Artigo escrito por Luiza de Souza Carneiro, João Carlos dal Pivo, Alexandre Gabbi e Keity Guse Ribeiro do Departamento Técnico – Prado Saúde & Nutrição Animal
Grande parte da produção mundial de milho é destinada a alimentação animal, sendo que esse percentual pode ser de até 85% em países desenvolvidos. Com intenção de contornar desafios como a falta de comida devido a fatores climático, a silagem de milho é o principal alimento presente na dieta de bovinos atualmente, fornecendo rendimento de massa, alta energia e fibra fisicamente efetiva para os ruminantes.
A qualidade de uma silagem de milho é multifatorial, englobando diversos fatores como manejo de lavoura, colheita e ensilagem, fases que afetam o sucesso da sua conservação e os parâmetros qualitativos do alimento.
Um milho bom pode dar uma silagem ruim, mas um milho ruim nunca vai dar uma silagem boa!

Foto: Faesc
O primeiro passo é a escolha do híbrido de milho. Esse deve apresentar qualidade ideal para a silagem, incluindo características como bom rendimento de massa verde e grãos, boa digestibilidade, tolerância a pragas e doenças da sua região, entre outras. Além da correta escolha do híbrido, a fase da lavoura ainda engloba cuidados como adubação, especialmente nitrogênio, nutriente bastante demandando pela cultura do milho, necessitando de um manejo que atenda suas exigências e permita seu desenvolvimento ideal.
Por exemplo, a retirada de nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio e magnésio aumenta de acordo com o aumento na produtividade da planta, e a maior exigência do milho se refere a nitrogênio e potássio, seguindo-se cálcio, magnésio e fósforo. Segundo pesquisas, mais de 22.400 kg/ha de matéria seca (MS) da parte aérea das plantas são produzidas em lavouras com boas condições de fornecimento de luminosidade, água e nutrientes, sem competição de plantas daninhas e danos por pragas e doenças.
Para que o manejo racional da fertilidade do solo seja atingido, é ideal utilizar uma série de instrumentos de diagnose de possíveis problemas nutricionais que, uma vez corrigidos, aumentarão as probabilidades de sucesso na agricultura.
Me atentei aos cuidados agronômicos e o milho se desenvolveu adequadamente. E agora, quando devo colher?
Após seu desenvolvimento ideal, chega o momento da colheita do milho. Esse é um dos principais pontos na produção da silagem, devido ao impacto em sua qualidade. Dependendo de quando o milho é colhido para ensilagem, o teor de amido presente na planta varia, sendo que a tomada de decisão deve ser fundamentada no teor de matéria seca da planta inteira, que deve estar entre 30 e 35%, favorecendo o crescimento de microrganismos desejáveis e garantindo o equilíbrio ideal entre produção de massa seca e amido na forragem.
Para nos auxiliar na prática, podemos observar a linha do leite do grão para estimar quando aproximadamente o milho deve ser colhido. A linha do leite é a zona de separação entre a porção branca e pastosa próxima ao sabugo e a porção sólida do amido na extremidade do grão. Deve-se realizar um corte no sentido longitudinal do grão no lado contrário ao embrião, e observa-lo internamente. À medida que grão vai maturando, a porção sólida de amido se move em direção ao sabugo. Quando a linha do leite está próxima a 2/3 do grão (Figura 1), a matéria seca da planta será de aproximadamente 32%, sendo o momento ideal para se fazer a colheita.

Figura 1
Os ajustes das máquinas no momento da colheita, buscando o correto tamanho de partículas e processamento dos grãos é imprescindível, visto que as características físicas da silagem afetam sua composição química e nutrientes para os animais. Para os bovinos aproveitarem adequadamente o amido presente no milho, os grãos devem ser quebrados em pequenas frações, assim apresentando melhor grau de degradação ruminal e potencializando seu uso pelos animais. A digestibilidade do amido também é afetada pela fermentação da silagem, que pode resultar em perdas de qualidade em relação à cultura fresca e afetar sua composição química, ingestão e digestibilidade do alimento. Ou seja, quando essa fermentação ocorre de forma adequada, o amido se torna mais prontamente disponível para o animal.
Quais cuidados devo ter com o silo?
A compactação do material no silo é crucial para quem busca uma silagem de qualidade. As etapas de enchimento e compactação estão relacionadas às condições de aerobiose no alimento, pois são práticas que objetivam eliminar o ar remanescente no interior da massa, criando um ambiente anaeróbico (ausência de oxigênio), fundamental para o início da fermentação desejável. A velocidade que o silo é preenchido e a densidade da forragem no momento do fechamento do silo definem a quantidade de oxigênio residual na massa ensilada, influenciando na qualidade final do produto, nas perdas durante a fermentação e após a quebra da vedação.
Pesquisas avaliaram manejos de produção de silagens de milho e de alfafa em 12 fazendas em Nova York, Estados Unidos, e encontraram que o peso do veículo e a taxa de compactação, foram os parâmetros que melhores correlacionaram-se com as variações nas densidades das silagens e sua qualidade. Na Figura 2 é possível observar o impacto de uma silagem não compactada adequadamente e consequentemente com baixa densidade, gerando perdas de MS.
Além disso, cuidar diariamente do seu silo é essencial, adotando manejos como a retirada de material danificado, utilização de quantidade ideal de silagem por dia (250 kg/m²), conservação da lona e uniformidade da parede do silo.

Figura 2
Ferramentas que auxiliam a qualidade da silagem
Tecnologias foram criadas a fim de auxiliar no processo de fermentação de silagem e reduzir as perdas de alimento. Como mencionado anteriormente, a chave para uma silagem bem conservada é uma ideal fermentação anaeróbica, que é realizada por bactérias lácticas, para ocorrer a redução do pH do material e garantir sua estabilidade.
Frente a isso, os aditivos inoculantes de silagem, compostos por um blend de bactérias ideais para diferentes culturas, atuam na modulação da fermentação do material ensilado, efetivando sua qualidade.
Além disso, quando esse silo é aberto, os microrganismos aeróbicos começam a se multiplicar, entre eles os fungos, bactérias acéticas, bacilos e leveduras, comprometendo a estabilidade aeróbica do material, que começa a apresentar aumento de temperatura e pH, impactando no consumo dessa silagem pelo animal. Para contornar essa situação, atualmente os inoculantes, além de melhorarem a fermentação da silagem, também atuam no controle da deterioração aeróbica no momento da abertura do silo. Entre os aditivos microbianos utilizados para isso, as bactérias heterofermentativas, como a Lactobacillus buchneri, têm se mostrado capazes de reduzir a população de leveduras e melhorar a estabilidade aeróbia de silagens de milho e de gramíneas de clima temperado.
Autores afirmam que a inoculação de silagens de milho, sorgo, trigo, cevada e gramíneas com Lactobacillus buchneri reduz a concentração de ácido lático e aumenta a concentração do ácido acético e a estabilidade aeróbia das silagens, devido a inibição do crescimento de leveduras. O inoculante é utilizado no momento da ensilagem, devendo abranger todo o material colhido para gerar resultados.
A silagem de milho é o alimento mais presente na dieta de bovinos de leite e corte atualmente, sendo responsável por grande parte do desempenho dos animais. Por isso, realizar as premissas básicas de produção de silagem e investir em sua qualidade é essencial para atingir uma produção animal efetiva.
As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: [email protected].
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