum receio sobre a possibilidade de aperto no balanço interno de milho durante o primeiro trimestre de 2025, dado que a demanda doméstica do cereal segue firme, seja para ração, seja para produção de etanol.
A valorização do dólar também entra nessa conta a favor da precificação do cereal em reais. Além disso, o preço do boi gordo, acima de R$ 300/@ e que ganhou forte impulso nas últimas semanas, acaba, de certa forma, servindo de suporte para o milho, bastante utilizado na alimentação animal.
E por último, mas não menos importante, uma retração da ponta vendedora diante do aumento dos preços e da expectativa de altas adicionais, acaba dando mais suporte para as cotações no curto prazo. Todos esses fatores, em conjunto, acabaram resultando na alta que observamos no mercado doméstico de milho.
Olhando para frente, o que esperamos?
Dado o contexto de elevação dos preços, achamos oportuno o momento para a proteção das margens, com expectativa de que essa alta possa não se sustentar por muito mais tempo. Temos visto bom padrão de chuvas nos últimos dias e os mapas de previsão apontam que as precipitações devem seguir acontecendo em bons volumes nas próximas semanas, o que é favorável para o avanço do plantio e desenvolvimento inicial das lavouras de verão. Isso se confirmando, diminuem as dúvidas em relação ao potencial da área de milho 2ª safra.
O aumento dos preços do cereal e uma certa estabilidade nos fertilizantes trouxe uma melhora para a relação de troca a
favor do grão, o que pode servir de estímulo, em conjunto com a regularização do plantio da soja, para a área de plantio do milho safrinha.
A comercialização de milho, tanto da safra 2023/24 quanto da safra 2024/25, está atrasada em relação à média dos últimos anos. Para a 23/24, até o início do mês de outubro, a comercialização estava em cerca de 60%, contra a média de 67% das últimas safras.
Para a safra nova, tomando como referência o Mato Grosso, o IMEA aponta a comercialização no estado em 15,5%, contra a média de 31,2% para esta época do ano. Ainda há bastante milho na mão do produtor e, sabendo que logo haverá a entrada da soja e esse milho terá que sair do silo e vir para o mercado, é possível que vejamos algum movimento de pressão de baixa sobre os preços quando isso ocorrer.