Fretes: Quebra na safra de grãos deixa perspectiva de preço mais favorável para escoamento na safra 2023/24

A iminente quebra na safra 2023/24 de grãos do Brasil já faz com que as perspectivas relacionadas aos custos de fretes sejam alteradas. É o caso do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG) que, no final do ano passado, estimava que os preços dos fretes rodoviários saltassem até 20% neste início de 2024 ante 2023. Agora, a entidade espera preços estáveis a no máximo 10% mais altos.

“Com as novas revisões de safra, talvez, esse reajuste não seja tão grande neste início de 2024 [momento em que historicamente os preços são mais altos]. Esperamos fretes de 5% a 10% maiores em relação ao ano de 2023 na primeira safra”, afirma Fernando Bastiani, um dos coordenadores do levantamento do ESALQ-LOG. Na rota Sorriso-Miritituba, os preços do frete, segundo o grupo, estavam em cerca de R$ 315 em fevereiro de 2023.

Bastiani explica que, devido ao atraso no plantio da soja na safra 2023/24 e, consequentemente, da colheita, que ainda caminha lentamente no país, o pico de frete no Brasil neste ano de 2024 tende a ser em março e não no início de fevereiro, como costuma ocorrer. “Apesar da quebra esperada na soja, a safra ainda será grande, o que deve manter os preços próximos ou até superiores em relação a 2023”, destaca o especialista.

“O preço do frete tem caído forte pelo país. Infelizmente, com essa produção bem abaixo do esperado e produtividade muito aquém que já é vista em Mato Grosso, vai ter uma menor demanda por frete rodoviário no país nesse primeiro bimestre”, afirma Thiago Davino, analista de mercado da Agrinvest. Nas análises da consultoria, uma rota tradicional aos produtores de soja, Sorriso-Paranaguá, o custo caiu de R$ 500 para R$ 350 neste momento.

O analista acrescenta que, além da perspectiva de menor demanda, o preço do óleo diesel, reajustado pela Petrobras para baixo nos últimos meses, também impacta. “Nessa perspectiva, começamos a ter um quadro um pouco melhor em termos de custo logístico no Brasil e isso tenderá em algum momento a melhorar um pouco o preço para o produtor, apesar de todo esse cenário de dificuldade muito impactado pela demanda chinesa”, acrescenta Davino.

Normalmente, Mato Grosso é o primeiro estado a colher soja e dita como será a logística da safra nas outras regiões do país. “Nos meses de janeiro e fevereiro, os caminhões de várias regiões vêm para cá fazer a safra e depois voltam para seus estados. Este ano, porém, o clima trouxe diversas irregularidades, fazendo com que não haja uma concentração da demanda em um momento específico. Será algo mais diluído”, afirma Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística.

“Nessa dinâmica, os fretes não terão razão para subir. Portanto, vejo para esta safra 2023/24 de soja valores bastante semelhantes aos que eram praticados em novembro e dezembro do ano passado, em média, em US$ 80 na rota Sorriso-Santos (cerca de R$ 390, na cotação de hoje, de R$ 4,90 do dólar comercial) e, até Miritituba, próximo de US$ 55 (R$ 269,50)”, ressalta Ferreira.

ROTA PREÇO MÉDIO
COMO ERA
PREÇO
COMO ESTÁ/FICARÁ
Sorriso-Miritituba
(ESALQ-LOG)
R$ 317,27 R$ 280,43
Sorriso-Paranaguá
(Agrinvest)
R$ 500 R$ 350
Sorriso-Santos
(Pró-Logística)
R$ 390 Estável
Sorriso-Miritituba
(Pró-Logística)
R$ 269,50 Estável

Osmar Frizzo, produtor de soja na cidade de Querência (MT), conta que os preços de fretes recuaram forte na região neste momento de entressafra, indicando uma tendência de preços mais amenos nas próximas semanas, no pico de escoamento. “O pessoal da logística está se preparando para entrar na safra, mas está devagar. Os preços estão baixos e estão reclamando bastante no setor logístico”, afirma.

Em determinados momentos do ano de 2023, as safras de soja e açúcar chegaram a competir nos portos. No entanto, diante dessa perspectiva de escoamento mais espaçado da nova safra da oleaginosa, não há grandes preocupações. Muito açúcar ainda está sendo escoado nesses meses de entressafra do país. “Ainda há bastante estoque de açúcar nas usinas, e que deve ser escoado até o início da próxima safra em abril, indicando maior demanda por transporte”, diz Bastiani.

O QUE MAIS DEVE IMPACTAR OS FRETES NESTE ANO?

Depois de um ano de 2023 com diversas oscilações de preços do diesel, o que impactou e muito os preços dos fretes no país, 2024 também começa mais ameno em relação a esse indicador, já que os preços internacionais do petróleo estão mais baixos, segundo o diretor executivo do Movimento Pró-Logística. “O que vamos ter que olhar é o caso do biodiesel, que terá seu percentual elevado no diesel. Além disso, haverá aumento do ICMS, então pode ser que o governo faça alguma ação para não elevar tanto o preço, que já está no limite”, explica.

Já Bastiani acrescenta como atenção para 2024 no cenário logístico o clima e como irá se comportar a demanda. “A seca pode afetar a navegabilidade interior do país, prejudicando alguns fluxos de exportação. E os fatores de demanda por transporte devem ter mais efeito nas precificações de fretes. O preço internacional do petróleo não deve apresentar grande volatilidade, mantendo os preços internos constantes e sem grandes preocupações”, destaca o especialista.

ANTT ALERTA PARA BAIXA REVALIDAÇÃO OBRIGATÓRIA DE CARGAS NO PAÍS

A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) também levantou preocupações neste início de ano sobre a baixa adesão da Revalidação Ordinária do Registro Nacional de Transportadores Rodoviários de Cargas (RNTRC), que é obrigatória e fundamental para manter a atuação no transporte de cargas do país. Os prazos para concluir a atualização variam entre janeiro e março de 2024, dependendo da categoria.

Das 591 Cooperativas de Transporte Rodoviário de Cargas (CTC), por exemplo, cujo prazo termina em 21 de janeiro, 332 ainda não realizaram a revalidação ordinária. Além disso, até a semana passada, apenas 10,8% das Empresas de Transporte de Cargas (ETCs) que precisam efetuar a revalidação concluíram o processo – prazo até 26/02 –. O número é ainda menor para a categoria Transportador Autônomo de Cargas (TAC), apenas 2,4% – até 22/03 –.

O não cumprimento das obrigações de Revalidação Ordinária pode resultar na suspensão do RNTRC e na aplicação de multas.

Além disso, nesta sexta-feira (19), a agência editou a resolução que dispõe sobre regras gerais sobre os pisos mínimos de frete rodoviário. Uma das alterações, diz respeito ao momento que os coeficientes dos pisos mínimos de frete serão reajustados.

As entidades que representam os principais portos do país foram procuradas, mas não retornaram aos contatos até o fechamento desta reportagem.

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