De janeiro até junho de 2024, o Brasil exportou 8,349 milhões de toneladas de milho, um volume 28% menor do que as 11,661 milhões de toneladas embarcadas nos mesmos seis primeiros meses de 2023. Essa diferença segue presente nos números de julho, com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) indicando que as duas primeiras semanas do mês tiveram uma média diária de embarques 58% menor do que o sétimo mês do ano passado.
Essa queda nas exportações se dá, primeiramente, pela diminuição na produção de milho no Brasil nesta temporada. As projeções da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) apontam que das 56 milhões de toneladas embarcadas em 2023, o Brasil passe para 40 milhões em 2024.
“2023 foi muito bom para as exportações, foi um ano de recorde de embarques tanto para soja quanto para milho. As 56 milhões de toneladas de milho superaram o recorde anterior em 11 milhões de toneladas. Agora, na escada das exportações, quem tem anos de subida e anos de descanso, 2024 será o de descanso, devemos ter 15 milhões de toneladas a menos, voltando para o degrau de 2022”, aponta Sergio Mendes, o Diretor Geral da Anec.
Essa relação de menos produção com menor exportação também é destaca pela consultoria StoneX, que estima volume ao redor das 40 milhões de toneladas em 2024, ante às 54 milhões de 2023.
“Estamos vendo um atraso em relação à safra passada, até porque a safra passada foi muito grande, foi safra recorde ano passado então tinha um volume maior para ser exportado. É uma diminuição muito em parte devido a essa diminuição da safra. Não quer dizer que é um volume baixo de exportação, somente um volume menor do que no ano passado”, aponta Felipe Sawaia, Analista de Inteligência de Mercado de Grãos da StoneX.
Enilson Nogueira, Analista da Céleres Consultoria, cita a safra de inverno menor no Brasil e ressalta que, aliado a essa diminuição da oferta brasileira, houve elevação na oferta vinda de outras origens como Argentina e Estados Unidos.
“A exportação brasileira deve ganhar tração nos próximos meses por efeito sazonal, mas os volumes programados ainda serão baixos e menores do que o ano passado. Os motivos das exportações menores são safra de inverno do Brasil menor em 2024, uma oferta razoável na Argentina e a expectativa de oferta cheia nos Estados Unidos. Os embargues vão aumentar em relação a maio e junho, mas não deve bater os mesmos meses do ano passado. A questão não é tanto falta de demanda, é excesso de oferta atual nos diferentes produtores”, diz.
Sawaia ressalta que, na última sexta-feira (12), o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) elevou a expectativa de exportações dos Estados Unidos para a safra 2023/24, mas apesar disso, não há muita diferença de competitividade entre as originações neste momento.
“Os preços do milho nos portos estão bastante similares no Brasil, Argentina e Estados Unidos. Estamos entrando no segundo semestre quando no Brasil costuma ser um pouco mais elevado do que nos Estados Unidos e a gente perde um pouco de competitividade. Mas acredito que no momento nenhum país está com muita vantagem sobre o outro, não tem nenhum mercado que se possa dizer que está muito mais competitivo, apesar das exportações estarem andando bem lá nos Estados Unidos como o USDA indicou aumentando essa estimativa”, aponta.
“No momento Estados Unidos, Brasil e Argentina estão praticamente alinhados e a competitividade depende mais do destino de envio desse milho. Nenhuma origem está muito descolada da outra”, concorda Marcos Araújo, Analista da Agrinvest.
Os preços baixos no mercado de milho e o lento avanço na comercialização do cereal no Brasil também ajudam a explicar a falta de ímpeto nas exportações do grão até o momento. De acordo com dados da StoneX, até o começo de julho, apenas 36,1% da segunda safra brasileira havia sido comercializada, contra 40,2% da safra passada em julho de 2023 (índice que já era atrasado) e 59% da média dos últimos 3 anos.
“É um atraso considerável em relação à média histórica porque o agricultor está sentindo que o preço não está muito atraente para ele. Ele está tentando segurar a produção dele na fazenda, manter aquele grão estocado tentando conseguir um preço mais interessante. Esse atraso (nas exportações) tem a ver com isso do atraso na comercialização, como o agricultor está segurando e estocando o grão dele, isso acaba limitando a oferta para as traders e limitando as exportações”, explica Sawaia.
Também olhando para essa questão de preços, a análise da Agrinvest relaciona as cotações de soja e milho pesando na decisão de venda do produtor brasileiro neste momento.
“Os preços do milho na exportação continuam recuando nos portos brasileiros, assim como os preços da soja. Mesmo assim, olhando para a relação soja-milho, o produtor deve continuar ofertando soja e evitando a comercialização do milho, aguardando preços mais atrativos”.
Por fim, Marcos Araújo também aponta uma questão logística para segurar os volumes de embarques de milho até aqui em 2024. “O farmer selling está baixo, mas o baixo nível dos rios no arco norte também diminui o ritmo de exportação., já que as barcaças estão com cargas limitadas”.
Na visão de Enilson Nogueira, os fatores que poderiam alterar este cenário de lentidão e devolver fôlego para as exportações brasileiras de milho seriam problemas na safra de outros país e uma grande valorização do dólar ante ao real.
“O fator que poderia melhorar a expectativa de exportação brasileira seriam problemas de safra nos Estados Unidos, mas isso está bem distante. Sobre cotações, no curtíssimo prazo, os fundamentos indicam estabilidade a queda dos preços internacionais. A válvula de escape para altos no mercado interno seria o câmbio se aproximar de R$ 6,00”.