A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) debateu, na quarta (6), os desafios para o escoamento da safra brasileira nos próximos anos, em audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado.
A assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação, Elisangela Pereira Lopes, apresentou os principais números que mostram o crescimento recorde da produção de grãos no país e os gargalos para escoamento dessa produção.
Segundo ela, a infraestrutura não tem acompanhado essa evolução, principalmente nos portos do Arco Norte, que por reflexo da grave seca que acometeu os rios da região, em 2023, alterou a logística de escoamento de boa parte da produção para os portos do Sul e Sudeste.
“Nas novas fronteiras agrícolas são produzidas quase 69% de toda a soja e milho do país, mas escoamos pouco pelos portos do Arco Norte, somente 34%. Em 2023 não tivemos a navegação pelos rios Madeira e Tapajós com a mesma potência que em anos anteriores. Isso fez com que a produção retornasse ao caminho maior e, talvez o mais caro, percorrendo mais de dois mil quilômetros para os portos do Sul e Sudoeste”, afirmou.
Elisangela destacou um indicador que mostra o crescimento da produção, acima do Paralelo 16, em 10,1 milhões de toneladas/ano de 2009 a 2023, enquanto a exportação ficou apenas em 3,9 milhões de toneladas no mesmo período.
“Isso significa uma diferença anual de 6,2 milhões de toneladas. É mais que a capacidade média de um terminal de uso privado – TUP e de uma estação de transbordo de carga – ETC. Então, isso mostra que a cada ano a capacidade de movimentação de carga pelo Arco Norte não consegue acompanhar o desempenho da produção”.
Para a assessora técnica, esses dados levantam uma questão que precisa ser respondida: como dar segurança jurídica e previsibilidade aos investidores?
“Os investimentos continuam acontecendo, mas quando a gente tem uma seca como a que aconteceu no verão amazônico, os investidores ficam temerosos. A previsibilidade implica em ter rios navegáveis, estradas com boas condições de tráfego, oferta maior de linhas férreas, porque as commodities precisam de transporte de alta capacidade para que o custo de transporte não seja tão elevado, como o observado no uso intensivo de caminhões em longas distâncias”.
Elisangela afirmou ainda que os portos do Arco Norte cresceram em 2023 em relação a 2022, mas ainda foi pouco se comparados aos portos do Arco Sul.
Armazenagem – A técnica também lembrou da importância da armazenagem para um melhor escoamento da produção. De acordo com ela, a capacidade de armazenagem cresceu 3,5% ao ano e a produção 5,3% em 2024, apresentando um déficit de 118,7 milhões de toneladas.
“Logística e capacidade de armazenagem não estão acompanhando a evolução cada vez maior da safra de grãos. Essas questões devem ser resolvidas, nas regiões de novas fronteiras agrícolas porque é onde a infraestrutura tem se desenvolvido menos. Precisamos pensar em como fazer isso com agilidade porque o agro não consegue mais esperar”.
O debate foi requerido pelo senador Jaime Bagattoli e teve a participação também de representantes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e a Associação de Terminais Portuários Privados (ATP).
Em suas considerações finais, Elisangela reforçou que o setor tem visto os esforços em melhorar a infraestrutura, com o lançamento de programas para garantir o escoamento da safra, porém, ainda muito aquém do que o agro necessita. Tratam-se de medidas emergenciais e não de planejamento a longo prazo.
“Por isso é importantíssimo que se acelere essas ações que estão voltadas principalmente para garantir a navegabilidade dos nossos rios. Somos eficientes da porteira para dentro, mas quando depende de um passo além da porteira, nós enfrentamos grandes gargalos que precisam ser equacionados com urgência”.