Os olhos todos do complexo soja estão voltados para a nova safra do Brasil diante dos desafios de clima que ainda estão sendo enfrentados pelos produtores, em especial da faixa central do país. Mato Grosso, o principal estado produtor do país, tem seus trabalhos de campo bastante atrasados por conta do tempo muito seco e quente. De acordo com dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária), apenas 2,09% das áreas previstas para a safra 2024/25 foram semeadas, abaixo da média das últimas cinco safras de 9,47% e do mesmo período do ano passado, quando o plantio estava concluído em 14,25% da área.
“Os volumes de precipitação observados na semana passada não
foram suficientes para atingir a umidade adequada ao cultivo na maior parte do estado, o que limitou o progresso da semeadura. Além disso, segundo informantes do Imea, alguns produtores arriscaram a semeadura no “pó”, devido à preocupação com a
segunda safra”, informou o reporte semanal do instituto.
A região Médio-Norte de Mato Grosso lidera os trabalhos de semeadura, com 3,33% de área plantada, e a mais atrasada é a Nordeste, com apenas 0,27%.
De acordo com os últimos dados da Pátria Agronegócios, o plantio brasileiro chegou, até a última sexta-feira (4), a 5,28% da área, registrando ainda bastante lentidão. Em 2023, o montante plantado chegava a 10,08%, em 2022 era de 11,15% e na média dos últimos 05 anos foi de 8,87% para este período do ano. O estado mais adiantado é o Paraná, com pouco mais de 26% de área plantada – já que por lá as chuvas se mostraram um pouco mais regulares do que nos demais estados produtores – seguido do Mato Grosso do Sul, com 5,4%; Rondônia com 5,1% e São Paulo com 4,8%. Os demais têm números ainda bastante incipientes.
“A lenta chegada de chuvas a região central brasileira mantém o menor avanço de plantio da série histórica, situação gerada principalmente pelo atraso observado no Mato Grosso. O Paraná segue liderando o avanço do plantio nacional em 2024”, detalha a Pátria.
Neste ambiente, mais do que a formação dos preços para a soja neste momento, o que mais exige atenção do produtor é a formação das chuvas. Enquanto o regime não se estabelece efetivamente, readequando as condições dos solos para que eles sejam ambiente saudável para as sementes, os negócios também caminham em um ritmo mais lento no mercado nacional, mesmo com os modelos meteorológicos convergindo para a chegada das chuvas ao Brasil Central nos próximos dias.
Números do Imea mostram ainda que a comercialização da soja 2024/25 no Mato Grosso chega a 33,03% da produção estimada em setembro.
“Com o início da semeadura em Mato Grosso e a incerteza quanto à produção da temporada, os produtores desaceleraram o ritmo da comercialização em comparação aos últimos meses”, complementaram os especialistas da organização. A média de preços no estado, de acordo com o último levantamento, estava em R$ 109,45 por saca, registrando um aumento de 2,10% em relação à semana anterior.
Como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, este é um cenário que estende seus reflexos também para as cadeias de milho e algodão – uma vez que o atraso no plantio da soja já está encurtando as janelas de ambas as culturas -, comprometendo também o fluxo dos negócios para as três cadeias, em especial para a oleaginosa.
“Um dos pontos importantes é a logística, porque é o mercado que evolui mais rápido em termos de farmer selling, de comercialização, de fluxo de exportação e oferta. Então, temos um desafio grande porque está bem atrasado. Há chuvas previstas, nos últimos dias choveu de forma bem mal distribuída e isso tudo vai trazer impactos para a precificação da soja no destino, quanto a China vai comprar nesta janela”, diz.
De janeiro a setembro do ano passado, “o Brasil foi bem grande, incomodou bastante os EUA durante esta janela”, e este ano tudo indica que com este atraso a demanda deverá ser um pouco menos presente neste intervalo em relação ao mesmo período de 2023. Ainda como relatou Vanin, de outubro do ano passado a fevereiro deste ano, o Brasil embarcou 25 milhões de toneladas de soja, contra cerca de 33 milhões dos EUA.
“O Brasil tirou dos EUA pelo menos de 7 a 8 milhões de toneladas, porque o normal para esta época, dos EUA, é algo entre 40 e 42 milhões de toneladas. Nesta temporada, pegando agora de outubro para frente, até fevereiro, com este ingrediente do atraso em Mato Grosso, há uma possibilidade do Brasil embarcar de 7 a 8 milhões de toneladas a menos e os EUA com o potencial de voltarem a embarcar de 40 a 42 milhões de toneladas. Com isso acontecendo, já teríamos de 80% a 82% do programa de exportações americano – que é de 50 milhões – já feito até na primeira semana de fevereiro, no primeiro semestre da temporada. Essa é uma notícia bem melhor do que foi o ano passado, e para completar, precisamos saber qual será o tamanho da demanda chinesa nesta janela”, detalha o analista, trazendo os impactos que o atual momento traria para os preços na Bolsa de Chicago.
Ainda como explica Vanin, “o chinês está tão preocupado quanto o produtor brasileiro. O produtor brasileiro querendo plantar, enquanto o chinês está preocupado em entender onde vai comprar sua soja entre janeiro e fevereiro, período em que está a China está bem descoberta ainda”.