A produção mundial de milho, uma das principais culturas alimentícias, ocorre principalmente nos Estados Unidos, China e Brasil, que juntos são responsáveis por 66% da produção, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
No Brasil, a produção mais que dobrou nos últimos 20 anos, atingindo um volume de 122 milhões de toneladas na safra 2023/24, diante do avanço da área plantada de segunda safra, assim como o avanço da tecnologia em sementes e práticas culturais.
Com um volume de 390 milhões de toneladas na safra 2023/24, os Estados Unidos são os maiores produtores e exportadores globais de milho. Apesar da Argentina não estar entre os três maiores produtores, é o terceiro maior exportador. Com um volume de exportação de 35 MM t, o país é responsável por 17,5% dos envios, o que o destaca no comércio global deste grão.
A partir desse panorama de oferta, fizemos uma análise dos custos de produção de milho dos três principais países exportadores, a fim de comparar a competitividade desses fornecedores na safra 2024/25.
Para a análise, utilizamos como referência os custos de produção de uma propriedade típica do Mato Grosso (fonte IMEA) para o Brasil, no estado de Illinois (University of Illinois) para os EUA e na região central da Zona Núcleo (periódicoMárgenes Agropecuarios) para a Argentina.
A título de equalização dos custos para todas as origens, referenciamos os itens do custo operacional utilizado pelo IMEA, o qual compreende sementes, fertilizantes, defensivos, operações mecanizadas e mão-de-obra.
Todos os custos foram trazidos para a mesma base, sendo calculados em dólares. Para a conversão do custo do Brasil, utilizamos uma taxa de câmbio BRL/USD 5,40.
Dentre as três origens, o custo em USD/ha dos Estados Unidos foi o mais elevado, seguido por Argentina e EUA. Para o Brasil, o custo operacional calculado foi de USD 597/ha, USD 576/ha na Argentina e USD 1.174/ha nos EUA.
Os Estados Unidos apresentam o maior custo operacional, principalmente pelo uso de fertilizantes, em especial os nitrogenados, dado que as dosagens usadas pelos EUA são maiores que as da Argentina e do Brasil. Não só as despesas com sementes e defensivos são maiores, como a mecanização émais intensa no país, enquanto os custos na Argentina são inferiores diante de Brasil e EUA.
Historicamente, o Brasil possui o menor custo operacional, pelo aproveitamento dos nutrientes da safra de soja, entretanto, a previsão para a próxima safra é de que os custos do Brasil superem os da Argentina.
Dentre os principais países produtores de milho, os EUA são os que tem o maior custo operacional, estimado em 97% superior ao do Brasil para a safra 2024/25.
Para os EUA, a tendência de queda para os custos da safra 2024/25 é liderada pela redução dos custos com fertilizantes e seguida pela variação negativa para os defensivos, assim como para a Argentina, porém em menor proporção devido ao menor uso desses insumos.
Já para o Brasil, apesar da redução no preço dos insumos, o real mais desvalorizado fez comque os custos permanecem praticamente iguais.
Quando a análise é feita levando-se em conta a produtividade, é possível observar que o Brasil tem um custo superior ao de ambos, devido ao menor rendimentomédio por hectare.Mas é importante lembrar que esse menor rendimento brasileiro (safrinha) tem relação com o período do ano com menos chuvas e maior risco em relação aos cultivos de verão.
Somente em dois anos o custo por saca da Argentina foi superior ao do Brasil, na safra 19/20 diante da boa produtividade obtida naquele ano pelos brasileiros, e na safra 2022/23, por conta da quebra da safra associada aos efeitos negativos da La Niña, que reduziu em quase 31% a produtividade do milho argentino.
Na comparação entre Brasil e EUA, a alta produtividade americana faz com que o custo por saca seja muito inferior ao do Brasil. Diferente do observado na soja, onde o Brasil é mais competitivo, no milho, os americanos ainda assumema posição de maior vantagemcompetitiva.
Com os custos operacionais para a safra 2024/25 convertidos em USD/bu, conforme o gráfico acima, temos para o Brasil, USD 2,3/bu, Argentina, USD 1,8/bu e EUA, USD 2,1/bu.
