Por David Stanway
CINGAPURA (Reuters) – Metade das terras de pastagem natural do mundo foi degradada pela superexploração e pelo impacto das mudanças climáticas, colocando em risco a oferta de alimentos e meios de subsistência, disse nesta terça-feira o órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pelo combate à desertificação.
A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês) alertou que um sexto dos suprimentos de alimentos do mundo está em risco devido à deterioração das pastagens — que incluem savanas, zonas úmidas e desertos, além de pastos.
O crescimento populacional, a urbanização e o aumento da demanda por alimentos têm incentivado a criação de mais animais do que a terra pode suportar, além de impulsionar a conversão de pastagens naturais em terras de cultivo intensivo, o que têm levado ao declínio da fertilidade do solo e ao agravamento das secas, segundo o relatório.
Barron Joseph Orr, cientista-chefe da UNCCD, disse que, embora a situação seja desanimadora, há um reconhecimento cada vez maior de que a restauração da terra é parte da solução para as mudanças climáticas — com as pastagens sendo responsáveis por um terço da capacidade de reserva de carbono do mundo.
“As emissões são o grande problema, com certeza, mas onde queremos colocar o carbono — onde ele pertence naturalmente? Em nossos solos e em nossa vegetação, e se continuarmos a minar isso, estaremos minando nossa solução”, disse ele.
As pastagens constituem cerca de 54% do total de terras do mundo e sustentam dois bilhões de agricultores, pastores e pecuaristas, segundo o relatório da UNCCD.
A estimativa anterior de degradação era de 25%, mas a UNCCD disse que subestimou gravemente os danos causados e que o novo número é baseado em pesquisas de especialistas em mais de 40 países.
O relatório identificou a Ásia Central, a China e a Mongólia como as regiões mais atingidas, com a industrialização agrícola deslocando as comunidades tradicionais de pastores e exercendo maior pressão sobre os recursos. A África, o Oriente Médio e a América do Sul também sofreram degradação generalizada, segundo o relatório.
Orr disse que os governos precisam adotar uma abordagem mais conjunta para a proteção da terra, em vez de se concentrarem em projetos de restauração individuais. Ele também disse que as práticas tradicionais de pastoreio podem ajudar na recuperação das pastagens.
“Em geral, a maneira como as coisas eram feitas no passado, tradicionalmente, pode contribuir muito para as soluções que estamos tentando alcançar hoje”, disse ele.