Em um mundo cada vez mais globalizado e competitivo, os produtores rurais brasileiros enfrentam novos desafios que vão além da simples produção agrícola. Não basta apenas plantar, colher e vender; é necessário entender a relevância do negócio e adotar uma visão empresarial abrangente, seja em pequena, média ou grande propriedade rural.
De acordo com o especialista em gestão do agronegócio pela ESALQ e gerente de Barter da ADAMA, André Morselli, “essa mudança exige que nos capacitemos em gestão da porteira para fora, elevando o foco para além da produção. Muitas vezes, o produtor é muito eficiente na produção e produtividade, mas acaba perdendo parte destes ganhos no momento da comercialização, então é crucial garantir a rentabilidade. Precisamos deixar de focar apenas no preço e entender melhor o que está acontecendo no mercado, procurando orientação de profissionais qualificados; a chave é a gestão completa do negócio, desde o ciclo de produção até as ferramentas de mercado, otimizando a rentabilidade”.
No caso do milho safrinha, por exemplo, Morselli explica que os produtores acabam esperando que os preços subam, mas a situação pode se assemelhar à da soja. Um dos pontos que está gerando pressão nos preços é a produção Argentina que este ano vai ser maior, gerando, assim, uma competitividade com o milho do Brasil. “As tendências de mercado influenciam bastante. Atualmente, o cenário do milho já está depreciado, oferecendo oportunidades limitadas de vendas mais vantajosas. Antes, por exemplo, no Mato Grosso, os preços chegaram a R$ 80,00 por saca, mas hoje estão abaixo de R$40,00. A rentabilidade é mais importante do que o preço,” ressalta André. Muitos produtores relutam em vender agora, esperando preços mais altos, mas correm o risco de perder o momento ideal. “Todo investimento precisa ter um foco e um retorno desejado. Se perdermos o timing, podemos ser influenciados pelo ‘efeito manada’ e os preços caírem novamente,” alerta.
O Brasil, sendo o maior produtor de soja, tem potencial para crescer e aumentar sua área de produção e produtividade, de acordo com o especialista. No entanto, a abundância de oferta pode levar a um comodismo por parte dos compradores. “A oferta e demanda sempre vão ser antagônicas em relação ao preço, portanto temos que aprender a trabalhar as estratégias considerando esta premissa”, explica. Durante a pandemia, os preços dos grãos estavam extremamente valorizados, mas essa tendência vem diminuindo, e alguns produtores ainda esperam vender com os mesmos valores. “Esse foi um ganho da pandemia, quando os preços subiram muito. Na safra 2019/2020, houve uma mudança, e na safra 2020/2021, alguns produtores ainda fizeram vendas antecipadas, saindo de R$ 80 por saca e batendo R$ 150. Muitos pensaram em nunca mais vender soja antecipada, pois entenderam que perderam dinheiro. Porém, reitero que o mais importante é ter rentabilidade,” enfatiza Morselli.
Barter: uma das ferramentas mais antigas do agronegócio e mais eficientes
Embora possa ser tentador esperar por preços mais altos, o gerente de Barter da ADAMA recomenda: “a adoção da ferramenta Barter para o travamento dos custos, que facilita a negociação e a comercialização de produtos agrícolas através de uma relação de troca, sendo um passo crucial para os produtores rurais abraçarem essa nova mentalidade de gestão eficiente”. De acordo com ele, desta forma os produtores podem acessar informações de mercado em tempo real, analisar tendências e tomar decisões estratégicas para maximizar a rentabilidade de suas operações.
“No cenário atual, o sucesso dos produtores rurais depende não apenas de suas habilidades de produção, mas também de sua capacidade de gerenciar todo o ciclo de negócios, desde o plantio até a comercialização. Com ferramentas como o Barter, eles podem se tornar verdadeiros empresários rurais, adaptando-se às constantes mudanças do mercado e garantindo a lucratividade de suas propriedades, sejam elas pequenas, médias ou grandes e ditando o preço, não apenas esperando por oportunidades que podem não chegar, contando apenas com a sorte”.
Relatório atual da USDA de abril e impacto no Brasil
Em relação ao aumento do estoque dos Estados Unidos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos USDA, que desconsiderou alterações na safra brasileira, Morselli acredita que o cenário segue a tendência de poucas chances de aumento nos preços, mesmo com as informações diferentes do tamanho da safra do Brasil, visto que o volume de soja ofertado pela América do Sul considerando a produção Argentina, é superior ao volume ofertado na safra do ciclo anterior, enquanto o consumo não está crescendo no mesmo ritmo. “No entanto ajustes em volumes, principalmente nos relatórios do USDA, sempre mexem nos preços e podem ser uma oportunidade pontual para o produtor aproveitar uma melhor venda”, confirma, com a ressalva de que “os Estados Unidos estarem com volumes abaixo do projetado no consumo/exportação pode ser mais um ponto de pressão no mercado em relação aos preços, visto que o volume que não for exportado será adicionado ao estoque final de passagem, dando um maior conforto na relação de estoque/consumo americano e o reflexo pode ser negativo para os preços”, conclui.