A safra de cana-de-açúcar do Brasil já tem mais de 1/3 colhido e o setor sucroenergético do Brasil ainda tenta entender qual será o volume de produção para o ciclo atual. No ano passado, o país atingiu o recorde de 713,2 milhões de toneladas, maior volume da série histórica, e diante deste cenário a única certeza que se tem é que a produção deste ano será mais baixa.
Segundo os dados mais recentes da Unica, as condições do tempo são favoráveis para o andamento da colheita e moagem da cana no Centro-Sul do Brasil. Na segunda quinzena de junho, foram processadas 48,80 milhões de toneladas, ante 43,19 milhões no mesmo período no ano passado. No total, a moagem já atingiu 238,40 milhões de toneladas.
O diretor de Inteligência Setorial da Unica, Luciano Rodrigues, explicou em evento online realizado nesta quarta-feira (17) pela SCA Brasil, que as condições climáticas entre maio e agosto do ano passado, ficaram dentro da normalidade, o que não afetou a primeira cana sendo colhida.
Para as próximas etapas, no entanto, o setor espera que o cenário seja outro considerando as ondas de calor que aconteceram posteriormente. “A expectativa é que a cana que vai ser colhida do meio pra frente da safra, tenha um impacto significativo de produtividade, é uma cana que de fato está sofrendo muito”, disse.
Segundo ele, o canivial no Centro-Sul do Brasil não apresenta as características ideais, o estresse hídrico não permitiu o bom desenvolvimento fisiológico da planta e o nível de ATR vai apresentar uma qualidade que não deve ser superior a observada no ano passado.
Os dados apresentados mostraram ainda, que até a agora a redução de produtividade foi de 3%. Especialmente em São Paulo e no Paraná, a condição do canavial é preocupante, e o especialista afirma que é esperada uma queda significativa na produtividade nessas áreas.
Martinho Ono, Ceo da SCA Brasil, destacou durante o evento, que com 238,40 milhões de toneladas, estima-se que aproximadamente 40% do canavial já foi colhido.
A simulação apresentada pelo CEO mostrou que considerando o que será colhido, a SCA aposta em uma safra que deve ficar abaixo de 630 milhões de toneladas para o ciclo atual.
“Estamos considerando que essa safra deve ser entre 615 e 622 milhões de toneladas de cana. A gente tem uma safra que veio muito bem em termos de TCH (toneladas de cana por hectare), de aproveitamento de tempo, mas uma safra de queda acentuada por consequência das condições do clima seco, clima com temperatura mais alta. “, afirma.
Os números mostraram ainda que a área total cultivada no ciclo atual é 4,8% maior em relação ao ciclo anterior, mas o volume de TCH apresenta tendência de queda como resposta ao clima. O CEO acredita que a maior parte da safra deve ser concluída entre a 2ª quinzena de outubro e 1ª quinzena de novembro, trazendo ainda a projeção de um período de entressafra mais longo.
A grande preocupação do setor para os próximos meses continua sendo as condições do tempo nas principais áreas do Centro-Sul do Brasil. Há alguns meses o tempo seco e altas temperaturas acendem um alerta, cenário que deve permanecer no médio prazo.
De acordo com as previsões de Dayane Figueiredo, da Climatempo, o setor continuará observando temperaturas acima da média e precipitação abaixo da média no período entre agosto e setembro. “Em setembro, onde se tem o início das chuvas, elas devem sim acontecer de forma tardia. A regularidade das chuvas deve ser um pouco mais postergada. As temperaturas também vão seguir em elevação”, afirma.