Especialista analisa safra de milho 2023/24, aponta perspectivas para 2024/25 e os principais desafios do setor

O início da safra brasileira de milho 2023/24 foi marcado por incertezas quanto à área plantada, devido à desvalorização dos preços no segundo semestre de 2024, que deteriorou a relação de troca com os principais insumos. No entanto, na reta final do período de definição por parte do produtor, a queda dos preços dos insumos combinada com uma breve reação dos preços internos do cereal, estimulou o plantio, reduzindo o impacto da queda de área na segunda safra. A área total de milho no Brasil diminuiu entre 4% e 5%, o que trouxe uma queda na produção.

Após um recorde de 137 milhões de toneladas na safra 2022/23, a Consultoria Agro do Itaú BBA estima uma colheita de 2023/24 em cerca de 122 milhões de toneladas, uma redução de 11%. “Embora a queda seja significativa, o volume deve ser suficiente para atender ao mercado interno e permitir exportações de aproximadamente 40 milhões de toneladas”, menciona Francisco Queiroz, responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA.

A colheita da segunda safra está quase concluída, com boas expectativas de produtividade em Mato Grosso, Goiás e Tocantins. No entanto, o excesso de calor e a falta de chuva no Sul do Mato Grosso do Sul e no Noroeste do Paraná resultaram em quebras importantes, afetando a produtividade média nesses estados. A projeção da Consultoria Agro do Itaú BBA para a segunda safra é de cerca de 96 milhões de toneladas, comparada a 107 milhões de toneladas no ano passado.

Nos EUA, a safra de milho 2023/24 alcançou quase 390 milhões de toneladas, estabelecendo um recorde histórico, apesar de condições climáticas não excepcionais. Com isso, o balanço global de oferta e demanda do milho melhorou, e o balanço americano se tornou mais confortável, mesmo com o aumento do consumo doméstico e das exportações em relação à safra anterior. “Esse panorama se traduziu em forte pressão para os preços do milho em Chicago, que cederam 32% no primeiro semestre em relação ao mesmo período de 2023. No Brasil, a desvalorização para os preços do milho foi menos intensa que a observada no mercado internacional”, aponta Queiroz.

Tomando como referência a praça de Sorriso (MT), as cotações no primeiro semestre apresentaram redução de 25% sobre o mesmo período do ano anterior. “A menor oferta da primeira safra ajudou a amenizar a redução dos preços internos em relação à CBOT”, menciona.

A safra 2024/25 já começou no Hemisfério Norte e as primeiras projeções indicam estabilidade no balanço global em relação à 2023/24. A produção mundial deve se manter em torno de 1,2 bilhão de toneladas, com um crescimento de 1% no consumo e nos estoques.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê aumento na produção de soja na China e no Brasil, enquanto os EUA e a Argentina devem enfrentar reduções.

2024/25

De acordo com Queiroz, o balanço global 2024/25 para o milho não terá a mesma folga observada na soja. “Com uma oferta americana menor, o saldo entre produção e consumo deverá cair de 19 milhões de toneladas em 2023/24 para oito milhões de toneladas em 2024/25, reduzindo a margem para quebras de safra nos principais produtores”, expõe.

Responsável pela cobertura das commodities de soja, milho e algodão da Consultoria Agro do Itaú BBA, Francisco Queiroz: “Expectativa de grandes safras de soja e milho para 2024/25 coloca uma pressão adicional sobre a logística interna, aumentando o risco de atrasos logísticos e pressão contínua na cadeia de suprimentos” – Foto: Arquivo pessoal

Safra americana

Para a safra americana de milho 2024/25, o USDA projeta uma produção de 383,6 milhões de toneladas, uma queda de 1,6% em relação à safra 2023/24. A área plantada deverá ser reduzida em 3,3%, totalizando 37 milhões de hectares, devido à menor rentabilidade comparada à soja. No entanto, a produtividade deve aumentar 2%, alcançando 11,4 toneladas por hectare.

O ritmo de plantio nos EUA está abaixo do registrado em 2023, mas está dentro da média dos últimos anos e da janela considerada ideal. “Atualmente (início de agosto), 68% das lavouras de milho estão classificadas entre boa e excelente, 13 pontos percentuais acima do ano passado, o que indica boas perspectivas de produtividade. No entanto, as próximas semanas serão decisivas para confirmar o potencial produtivo das lavouras”, ressalta o profissional.