Margens da produção de Brasil e EUA
Com os custos projetados e as expectativas de receita para o ano safra 2024/25, conseguimos fazer uma projeção de margem operacional para os dois maiores exportadores globais do cereal.
Antes, quando olhamos para o histórico recente das margens de EUA e Brasil, vemos que até a safra 2021/22 a diferença entre os dois países existia, mas não era tão expressiva, inclusive em alguns momentos, a margem no MT ficando acima de Illinois. Entretanto, a partir da safra 2022/23, essa diferença ficou bemmaior a favor da margemem Illinois, diante do aumento do custo de produção e da desvalorização dos preços internos do milho.
O aumento dos custos na safra 2022/23, ocasionado pela explosão dos preços dos fertilizantes, trouxe maior impacto para o Brasil em relação aos EUA, por conta da maior dependência externa pelo insumo. Além disso, sob a ótica da produção, na safra 2022/23 produzimos a maior safra da história, o que aumentou a disponibilidade e pressionou os preços domésticos, que ficaram abaixo dos patamares de Chicago. Na safra 2023/24, com os custos ainda elevados e preços internos ainda pressionados pela elevação dos estoques, as rentabilidades no Brasil até voltaram para o campo positivo, mas ainda em patamares mais baixos.
Para a safra 2024/25, a expectativa é de novamelhora para a rentabilidade do milho no Brasil, diante da queda esperada para os custos de produção. Não esperamos grande reação para os preços internos, mas os custos menores devem favorecer algum incremento da margem operacional para 2024/25, mas que ainda deve ficar bem abaixo da média observada no MT entre as safras 17/18 e 21/22 (51%).
Já nos EUA, de acordo com os dados da Universidade de Illinois, nas últimas 7 safras, apenas uma vez, em 23/24, a margem operacional em Illinois ficou abaixo de 50%, na safra 23/24, quando a margem caiu para 45%. A média para o período 17/18 a 23/24 foi de 57%. O que justificou a redução das margens na safra passada foi o aumento dos custos de produção combinado com a queda dos preços, dado que em 23/24 os americanos colheram a maior safra da história, estimada pelo USDA em 390 MM t. Para 2024/25, a expectativa é de aumento das margens, também em benefício de um custo de produção menor, apesar da expectativa de preços que devem seguir em patamares mais baixos em Chicago.
Uma das explicações para as margens estáveis e em patamares acima de 50% na média para os EUA pode estar no grande uso do cereal para a produção de etanol no país. Enquanto os americanos utilizam a maior parte do cereal consumido na produção de etanol, no Brasil, cerca de 70% do consumo de milho é destinado para a ração. Entretanto, a cada ano observamos o incremento no consumo do cereal para a produção de biocombustível no Brasil, o que pode trazer algum benefício para os preços no médio prazo.
Safra 2024/25 Brasil
Para a safra 2024/25, esperamos aumento de área e produção de milho no Brasil. Entretanto, alguns pontos devem ser acompanhados e podem jogar contra o crescimento da área de milho nacional.
Na safra de milho verão, o plantio será influenciado pelo panorama climático que se apresenta, com perspectiva de atraso das chuvas e a influência daLa Niña sobre o clima. Outra questão é que temos visto cada vez mais uma tomada de decisão mais tardia por parte do produtor e, dado que a relação de troca entre fertilizante e o cereal seguiu piorando desde o final de maio, sobretudo com o MAP, é possível que uma parte dessa área seja destinada ao plantio de soja.
Para a segunda safra, o racional da relação de troca pior também segue e, além disso, as margens projetadas para o algodão 2ª safra se apresentam um pouco melhores que a do milho no MT, o que pode influenciar na tomada de decisão do produtor que faz as duas culturas, beneficiando o aumento de área da pluma.
Claro que, além do financeiro, o clima será determinante para a definição da área de plantio de segunda safra. O atraso esperado para o plantio da soja acaba retardando o plantio da segunda safra, aumentando os riscos climáticos para o desenvolvimento das lavouras.
O plantio do algodão tem janela mais limitada, bastante concentrado no mês de janeiro, enquanto o milho possui uma janela de plantio um pouco maior, que se estende de janeiro até meados de fevereiro. O ritmo de plantio da soja influenciará a definição da área e do investimento por parte do produtor na segunda safra.