Citrosuco vê maior pressão de clima severo do que greening na oferta de laranja

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Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – A brasileira Citrosuco, que produz um a cada quatro copos de suco de laranja do mundo, avalia que o clima adverso vem sendo um vilão mais perigoso do que a fatal doença citrícola greening para a safra do país, disse o CEO da companhia à Reuters, em uma rara entrevista nesta quarta-feira.

Esses dois fatores estão por trás das seguidas baixas colheitas no Brasil, maior produtor e exportador global de suco de laranja, que colaboraram para impulsionar os preços do suco na bolsa de Nova York para máximas históricas em 2024.

“Temos impacto de greening e principalmente de clima, (o clima) até mais do que o greening”, declarou Marcelo Abud, presidente-executivo da Citrosuco, empresa dos grupos Fischer e Votorantim, ao comentar as causas da baixa oferta da fruta.

Questionado sobre o tamanho da nova safra 2024/25, no principal cinturão produtor de laranja do país (São Paulo e Minas Gerais), Abud citou estimativa da fundação de pesquisas Fundecitrus, que apontou uma queda produtiva anual de quase 25%, para 232,38 milhões de caixa de 40,8 kg, em maio.

“Vai ser uma safra mais difícil, a gente acredita que vai ser assim… A gente tenta maximizar os resultados, mas obviamente estamos sujeitos às mudanças climáticas, o que vai impactar a Citrosuco também”, declarou ele.

A fala foi feita durante evento promovido pela empresa para apresentar uma nova metodologia para monetizar os créditos de carbono obtidos com lavouras perenes, como laranja, café, cacau e outras frutas.

Com a iniciativa, a companhia líder da indústria produtora de suco de laranja no mundo quer reforçar que o “protagonismo” do Brasil está associado também aos “seus valores de sustentabilidade”, destacou Abud, que comanda uma empresa com cinco terminais portuários, incluindo infraestruturas nos principais destinos importadores, como Wilmington (EUA), Ghent (Bélgica), Toyohashi (Japão).

Enquanto trabalha em iniciativas que amenizem as mudanças climáticas, a Citrosuco lida com uma previsão de safra que seria uma mínima de 36 anos na região citrícola que já chegou a produzir quase o dobro dos volumes atuais, há pouco mais de 20 anos.

Sobre os impactos severos do clima, o executivo lembrou que em algumas microregiões a temperatura neste ano ficou 5 graus acima da do ano anterior, o que leva a empresa considerar novos projetos com irrigação, para minimizar o efeito do tempo adverso nas produtividades.

“Hoje já fazemos projetos contemplando irrigação para ter uma planta mais resiliente”, disse ele.

Abud lembrou que a indústria ainda busca variedades de plantas mais resistentes ao calor e também ao greening, que pode reduzir acentuadamente as produtividades em uma planta afetada pela doença por mais tempo.

Uma alternativa recomendada para combater a doença é a extirpação dos laranjais doentes, mas com os preços do suco de laranja congelado e concentrado em patamares acima de 4,30 dólares por libra-peso, após uma máxima histórica de cerca de 4,70 dólares ao final de maio, alguns produtores acabam mantendo os pomares enquanto podem.

No caso da Citrosuco, que conta com 28 fazendas próprias com cerca de 73 mil hectares, que respondem por cerca de 40% da fruta processada — os outros 60% vem de fornecedores –, as alternativas para combater o greening incluem diversas técnicas de manejo.

Entre elas está a renovação das lavouras. A Citrosuco planta por ano o equivalente a entre 5% e 10% de sua área total, substituindo os pomares mais velhos e menos produtivos, revelou o executivo.

Na avaliação dele, aliás, o Brasil vem sendo menos atingido pelo greening do que outros países, como os EUA, por suas técnicas de manejo. “Veja a Flórida, já produziu perto de 200 milhões de caixas há 20 anos, está produzindo agora 12, 15, 20 milhões de caixas. O Brasil chegou em pico produtivo de 400, no ano passado foram 300 milhões de caixas, ou seja, teve queda, mas em proporção muito menor, em função da boas práticas de manejo”, comentou.

Segundo o executivo, “nada funciona sozinho”. Ele citou que a Citrosuco utiliza também o controle biológico, com vespas que atacam o inseto psilídeo, vetor da bactéria causadora da doença.

MIGRAÇÃO

Assim como outras indústrias, como a Cutrale, a Citrosuco também está buscando regiões com menor pressão de greening, disse Abud, lembrando que a taxa de incidência da doença na principal região citrícola brasileira chegou a 38% em média no ano passado, com os maiores índices em São Paulo.

“Nós fomos no ano passado para Minas Gerais, com duas fazendas novas, um pouco mais acima das regiões que plantamos, e aí ganhamos tempo no ciclo do greening”, afirmou.

Esse movimento deixa a originação da fruta um pouco mais distante das indústrias processadoras, admitiu. A Citrosuco tem três plantas industriais, todas no Estado de São Paulo, com a de Matão sendo a maior processadora do mundo, além da de Catanduva e Araras.

“O Brasil oferece isso, o Brasil pode plantar laranja em várias regiões, diferentemente dos Estados Unidos. O Brasil tem o privilégio de poder viajar com a citricultura. Algumas regiões vão se desenvolver melhor, todo mundo está procurando, quando essas regiões se desenvolverem, aí muitos produtores vão migrar porque o mercado está favorável”, afirmou.

(Por Roberto Samora)

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