De acordo com o portal internacional Barchart, o real caiu para uma mínima de 1 mês nesta sexta-feira (11), encorajando as vendas de exportação dos produtores de café do Brasil. A informação se uniu à chegada das chuvas significativas nas principais áreas cafeeiras do Brasil após um longo período de estiagem, e trouxe algum alívio durante importante período do pegamento da floração dos cafezais e o cenário deu espaço para baixas nos preços da commodity praticados nas bolsas internacionais. Na semana, os futuros do arábica acumularam uma perda de mais de 2% na Bolsa de Nova York.
O mercado cafeeiro encerra a sessão desta sexta-feira (11) com o arábica registrando baixa de 270 pontos para voltar aos 252,05 cents/lbp no contrato ; 250,75 cents/lbp no de março/25, e com 248,90 cents/lbp no de maio/25. Já o robusta encerra o dia com queda de US$ 86 no valor de US$ 4.828/tonelada no vencimento de novembro/24, queda de US$ 64 no valor de US$ 4.678/tonelada no de janeiro/25, e uma baixa de US$ 56 no valor de US$ 4.542/tonelada no de março/25.
Apesar disso – e com alta da moeda americana frente à brasileira – o mercado físico brasileiro encerra os negócios desta sexta sem variações expressivas.
Além do clima, durante essa semana o mercado cafeeiro esbarrou também em dias de ajustes técnicos, nos dados de estoques certificados apertados, e acompanhando a discussão do possível adiamento da lei antidesmatamento na Europa. A legislação ainda está prevista para entrar em vigor no dia 30 de dezembro deste ano, no entanto, com ainda grande chance de ser adiada.
O Notícias Agrícolas ouviu quatro especialistas do mercado sobre esta movimentação, e para saber suas perpectivas para o mercado cafeeiro. Confira:
Guilherme Morya, analista do Rabobank
“Desde abril não há chuvas significativas nas áreas produtoras de café no Brasil. De uma maneira geral, existe uma preocupação com o potencial da próxima safra de café no país, em um momento em que a gente vem observando um balanço global bem apertado. E no meio de tanta incerteza, tanta limitação, observamos também do lado da oferta um fator financeiro, que são os fundos não comerciais, que acabam trazendo esse tom de volatilidade para o mercado. Agora, temos que ver como vai ser o comportamento das chuvas para os próximos meses, e aí vamos conseguir falar sobre estimativa e perdas das próximas safras. Mas, a curto prazo, já houve uma perda de potencial para o próximo ciclo, já tivemos perdas significativas de floradas, e já é possível avaliar uma limitação de produção para 2025, especialmente para o café arábica. Nada muda em termos de fundamentos. Seguimos aguardando uma safra limitada vinda do Vietnã, e do ponto de vista da oferta, ainda existe um suporte importante para preços elevados”.
Eduardo Carvalhaes, analista do Escritório Carvalhaes
“A chegada das chuvas, ansiosamente aguardadas pelos cafeicultores brasileiros, eram previstas desde o final do mês passado, e não mudam os fundamentos do mercado, que continuam os mesmos, mas trazem mais dúvidas e incertezas aos operadores, contribuindo assim com o intenso sobe e desce das cotações do café em Nova Iorque e Londres. Essas chuvas estão atrasadas, mas são essenciais para a formação das próximas safras brasileiras de café 2025/2026 e 2026/2027. Quando começarem a cair de forma regular sobre nossas lavouras de café, deverão diminuir o ritmo dos estragos, mas não recuperarão o muito que já foi perdido. É certo que já existem danos, e não são pequenos, na formação da próxima safra brasileira de café 2025. Outro ponto de consideração são os estoques mundiais de café que são baixos, sem perspectivas de recomposição nos próximos anos, acompanhados por problemas logísticos. Já sobre as ofertas, elas continuam com deságios bem superiores aos deságios usuais ante as cotações na ICE em Nova Iorque”.
Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria
“As chuvas chegaram fortes em algumas localidades, em outras menos e, com isso, o mercado lá fora arrefeceu, diminuiu, tanto em Londres como Nova York. Só daqui três ou quatro meses teremos a real dimensão da quebra que teremos na safra 25 devido ao grande período de estiagem. Outro ponto importante nesta semana foi o relatório divulgado pelo Cecafé que mostrou que o nosso volume de exportação bateu novo recorde com mais de 4 milhões de sacas exportadas. Mas, é importante falar também do volume de exportação represado, que se fala no mercado que tem aí mais ou menos 2 milhões de sacas ainda a serem exportadas, ou seja, temos ainda uma previsão muito forte de exportação para outubro e novembro. Lembrando também que agora no final de outubro, começo de novembro, será o início da safra da colheita do Vietnã. No passado o Vietnã exportava 28 a 30 milhões, mas agora está exportando por volta de 24 milhões. Ainda existe bastante dúvida sobre qual o real montante dessa safra que começará a ser colhida agora, mas já se fala que será menor, e isso deve continuar pressionando o mercado interno”.
Fernando Maximiliano, analista da StoneX
“A chuva continua sendo o foco principal. O Estado de Espírito Santo recebeu volumes importantes de chuva nesses últimos dois dias, e teve outros municípios também do cinturão cafeeiro em Minas Gerais que receberam volumes substanciais de chuva. Então, isso alivia as preocupações dos agentes e contribui para esse cenário de queda. Mas, a preocupação agora é para que as chuvas se tornem regulares, sem veranico nesses intervalos. Vamos ter que monitorar o clima, ele continua no radar. Para além disso, mais ou menos em meados de novembro o Vietnã começa a colheita e esse café deve entrar no mercado já em meados do mês de dezembro. Isso tende a arrefecer um pouco o problema de oferta no curto prazo. Não resolve porque pelo que tudo indica a produção vietnamita será menor devido também aos impactos do clima adverso, mas o fato desse café ficar disponível no mercado físico tende a arrefecer um pouco as preocupações. Vários países estão no período de colheita: Colômbia, países da América Central, e a gente deve ver em breve o ritmo das exportações desses países avançando nos próximos meses. Outro ponto importante de se destacar é o possível adiamento da lei antidesmatamento. Ainda é necessário o Parlamento Europeu votar essa questão, mas a Comissão Europeia sinalizou que pretende adiar a entrada dessa legislação até por mais 12 meses. Esse fator aliviou as preocupações dos agentes no curto prazo, e isso contribuiu para o mercado devolver parte desses avanços”.