Muito tem se falado no momento de crise para o agronegócio. Intempéries climáticas, cenário instável na política interna e global, e uma série de desafios no campo. Mas, para alguns setores, após um longo período enfrentando todos esses desafios, a incerteza de uma pandemia e uma volatilidade intensa nas bolsas, o momento pode ser de oportunidades.
Neste sentido, podemos afirmar que o café passa por um momento de recuperação e de chances para o produtor brasileiro. Depois de três safras frustradas, a expectativa é que em 2024 a produção de arábica expresse alguma reação, ainda sem ser uma supersafra, mas se a condição climática ajudar, seria um início de uma recuperação nas principais áreas de produção.
Existe um certo consenso no setor que, diferente dos grãos, por exemplo, para o café o momento é de transição e marca um período de planejamento para a próxima safra. A quebra na produção de outras origens como por exemplo a Colômbia para o arábica e o Vietnã para o robusta sustentam os preços e deixam o período ideal para relação de troca e travas futuras.
Para José Marcos Magalhães, presidente da Minasul, quando o assunto é formação de preços, os números comprovam o bom momento para o cafeicultor, mas que é importante enfatizar que os riscos continuam no radar, o que pede ainda mais atenção desse produtor.
“Nós não podemos falar que o café está em crise, estamos sob ameaça constante. Esses preços estão sendo sustentados pelo robusta. A relação está muito boa, o café está tendo margem, a questão é o entorno da cafeicultura”, afirma.
De acordo com Magalhães, um problema já conhecido do produtor, as questões trabalhistas, continuam sendo um gargalo sobretudo neste período que antecipa a safra. No ano passado, o Conselho Nacional do Café (CNC) anunciou novos acordos junto ao Governo Federal para mitigar os impactos na safra, mas a mão de obra, principalmente nas áreas de colheita manual, continua sendo um grande problema. Além do custo elevado, o cafeicultor já tem dificuldade para encontrar gente para o trabalho.
Ciente desse período satisfatório, mas sem ter muita visão do mercado no longo prazo, o produtor tem feito negócio e até mesmo os investimentos a medida que precisa fazer caixa. “Insumos e maquinário, o produtor compra apenas o necessário. Da mesma forma, com os juros altos, os clientes compram da “mão pra boca”, porque carregar café com o juros do jeito que tá, não é vantagem”, afirma. A orientação, segundo Magalhães, tem sido para o produtor aproveitar o momento, já que os preços podem passar por uma correção com a chegada da safra brasileira.
Carlos Augusto Rodrigues de Melo, presidente da Cooxupé, afirma que o Brasil precisa estar atento ao avanço dos negócios com outras origens produtoras, mas também com potenciais mercados como Ásia e Oriente Médio.
“O café é muito sensível, mas nós podemos dizer que tem fatores positivos. O consumo do café na Ásia tem contribuído muito para consumo e a Cooxupé tem participado de uma maneira acima do previsto nessas regiões, como também no Oriente Médio. Enfim, a nossa expectativa é otimista, com números um pouco maiores, preços nesses patamares e um mercado muito justo de demanda e oferta”, afirma.