Apesar da previsão de menor produção, o balanço de oferta e demanda de milho nos EUA deve se equilibrar na safra 2024/25, com um estoque inicial 38% maior, resultando em um estoque final estimado em 53,3 milhões de toneladas, 11,7% acima da safra anterior. A relação estoque/uso deve aumentar de 12,6% para 14,1%, o que deverá continuar pressionando os preços do milho em Chicago durante este ano.

Safra chinesa

Segundo maior produtor global e grande importador do cereal, a China deverá crescer 1% na produção de milho, chagando a 292 milhões de toneladas, com uma expansão de cerca de 500 mil hectares na área plantada para a safra 2024/25, segundo projeções do USDA.

A grande questão é o nível de importação da China. Alguns agentes de mercado acreditam que o país vai importar somente 7,3 milhões de toneladas, enquanto o USDA estima 23 milhões de toneladas e o Ministério da Agricultura da China prevê 13 milhões de toneladas. “Essa diferença nas projeções pode complicar o mercado para o Brasil, especialmente com a Argentina, que recentemente obteve acesso ao mercado chinês para seu milho”, avalia Queiroz, frisando que a menor demanda da China poderia pressionar ainda mais o mercado global e afetar as exportações brasileiras.

Safra brasileira

Para a safra brasileira de milho 2024/25, o USDA projeta uma produção de 129 milhões de toneladas, considerando um aumento de 800 mil hectares (+3,7%) na área plantada e uma leve melhora na produtividade. A Consultoria Agro do Itaú BBA estima um crescimento de 3% na área total, chegando a 22,1 milhões de hectares, e uma produção de 125 milhões de toneladas, três milhões de toneladas a mais em relação à safra anterior.

Queiroz chama atenção para o cenário climático, especialmente com a formação da La Niña. De acordo com ele, a previsão é de um fenômeno de fraca intensidade, mas se a La Niña se fortalecer, pode haver impacto nas safras, principalmente na primeira safra do milho em estados do Sul, como o Rio Grande do Sul.

Segundo o profissional, nos próximos meses os preços internos do milho devem permanecer acima da paridade de exportação, com o mercado interno pagando prêmio para garantir o milho para processamento. “Apesar da oferta maior projetada para 2025, o crescimento do consumo deve manter o balanço interno de oferta e demanda equilibrado, evitando quedas significativas nos preços domésticos”, estima.

Outros fatores conjunturais, como o câmbio e o preço externo, podem exercer influência nas cotações. O movimento recente de valorização do dólar frente ao real impactou positivamente a formação do preço interno. “A estrutura da curva dos preços futuros em Chicago apresenta valorização dos vencimentos mais longos, diante de uma expectativa de menor produção para os EUA, o que tende a favorecer a formação dos preços no Brasil”, aponta Queiroz, enfatizando que a curva de preços futuros da B3 apresenta o mesmo desenho, com os contratos mais longos mais caros que os contratos mais curtos, acompanhando o carrego da CBOT e do dólar.

Queda dos custos amplia margem dos produtores

Para a safra 2024/25, a Consultoria Agro do Itaú BBA prevê que as margens da cultura do milho permanecerão comprimidas, embora melhores do que as da temporada 2023/24. No entanto, ainda estarão significativamente abaixo dos níveis observados em 2020/21 (53%) e 2021/22 (58%). Apesar da redução dos custos de produção, os preços deverão se manter em níveis mais baixos.

O custo com fertilizantes deve diminuir cerca de 25%, impactando positivamente o custo operacional, que se projeta cair em torno de 6% em relação à safra 2023/24. No entanto, nas últimas semanas, os preços internacionais dos fertilizantes subiram consideravelmente, com o MAP e a ureia registrando as maiores altas, enquanto o KCl se manteve mais estável. “Essas elevações são atribuídas a desequilíbrios entre oferta e demanda interna e a problemas na oferta de grandes fornecedores globais. Isso tem agravado a relação de troca entre fertilizantes e milho, o que pode levar alguns produtores a enfrentar custos mais altos do que o previsto”, ressalta Queiroz.

Além disso, o analista de mercado afirma que a expectativa de grandes safras de soja e milho para 2024/25 coloca uma pressão adicional sobre a logística interna, aumentando o risco de atrasos logísticos e pressão contínua na cadeia de suprimentos.

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