Aumento nas taxas de importação de fertilizantes pode promover redução de área de culturas como milho e trigo na próxima safra

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O aumento das tarifas de importação de mais de 80 produtos químicos e fertilizantes por uma decisão do Comitê de Comércio Exterior – GECEX-CAMEX – na última semana continua repercutindo e preocupando o setor do agronegócio para as próximas safras, já que poderão representar um considerável aumento nos custos de produção. Afinal, as novas tarifas já deverão entrar em vigor em outubro e permanecerão válidas por um ano. 

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“Cada vez mais é importante pensar na comercialização de forma estratégia, fugindo da análise, somente, dos preços. Com custos em alta, preços de venda em baixa, conhecer os gastos de produção e usar as ferramentas de mercado é o que fará a diferença entre sobrar ou faltar dinheiro”, afirma o analista de mercado e sócio diretor da Pine Agronegócios, Alê Delara. 

O especialista chama a atenção para o aumento da taxa para o nitrato de amônio, um dos fertilizantes mais utilizados pelo produtor brasileiro, de 0 para 15%. E o Brasil importa 99% daquilo que é utilizado, com a maior parte vinda da Rússia. Somente neste ano, as compras deste ano já terem alcançado mais de 600 mil toneladas. Ao mesmo tempo, não há no horizonte como reduzir muito consideravelmente as importações deste insumo, uma vez que os volumes teriam de ser substituídos por outros. 

“Infelizmente, não temos como, no curto prazo, fortalecer a produção nacional para reduzir a importação. O que pode acontecer é, se o preço ficar inviável, o produtor usar menos tecnologia”, diz. 

Do mesmo modo, porém de forma um pouco menos expressiva, preocupa também o aumento da taxa sobre o carbonato de amônia que, embora menos nas últimas temporadas, é utilizado ainda na cultura do trigo como um insumo importante, além do uso também na indústria de panificação. Neste caso, o incremento da tarifa foi de 9 para 18%. 

“E isso já impacta diretamente a partir de outubro, quando começar a valer as alíquotas. Então, milho e trigo nas safras do ano que vem já começam a sofrer com estas alíquotas mais altas”, explica Delara. “Principalmente no milho, com os preços que acabam não subindo, só considerando os custos diretos e indiretos, a conta fica no zero a zero. Mas, considerando o custo efetivo total a conta já não fecha. Se o câmbio permanecer nestes patamares e os insumos não baixarem, será um custo de 15% a mais para a importação do insumo”. 

As preocupações são crescentes porque ambos os mercados – milho e trigo – passam por momentos bastante delicados, com o trigo marcando sua terceira safra consecutiva de quebra, preços pressionados e negócios que não evoluem. Inclusive, recentemente, o Governo Federal ainda aprovou um aumento da cota de importação do grão com alíquota zero para mais 250 mil toneladas. 

“Estamos em um momento bem difícil, com redução de área, quebra de produção, a colheita mostrando números ruins. O Rio Grande do Sul é que vai salvar um pouco, mas o spread que há entre o que o que produtor que vender e quanto os moinhos querem pagar está entre R$ 100,00 e R$ 110,00 por tonelada, então não saem negócios”, afirma o diretor da Pine. 

Desta maneira, para as próximas safras, áreas menores são quase certas para os dois grãos, principalmente quando o assunto é o milho. “Para o milho é quase certo que vai haver esta redução, porque se juntam custos que não fecham, a janela que pode ficar ruim com este atraso na soja e com um novo encarecimento de insumos, certamente haverá uma redução. Ainda é cedo para dizermos se vai ser igual a este ano, de quase 9%, mas uma redução deve vir”, afirma o especialista. 

Para o trigo, Delara também acredita que a próxima safra deverá registrar uma diminuição de área, principalmente no estado do Paraná. 

METILATO DE SÓDIO

Outro setor que pode sofrer com estas taxas maiores é o do biodiesel, com um aumento da alíquota de 12,5% para 20% do metilato de sódio.  

DE QUEM É O PLEITO?

O aumento das tarifas atende a um pleito da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), que faz a solicitação como parte de uma busca para retomar a capacidade de utilização das fábricas petroquímicas do Brasil, as quais alcançaram, em maior, a maior taxa de ociosidade da história. 

“Foi uma decisão equilibrada e baseada em critérios técnicos. O principal não é preço, é conseguir recuperar o mercado local e a produção nacional”, afirmou o presidente da associação, André Passos ao portal Poder360. Ao mesmo tempo, porém, Passos afirmou também que o pleito da Abiquim não foi atendido na íntegra. 

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