Desde o início do plantio da safra brasileira de algodão 2023/24 o preço da fibra registrou quedas de mais de 15%, de acordo com um levantamento feito pela Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Até o final de agosto, mais de 70% da produção havia sido comercializada com preços que ficaram bastante próximos aos custos de produção desta temporada.
“A média de preços desses 70% foi acima de 70 cents, quase 75 cents, mas a gente gostaria de ter resultados melhores para ajudar no resultado do produtor. Hoje estamos muito em cima do custo de produção e temos um grande desafio para o próximo ano, conseguir produzir com um custo menor porque já tem uma expectativa de preços menores”, aponta o Presidente da Abrapa, Alexandre Schenkel.
Olhando justamente essas cotações daqui para a frente, o Consultor de Mercado, Pery Passotti Pedro, explica que haveria apenas dois fatores que poderiam trazer alguma elevação para os preços do algodão, problemas de desenvolvimento com a safra dos Estados Unidos ou aumento de demanda mundial, especialmente vinda da China.
“A gente está em um momento da safra americana que ela ainda está se consolidando, então ainda dá tempo de acontecer algo ruim. Nós notamos alguns ciclones, alguns eventos no golfo que subiram pela costa, mas trouxeram mais chuvas do que tempestades para o algodão e a gente queria ver se essas chuvas teriam afetado de alguma forma o algodão, mas segundo o USDA não, ele até indica uma pequena elevação. Então essa safra tendo esse aumento de produção é munição para os ursos, como a gente chama, o pessoal que acredita que os preços vão continuar baixos, próximos, ou dependendo do país que você está olhando, até abaixo do custo de produção”, pontua Pedro.
“A gente está estimando safra muitos boas no Brasil e nos Estados Unidos. Isso seriam os dois principais exportadores da pluma produzindo volumes muito importantes para essa safra. Esse ano vamos observar uma volta importante do mercado norte-americano e isso significa que os preços devem ceder mais um pouco”, acrescenta Marcela Marini, Analista de Grãos e Oleaginosas do Rabobank Brasil.
Com a possibilidade de problemas na produção dos Estados Unidos ficando ainda mais fraca, as atenções se voltam então para a demanda, especialmente vinda da China.
“O cenário que a gente está observando é de excesso de oferta para o próximo ciclo 24/25 e demanda a gente tem visto uma certa estabilidade. Então com certeza é um ponto de atenção”, diz Marini.
“Nos resta torcer para que a China entre com apetite nesse mercado, como fez no ano passado, e consiga subir os preços de Nova York e dar algum alívio ao produtor”, pontua o consultor.
Neste cenário de oferta crescente, demanda estável e preços pressionados, quem está sofrendo é a comercialização da safra de algodão 2024/25 aqui no Brasil, com volume de vendas registradas até aqui inferior aos patamares médios históricos para a cultura.
“Depois de um 2021 muito bom para a cadeia têxtil de maneira geral, a gente vem de três anos de demanda muito baixa. Essa demanda baixa se reflete nos preços e preços mais baixos refletem em cautela na comercialização. A gente acredita que para a próxima safra 24/25 os produtores estão vendidos com 20% da sua produção, o que um pouco menos do que teriam vendido historicamente”, conta Pedro.
“Estamos vendo uma postergação dessas vendas. O produtor geralmente tem esperado para ver preços mais atrativos, mas estamos vendo que devemos ter cada vez menos oportunidades de venda em níveis maiores de preços, principalmente falando em Nova York”, diz a analista.
Esse quadro de preços mais ajustados no mercado internacional preocupa produtores e associações, que já estão se planejando para as atividades da safra 24/25 no final deste ano.
“O mercado internacional está um pouco mais fraco a demanda e isso gera uma expectativa para nós produtores na formação de preços da próxima safra. Os preços estão caindo e temos que ter muita prudência nessa hora de plantar algodão, talvez não seja a hora correta de a gente ampliar”, afirma Carlos Alberto Moresco, Vice-presidente da Associação Goiana dos Produtores de Algodão (Agopa).
“O cenário é de cautela. O preço do algodão hoje não está em um bom patamar para o produtor e o custo de produção continua alto. O produtor está vendendo do algodão da safra que vem e a gente aconselha justamente que venda, aproveitando os momentos de mercado quando se consegue um preço melhor”, diz Lício Pena, Diretor Executivo da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa).
“Nós temos que ter cautela. Passamos por momentos muito bons de preços em 20, 21, 22 e 23 e estamos entrando em uma fase de queda de preços que deve se estender ainda por 24 e 25. Então nós temos que readequar a nossa margem de lucro, nós vamos passar por um momento de margens mais apertadas. O custo médio do produtor no Brasil deve estar ao reder de 62 cents por libra peso, então estamos muito próximos daquilo que está sendo cotado na Bolsa de Nova York. Um número razoável seria entre 75 e 80 cents para remunerar o produtor”, opina Walter Horita, do Grupo Horita.
Na opinião de Pery Passotti Pedro, esse cenário deve se prolongar por mais tempo e as vendas dessa nova temporada deveram seguir lentas. “A não ser que Nova York dê um spike ou haja alguma necessidade de se fazer caixa os produtores devem se manter relutantes. Eu não vejo esse patamar de 20% se acelerando mais rapidamente do que se acelerou nas últimas safras. Os produtores devem continuar relutantes e esperando por preços melhores”.
Marcela Marini também destaca que seria importante os produtores adiantarem um pouco essa comercialização para evitar encontrar preços ainda mais apertados. “O ritmo dessa comercialização, a decisão de venda, vai ser fundamental para o produtor garantir uma margem sustentável para o negócio dele e a mensagem importante é que continuem avançando. Quem tem sido um grande aliado em relação a precificação das commodities agrícolas em reais tem sido o câmbio, então, por mais que nos últimos 60 ou 90 dias tenhamos observado uma redução das cotações internacionais, no mercado local muitas vezes o câmbio trouce um papel de valorização para os preços praticados em reais, mas não vamos poder contar com esse fator sempre”.